23.12.09
2010
Haja um zeppelin disponível para algumas evasões, no meio do blitz económico e moral que se abateu sobre nós. Aos que não têm motor, desejo ventos de feição.
Ilustração: Fabiano Gummo
16.11.09
13.11.09
À Sónia, que tanto sonha
5.11.09
Ziguezague
3.11.09
Somos todos iguais nessa noite
2.11.09
30.10.09
26.10.09
O nosso veneno é verde, verde...
25.10.09
23.10.09
Embrulhada
22.10.09
Nesta selva não há leis
É sabido que o Carga de Trabalhos se transformou na lata do lixo da Comunicação
Ilustração de Tiago Albuquerque
21.10.09
20.10.09
Vestidas para matar
Em nome do senhor
"Que Ratzinger tenha a coragem de invocar Deus para reforçar o seu neomedievalismo universal, um Deus que ele jamais viu, com o qual nunca se sentou para tomar um café, mostra apenas o absoluto cinismo intelectual. (...) As insolências reacionárias da Igreja Católica precisam ser combatidas com a insolência da inteligência viva, do bom senso, da palavra responsável. Não podemos permitir que a verdade seja ofendida todos os dias por supostos representantes de Deus na Terra, os quais, na verdade, só têm interesse no poder."
José Saramago
O homem imperfeito
E aí está que os santanários ficam tão em brasa com as declarações de José Saramago como a turba se agrava com as pataratices de uma vedeta de TV brasileira. Tudo cabe no mesmo saco, com a mesma fome de carnificina. Nem vale a pena enunciar um par de diferenças fundamentais, mas neste caso seria desejável uma reacção inteligente, familiarizada com o pensamento e a postura pública do escritor. Claro está que não é a que que vemos ser explorada com grande alarido pelos meios de comunicação. Saramago gosta de torpedear a religião organizada e os seus representantes. É praticamente uma monomania. Mas tal é fruto do espírito inquieto e inconformado de um homem quase nonagenário que, à força de tão intensamente reflectir, questionar e interpretar a condição humana, acumula desilusão e amargura. E então, o que há de estranho na sua descrença? A cosmovisão de José Saramago não é uma excentricidade, é uma conquista. Triste, pessimista? É a dele. Qual é o seu crime, enquanto intelectual e escritor? Dizer o que pensa e, não raras vezes, a verdade? É impositivo, inconveniente, desagradável? É, e então? O PNR é uma manifestação escabrosa na sociedade portuguesa, com cartazes e tempo de antena. Reacções viscerais a esta vergonha, há? Quem não der valor a Saramago que o ignore, não se ponham é os arautos dos bons costumes e da salubridade moral a brandir tochas, entumescidos de raiva condenatória. Por pouco mais anda Salman Rushdie na clandestinidade há sei lá quanto tempo. O devir histórico matou as fogueiras mas não as apagou da consciência. Talvez Saramago, com o seu anticlericalismo absolutista (não está decerto contra qualquer tipo de espiritualidade ou mesmo religião per se; o senhor é ateu, ponto), se queira certificar de que as fogueiras permanecem apagadas. Milhares de anos de experimentação não corrigiram a intolerância. Saramago não é um portentoso exemplo de diálogo, mas a sua intransigência não condena ninguém e muito menos fecha a porta à interrogação.
16.10.09
A propósito da Professora Estina
(Textos assinados pelo coreógrafo Rui Horta, incluídos no programa de Scope)
15.10.09
Vidas lentas
Flagra: astro cometendo estupro!
Eu queria conseguir gostar de uma novela brasileira, já que em relação às portuguesas não há esperança. E como só tenho quatro canais e uma enorme necessidade de desligar o cérebro, como tanta gente, queria ter aquela horinha de indulgência doméstica. Fui atrás da publicidade da SIC e decidi sintonizar o folhetim “Viver a Vida”, que é escrito por aquele guionista que fez aqueloutra novela que era muito boa e mais não sei quê. Simplesmente, “Viver a Vida” tem inúmeros inconvenientes, um dos quais é parecer que se desenrola em tempo real. Uma prova de vestido em tempo real, um casamento em tempo real, leitura de mensagens SMS em tempo real, conversas de chacha em tempo real. Houve ali uma elipse para os protagonistas se casarem, mas, caraças, agora até fazem o amor em tempo real. Depois há esse mesmo problema. O dos protagonistas. Ora bem, há duzentos anos atrás, quando eu era puto, o José Mayer tinha quase a mesma cara, já era galã e não parecia propriamente novo. Hoje o senhor continua com bom ar, para um homem centenário, mas faz par romântico com uma actriz que tem idade para ser sua bisneta. As cenas românticas (que são tantas, muitas, tantas, em tempo real) constituem, consequentemente, um tratado de gerontofilia. Também não tem piada nenhuma a recriação de ambientes europeus “sofisticados” na estética cabaré-chique, com flutes reluzentes por todo o lado e covers foleiras do songbook clássico americano. Gosto de levar com aquele imaginário novelesco de bilhete postal em festa, tudo bem, vamos fingir que o Brasil é assim, mas não chega e acaba por cansar. Talvez o argumentista esteja no modo contemplativo, mas a coisa está a ficar pesada e, novela por novela, acho que prefiro as notícias na RTP2.
Próteses do ofício
Hoje fui confrontado com uma série de protocolos estabelecidos entre uma empresa e diversos prestadores de serviços, visando beneficiar, pois claro, os colaboradores. Havia um, em particular, com o seguinte headline: UMA PARCERIA COM VISÃO. A entidade em causa era uma rede de produtos oftálmicos. Apesar da vergonha vicária, pensei que, neste contexto das grandes empresas, seria bem menos cansativo debitar pensamentos lineares, em auto-gestão, sem ninguém ter que aprovar ou desaprovar coisa nenhuma. E até podia fazer umas coisas mais exigentes. Por exemplo: 1. Empresa de próteses e material ortopédico: UMA PARCERIA COM PERNAS PARA ANDAR; 2. Farmácia: ESTÁS DOENTE? TENS BOM REMÉDIO; 3. Funerária: PARA QUEM ESTÁ MORTINHO POR CHEGAR A CASA; 4. Vales de refeição: COME E NÃO CHORA; 5. Centros de formação: PARA O SABER NÃO OCUPAR O TEU LUGAR; 5. Material informático: COMPUTAS… OU NÃO
COMPUTAS?...; 6. Creches: UMA PARCERIA SEMPRE A CRESCER; 7. Seguro de saúde: PORQUE SABES O QUE TE ESPERA; 8. Entidades de crédito: APROVEITA O FANTÁSTICO PACK COM SEGURO DE SAÚDE INCLUÍDO; 9. Assistência médica ao domicílio: O DOUTOR TOCA SEMPRE DUAS VEZES; 10. Marcas automóveis: UMA PARCERIA SOBRE RODAS. Por aí.
13.10.09
Que delícia (p’rá fogueira)!
Continua a brindar-nos com o teu peculiar sentido de humor, pá, e vê se agora compram os teus folhetins eróticos na Guiné-Bissau. Do Palácio da Pena (onde vivia o Salazar) para baixo é que ardeu.
Ilustração de Luke Chueh
12.10.09
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Keep the fuck away from me
Quentes e boas
A vida segundo Vadim
O trabalho de ilustração do ucraniano Vadim Gannenko (também reputado designer) é absolutamente original. Gannenko tem uma forma única de reinterpretar a realidade com ironia e inquietação, onde nada é o que parece, nem temática nem figurativamente.
O pormenor, a cor e a coerência dos seus trabalhos, que podem ser lidos como uma tela in continuum, fazem dele um dos melhores profissionais da actualidade. Partilho para dar um incentivo aos meus irmãos (continuem a fazer bom trabalho... e mostrem-no). E porque dão uma sequência bestial.
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