16.10.09

A propósito da Professora Estina



Quem és tu quando e onde me olhas? Quem sou eu quando te dou tempo para parares em mim o teu olhar? Como iremos usar os minutos preciosos que o nosso encontro durou? Será que essa mão estendida me quer realmente acolher? Porque não me deixas agora partir? O corpo, no qual ainda hoje nos recolhemos, é a dobradiça da porta que se abre e fecha, o ponto onde cruzamos o dentro e o fora, aquilo que vemos e sentimos. É esse, e apenas esse, o território do encontro.

Os intérpretes descobrem-se a si mesmos e o público reinventa o ângulo de visão. “Como és” e não “quem és”. A enorme distância entre o “como” e o “quem” é a viagem da obra em busca do objecto o mais subjectivo de todos, o do desejo. “Vaivém” entre a razão e a emoção, a surpresa e o trompe-l’oeil. Percurso sinuoso, construção virtual habitada pelos nossos próprios fantasmas, funcionando como uma verdade, algo que desloca o “que vemos” para o “que queremos ver”. E que território de mal-entendido mais universal existirá que o do amor? Cada um verá o que entender, ou melhor ainda, entenderá à sua maneira aquilo que quer ver.

(Textos assinados pelo coreógrafo Rui Horta, incluídos no programa de Scope)

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