26.10.09

O nosso veneno é verde, verde...

Vasco Pulido Valente já foi aqui referido mais do que uma vez, tanto a propósito da personalidade quezilenta quanto da oportunidade da sua escrita. Mas as suas capacidades analítica e sintética são toldadas pelo espírito arruaceiro e por um ódio atávico a todas as coisas vermelhas (zeze-zeze-zeze) e proletárias, com base nesse firme argumento de que, por trás de um escritor de esquerda não academicista está sempre um vil, porém insignificante, agitador. Arruaceiro erudito, entenda-se, molhando a pena na vinagreira das suas convicções e expelindo-as com a mesma veemência de um refluxo gastroesofágico. Entre todos os intelectuais de direita, Pulido ganha a palma do ressaibo: não é protagonista político, nem autor reconhecido, nem líder de opinião. Houvera capacidade física para o ouvir nas jornaladas da Moura Guedes e até se podia ter retido qualquer coisa, mas com um timbre de enceradora e a fluidez articulatória de uma moreia, só restou a Vasco refugiar-se naquilo que faz melhor: a crónica caceteira. Isto a propósito do seu espaço habitual no Público, às 6ªs feiras, onde (na peça de 23/10), a pretexto de desvalorizar as declarações de José Saramago e de criticar uma nação que se dedica a explorar fogosamente todas as irrelevâncias a que deita mão, arrepanha as entranhas com todo o rancor e veneno que dedica ao autor em causa, à esquerda, ao PREC, ao Nobel e até, possivelmente, a alunos do politécnico (especialmente de marcenaria) que cometam a ousadia de vir a escrever romances. Premiados. Vasco… és o maior.

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