22.10.09

Nesta selva não há leis


É sabido que o Carga de Trabalhos se transformou na lata do lixo da Comunicação em Portugal. Genericamente falando, as ofertas de trabalho, chamemos-lhe assim, variam entre catrefadas de estágios não remunerados, numa investida sem precedentes de sôfrega exploração laboral, exigindo uma overdose de habilitações para um sem número de funções, visando um mais que certo degredo profissional; recrutamento de figuras de ficção que dão todo um novo e psicadélico sentido a multitasking – "procura-se designer e médico" é apenas o início; e postos de designação imprecisa, normalmente em inglês, com funções pitorescas e objectivos indecifráveis. Mas a coisa atinge um outro nível de incredulidade e baixeza com o anúncio ali plantado pela draftfcb Portugal, que anuncia estar a recrutar criativos no Brasil, num processo "orientado" por Edson Athayde. Um anúncio dirigido, imagino, às legiões de brasileiros que recorrem a essa bíblia dos bons empregos à procura de uma oportunidade neste abençoado país, e que exclui, acintosamente, qualquer brasileiro imigrado e, claro está, numerosos bons profissionais portugueses, desempregados ou em situação precária. Uma repuxada escarreta na cara de um mercado que está como está, num país que é o que é e numa área da Comunicação (a publicidade) onde se entra pelo alçapão das traseiras vigiado por figuras dúbias. Estes espécimes contraem gonorreia mental na troca das suas ideias iluminadas e depois dá nisto. Quando pensávamos que depois do presente da brasileira Duda ao Pingo Doce e ao país – esse piquenicão de campanha que fez estremecer as fundações do ridículo – teria início uma revolta positiva, eis que isso é apenas um indício do iminente apocalipse. Uma coisa que o Tio Olavo não disse a Edson, enquanto o sodomizava, é que não é bonito fazer o mesmo a quem o acolhe e lhe dá oportunidades. A fama que por cá granjeou dizimou, pelos vistos, a réstia de consciência que por ali andava.

Ilustração de Tiago Albuquerque

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