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30.11.12

Hard copy 66


Ora aqui está um caso sério de boa publicidade. O tipo de comunicação sofisticada que só um gestor de eleição poderia produzir, depois de deglutir o belo naco do cachaço, exactamente entre um reconfortante peido neoliberal, a baba de camelo à casa e uma charutada a rematar, satisfeito por ter despachado a equipa de comunicação. Na agência (?) dizem-lhe que o seu arrojo sabe a maminha da alcatra e a coisa sai, espessa e retumbante, na net e e na imprensa escrita, deixando um inconfundível gosto a grossura. Se comprar o carro vou ter de lhe pendurar algures o poster desbotado de uma serrana mamalhuda, enquanto palito os dentes com a unhaca do mindinho. E vou parar forçosamente numa estação de serviço ribatejana para comprar um pack de cassetes de anedotas porcas e música ao (es)gosto popular, com as quais arruinarei o moderníssimo leitor de CD. Ao chegar a casa gravitarei como uma mosca para os pré-gravados da Casa dos Segredos, de modo a não perder os melhores momentos de pintelheira a passar de boca em boca, revendo-me no desafio épico da articulação verbal e sentindo vibrar em mim o mesmo ADN bovino. Tudo para estar à altura desta carrinha. Quem diria que uma simples frase seria capaz de tanto?

5.4.12

Extremo pé esquerdo

  
Rui Moreira, aqui iluminado pela direita.

Rui Moreira, ao comentar a actualidade política portuguesa no Hoje da RTP2, muito austero e com aquele ar levemente contrariado, para além de dizer “repare” muitas vezes, também gosta de se referir ocasionalmente à “extrema esquerda”. Repare, a linha pronunciada do seu queixo confere-lhe uma seriedade a ter em conta quando dribla habilidosamente as perguntas que o comprometem. Essa questão não se coloca, repare, há vozes dissonantes que se comprazem em criar ruído em torno destes assuntos, não é uma problemática de certo ou errado, é provável que a intenção não fosse essa, se observarmos cautelosamente tiraremos ilacções diferentes, não é uma medida inadequada se tivermos em conta que este executivo se tem pautado pela coerência. E pimba, lá vem a extrema esquerda, que é aquele conceito inventado pela direita mais conveniente que obstinada, a plantar foices e martelos à medida do discurso e a evocar as sobrancelhas de Cunhal para meter medo ao vulgo. Ó senhor, a esquerda estrebucha diariamente no lodo neoliberal, onde a sua modéstia interventiva é pautada pela incoerência frequente e por uma tentativa auto-sabotada de manter a dignidade. Não vale a pena puxar a corda argumentativa ao ponto do risível. Quem é que, na era da multiplicação virtual e da dissolução ideológica, ainda acredita nisso? A “extrema esquerda” foi um ar que lhe deu há mais de trinta anos e a sua descendência está senil há pelo menos quinze. Por favor prossiga para um argumentário mais consentâneo com a espectacularidade pretendida. Veja bem, não há nada de mais extremo do que a direita do momento: romanesca, espalhafatosa e trágica.

14.12.11

Sabor a sucesso

 Chispe de coentrada

 Ana Malhoa

No outro dia dei casualmente com esta besta sensual a "actuar" na TV, num programa qualquer que devia ter "Portugal" no nome. A distinção entre número musical e rubrica culinária dar-se-á de forma difícil no entendimento de quem assiste a tal fenómeno, pois são inegáveis as semelhanças entre a Ana Malhoa (aqui invulgarmente tapada na capa de uma colectânea de êxitos volumosos) e um prato de chispe de coentrada.

11.3.10

História interminável


Tozé Martinho Ah, maroto, foste tu que começaste tudo!
Eis que se aproxima mais uma novela da TVI. A 82ª em 4 anos. Não sei como se chama, vi uma promoção no canal num dia de zapping desafortunado. Tem um nome genérico qualquer, provavelmente pilhado a um artista de soft-pop português, daqueles talentos rançosos com um pé na música pimba e outro no esquecimento. Presumo que inclua os vocábulos "mar" e "amor", o que resta deve andar entre "meu", "minha", "tua", "teu", "nós", "verdade", "mentira" e "vida". E penso que cobri o espectro todo. Os focus groups do audiovisual servem basicamente para fazer listagens de canções do Paulo Gonzo ou do Ricardo Landum (mítico fundador dos estúdios Aiksom). Se não houver nada que se ajeite ao meio-conceito a explorar em toda a ficção da casa, faz-se scrabble com meia dúzia de palavras e depois escolhe-se a moçoila que se vai despir no genérico. A novela em causa é protagonizada pelo Rogério Samora, o Tarcísio Meira português, uma lorinha que já teve sobrancelhas de má mas agora faz voz de boazinha, e um indivíduo que tem menos carisma no esqueleto todo do que o rapaz do gongo dourado tinha no seu, hum, gongo, em pleno esplendor. Este actor, vá, é especialmente curioso, porque, por mais papéis que lhe dêem, representa sempre com a convicção de uma anona decorativa e a subtileza de um ataque de gota. Deve ser realmente muito popular junto da sopeirada nacional. Deve vender, sei lá, t-shirts e canecas com fartura. É que até o Rodrigo Guedes de Carvalho, numa fugaz aparição (hoje de culto) na primeira Vila Faia, suplantava em presença e domínio técnico este José Carlos artolas qualquer coisa. Ah, ainda bem que temos a TVI para promover a genuína mercadoria nacional. Cada um tem o que merece, e quem vê a TVI merece de certeza levar com isto.

15.10.09

Vidas lentas



Flagra: astro cometendo estupro!

Eu queria conseguir gostar de uma novela brasileira, já que em relação às portuguesas não há esperança. E como só tenho quatro canais e uma enorme necessidade de desligar o cérebro, como tanta gente, queria ter aquela horinha de indulgência doméstica. Fui atrás da publicidade da SIC e decidi sintonizar o folhetim “Viver a Vida”, que é escrito por aquele guionista que fez aqueloutra novela que era muito boa e mais não sei quê. Simplesmente, “Viver a Vida” tem inúmeros inconvenientes, um dos quais é parecer que se desenrola em tempo real. Uma prova de vestido em tempo real, um casamento em tempo real, leitura de mensagens SMS em tempo real, conversas de chacha em tempo real. Houve ali uma elipse para os protagonistas se casarem, mas, caraças, agora até fazem o amor em tempo real. Depois há esse mesmo problema. O dos protagonistas. Ora bem, há duzentos anos atrás, quando eu era puto, o José Mayer tinha quase a mesma cara, já era galã e não parecia propriamente novo. Hoje o senhor continua com bom ar, para um homem centenário, mas faz par romântico com uma actriz que tem idade para ser sua bisneta. As cenas românticas (que são tantas, muitas, tantas, em tempo real) constituem, consequentemente, um tratado de gerontofilia. Também não tem piada nenhuma a recriação de ambientes europeus “sofisticados” na estética cabaré-chique, com flutes reluzentes por todo o lado e covers foleiras do songbook clássico americano. Gosto de levar com aquele imaginário novelesco de bilhete postal em festa, tudo bem, vamos fingir que o Brasil é assim, mas não chega e acaba por cansar. Talvez o argumentista esteja no modo contemplativo, mas a coisa está a ficar pesada e, novela por novela, acho que prefiro as notícias na RTP2.

28.3.09

Roma



E por falar nisso... Rome não era a série que eu esperava: sangue, sexo e togas. Sei que já deu na RTP2 e antes disso no cabo e que os serialistas já viram tudo o que havia para ver; enfim, os pelintras de vez em quando sacodem o torpor imposto pela rotina e usufruem das aquisições de amigos mais curiosos. Heroes foi uma banhada, desisti ao 7º ou 8º episódio, quando já não havia horda de argumentistas que fizesse sentido daquele conceito. Agora, Rome... Não houve até agora um episódio que me desagradasse. Já nem me lembro há quanto tempo uma série me agarrava assim. É tudo bom, desde os valores de produção, geridos com cautela para que não pareça mais do que é nem menos do que merece, aos actores, passando, claro, pelos argumentos, escritos por diversas mãos competentes sob a batuta de John Milius. Perdoo os excessos no departamento erótico, sobretudo quando já se percebeu a ideia e a acção até avançava, os egípicios de perfil britânico e a voz de hélio de Cleópatra... Mas até quando é mau é bom, nunca deixa de entreter, de informar e de entusiasmar. Um bom compromisso entre comércio e cultura, sem dúvida. Ultimamente, ao fim do dia, todos os caminhos lá vão dar.

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