28.10.11
Hard copy 47
Podia ser a gozar, mas o melhor de tudo é que não é. Merchandise disponível online em sites devidamente abençoados. "Go Make Disciples" arrisca-se a ser, desde já, um clássico moderno. Estou convertido à eficácia minimalista da boa-nova.
27.10.11
26.10.11
A Insustentável Leveza do Esterco
A história de um amor proibido.
Baseado na obra imortal de Mendes Bota.
Também estrelando:
A Constituição da República Portuguesa como "Madame do Cais do Sodré"
21.10.11
Strange fish
You’re such a strange fish
swimming cowardly in the stream
Yet so upwardly mobile
As nature must have intended
You once showed some potential
And intensely wore your beliefs
If there ever were any
Hey fish, behind your bourgeois malaise
But you could cast your spell
Learned to sell your outlook pretty well
Even if quite clear
It would never amount to much
Time would pass
And no matter what you’d do
You would always be you
Strange fish, spattering in atavism
Yet there was something
Behind your smoky green
Almost meaningful eyes
That was washed away for sure
Now my watery view of you
Can scarcely recall
Why were you ever an issue to begin with
It’s funny how weird you are
Swimming conveniently in the stream
Swimming to wherever natures intends you to be
Stranger than ever to me.
swimming cowardly in the stream
Yet so upwardly mobile
As nature must have intended
You once showed some potential
And intensely wore your beliefs
If there ever were any
Hey fish, behind your bourgeois malaise
But you could cast your spell
Learned to sell your outlook pretty well
Even if quite clear
It would never amount to much
Time would pass
And no matter what you’d do
You would always be you
Strange fish, spattering in atavism
Yet there was something
Behind your smoky green
Almost meaningful eyes
That was washed away for sure
Now my watery view of you
Can scarcely recall
Why were you ever an issue to begin with
It’s funny how weird you are
Swimming conveniently in the stream
Swimming to wherever natures intends you to be
Stranger than ever to me.
Desenho de Vija Celmins
Sad, but true
"Loneliness is the deal. Loneliness is the last great taboo. If we don't accept loneliness, then capitalism wins hands down. Because capitalism is all about trying to convince people that you can distract yourself, that you can make it better. And it ain't true."
Tilda Swinton
Ilustração: Eleonor Arroyo
20.10.11
Ver para crer
Vindo dos bancos acreditamos em tudo. Já ultrapassámos a fase do porco a andar de bicicleta. A banca estraçalhou a ingenuidade. Sempre houve muito mais circo que pão, parece que ninguém reparou até o porco cair do selim. Mas a tenda continua montada, e, com umas purpurinas, um slogan foleiro e a Hello Kitty, essa grande porca do desperdício industrial, se provoca o espanto no desenganado cidadão. Gastar milhares para espetar uma merda destas no epicentro da Lisboa armada em cagalhão com roupa fina poderia fazer sentido se soubéssemos a quem se destina. A gajas com subdesenvolvimento emocional? A capitalistas infanto-juvenis com falta de imaginação? A amantes bimbas dos senhores administradores? À Rita Pereira? Jesus Fucking Christ, lá dizia o filósofo! Mas pronto, se está a doer a uns é porque está a fazer bem a outros, de acordo com o outro, que também era filósofo, mas hedonista.
19.10.11
Propaganda e nostalgia
Motor - power forks - motion drive - motor forks - motion drive - motor forks - motion drive - power forks - motion drive - propaganda On joyless lanes we walk in lines a calm but steady flow. Accompanied by loud commands our strength is running low. Another hope feeds another dream another truth installed by the machine. A secret wish the marrying of lies today comes true what common sense denies. Rotating wheels are destiny in flame the city lies. Machines call out for followers far out into the night. The calls of the machines drowning in the steam. Another hope feeds another dream another truth installed by the machine. A secret wish the marrying of lies today comes true what common sense denies. The calls of the machines drowning in the steam. On joyless lanes we walk in lines a calm but steady flow. Our strength is running low. Another hope - another dream - another truth - installed by the machine - installed by the machine.
Propaganda, "P-Machinery", 1985
A melhor colheita
No firmamento de Hollywood, que é como quem diz, na consciência cinéfila universal, existe um lote reduzido de actrizes que, por força do mérito e das circunstâncias, conseguiram construir carreiras firmes e unanimemente respeitadas, em papéis protagonistas ou secundários, colocando consistentemente o seu talento em evidência. Quase todas beneficiaram de colaborações com bons realizadores e bons argumentistas, para além de um apoio quase incondicional da crítica e dos seus pares, mas muitas vezes o seu talento elevou o interesse de um filme menor. Ninguém atinge este estatuto por acaso. Discernimento e um bom agente são factores decisivos. As escolhas que se fazem em busca de um sucesso de grande escala e a excessiva preocupação na construção de uma imagem, não apenas condicionam grandemente a evolução e a liberdade de um actor, como determinam a longevidade da sua carreira. Entre as actrizes que se encontram em actividade com uma patine de prestígio árdua e inteligentemente conquistada contam-se profissionais como Meryl Streep, Vanessa Redgrave, Frances McDormand, Susan Sarandon, Helen Mirren, Emma Thompson, Glenn Close, Joan Allen, Kate Winslet, Annette Bening, Judi Dench, Cate Blanchett, Jodie Foster, Diane Keaton, Julie Christie, Maggie Smith, Gena Rowlands, Tilda Swinton, Isabelle Huppert, Ellen Burstyn, Laura Linney, Isabelle Adjani, Julianne Moore, Anjelica Huston e Kristin Scott Thomas.
As actrizes que este post destaca correspondem, em boa medida, ao perfil acima traçado, encontrando-se claramente na curva ascendente para o altar das consagradas. Algumas abraçam o jogo da fama e beneficiam dos seus dividendos dentro e fora do ecrã, outra não terão tido as oportunidades desejáveis ou desejadas, outras ainda terão optado por um trajecto mais discreto, longe das garras dos grandes estúdios. Em comum têm um talento admirável e demonstram um investimento consistente nos seus desempenhos, algo não necessariamente característico de estrelas de cinema, mas sim de grandes intérpretes.
Naomi Watts
Os muitos anos a penar em produções menores acabaram por ser recompensados por um eclodir tardio pelas mãos de David Lynch, em Mullholland Drive. Todo o seu potencial foi confirmado em 21 Grams, King Kong e The Painted Veil.
Rachel Weisz
A sombra de Kate Winslet na disputa pelo trono de melhor actriz britânica da sua geração. Talvez já merecesse estar uns graus acima, depois de trabalhos admiráveis em The Constant Gardener e The Shape of Things, mas um desempenho superlativo em The Whistleblower deve encarregar-se de lhe dar, por fim, a projecção merecida.
Vera Farmiga
Um crítico norte-americano chamou-lhe “our generation’s Streep”, mas os norte-americanos têm uma obsessão por rótulos e os críticos por encontrarem sucessores de tudo e mais alguma coisa. Vera Farmiga tem algo de muito de especial, é certo, o que a faz ser a Vera Farmiga da nossa geração. That’s good enough. Veja-se Running Scared, Down to the Bone e Higher Ground, que ela própria realizou. Muita gente a conhece de Up in the Air, mas há muito mais por descobrir.
Marion Cotillard
Uma rara beleza natural e uma espontaneidade desarmante não são suficientes para explicar o que diferencia Marion Cotillard. A intensidade do olhar, a subtileza das interpretações e a convicção que imprime a todas as personagens, por mais pequenas que sejam, estão a torná-la num novo ícone do cinema mundial. França é pequena demais para Marion. A ver: Un Long Dimanche de Fiançailles, La Môme e Nine.
Charlize Theron
Uma das actrizes do “sistema” que mais tem lutado contra a estereotipificação da (muito) bela de serviço, atirando-se de unhas e dentes a personagens difíceis, até agora com resultados impressionantes. Em Monster ofereceu-nos um desempenho assombroso, North Country marcou mais um passo na afirmação do seu talento e In The Valley of Elah estabeleceu-a como um nome indispensável no cinema actual. São precisos mais Monsters e menos Hancocks.
Emily Watson
Por qualquer razão estranha, este nome não é referido com a frequência desejada quando falamos de grandes damas do cinema. Hollywood parece não saber o que fazer com ela e o público tende a esquecer-se da portentosa actriz que Emily Watson é. Spielberg não, e talvez War Horse venha a fazer toda a diferença. Mas houve vida para além de Breaking the Waves, que a revelou (e vitimizou até à náusea). Veja-se Hillary and Jackie, Angela’s Ashes e Oranges and Sunshine.
Jennifer Ehle
Esta actriz britânica, depois de brilhar em Sunshine e Possession parece ter perdido (intencionalmente ou não) o comboio das boas oportunidades. Filha da grande Rosemary Harris, Ehle tem feito carreira no teatro e, ocasionalmente, na televisão, ressurgindo agora, com a mesma chama, em Contagion, de Steven Soderbergh.
Viola Davis
Veterena dos palcos e do cinema norte-americanos, Davis viu a sua grande oportunidade chegar quando John Patrick Shanley lhe ofereceu um papel fulcral na adaptação cinematográfica da sua peça Doubt. Depois disso passou de secundária sólida a reverenciada protagonista, nomeadamente no recente sucesso The Help. Antes desta fase vale a pena espreitar Antwone Fisher, de Denzel Washington.
Olivia Williams
Kevin Costner escolheu-a para protagonista feminina de The Postman, interminável estopada que não fez nada pela carreira da actriz. Rushmore viria a mudar o rumo das coisas e, depois de um período mais centrado na televisão, Williams afirmar-se-ia como uma notável actriz de cinema em An Education e, particularmente, em The Ghost Writer.
Kelly MacDonald
A escocesa Kelly MacDonald ainda não tem o reconhecimento que merece, mas, se houvesse justiça nas decisões de casting, depois de No Country For Old Men deviam estar a chegar-lhe todos os bons guiões. De Trainspotting a Gosford Park foi um longo percurso, sempre marcado pela qualidade, mas no filme dos irmãos Coen nasceu uma estrela. Ou deveria ter nascido.
Kerry Washington
Seguramente uma das mais subaproveitadas actrizes norte-americanas, Washington tem provado a sua versatilidade desde que Spike Lee lhe deu um papel de relevo em She Hate Me. As suas interpretações em The Last King of Scotland, Lakeview Terrace e Mother and Child confirmam que estamos na presença de uma das melhores intérpretes da sua geração.
Samantha Morton
Outra inglesa nesta lista, Samantha Morton tem optado por um percurso mais “offbeat”, escolhendo essencialmente projectos independentes (manifestamente mais interessantes), que colocam em evidência todo o seu potencial. Com um eterno ar de miúda, Morton começou por impressionar em Sweet and Lowdown e haveria de transcender o estereótipo da mulher frágil em filmes como In America, Control e The Messenger. Um dos talentos mais brilhantes a sair da Grã-Bretanha nos últimos anos, a par de Winslet e Weisz.
Emilia Fox
A filha do actor Edward Fox pode nunca vir a ganhar a exposição e o reconhecimento que o seu talento justificariam, até porque muita da sua carreira se tem desenrolado na televisão britânica, mas quem a viu em The Pianist, Cashback e Flashbacks of a Fool concordará que é uma actriz que tem tudo para ir muito mais longe: domínio técnico, carisma e beleza.
Kate Beckinsale
Não sei se Beckinsale merece estar nesta lista. Quem faz um pacto com o demónio (Michael Bay, Pearl Harbor), entra em Van Helsing e, logo de seguida, escolhe ser co-protagonista, se é que existe tal coisa, de uma comédia com Adam Sandler (Emily Watson fez o mesmo, mas às ordens de Paul Thomas Anderson, num filme a sério e com um papel) suscita sérias dúvidas quanto a uma carreira inequivocamente respeitada. No entanto, se por cada Underworld houver um Snow Angels, por cada comédia romântica genérica um Laurel Canyon e por cada presença nas revistas cor-de-rosa um Nothing But the Truth, Beckinsale tem hipóteses. Porque é, efectivamente, uma actriz de enorme talento.
As actrizes que este post destaca correspondem, em boa medida, ao perfil acima traçado, encontrando-se claramente na curva ascendente para o altar das consagradas. Algumas abraçam o jogo da fama e beneficiam dos seus dividendos dentro e fora do ecrã, outra não terão tido as oportunidades desejáveis ou desejadas, outras ainda terão optado por um trajecto mais discreto, longe das garras dos grandes estúdios. Em comum têm um talento admirável e demonstram um investimento consistente nos seus desempenhos, algo não necessariamente característico de estrelas de cinema, mas sim de grandes intérpretes.
Naomi Watts
21 Grams
Os muitos anos a penar em produções menores acabaram por ser recompensados por um eclodir tardio pelas mãos de David Lynch, em Mullholland Drive. Todo o seu potencial foi confirmado em 21 Grams, King Kong e The Painted Veil.
Rachel Weisz
The Whistleblower
A sombra de Kate Winslet na disputa pelo trono de melhor actriz britânica da sua geração. Talvez já merecesse estar uns graus acima, depois de trabalhos admiráveis em The Constant Gardener e The Shape of Things, mas um desempenho superlativo em The Whistleblower deve encarregar-se de lhe dar, por fim, a projecção merecida.
Vera Farmiga
Running Scared
Um crítico norte-americano chamou-lhe “our generation’s Streep”, mas os norte-americanos têm uma obsessão por rótulos e os críticos por encontrarem sucessores de tudo e mais alguma coisa. Vera Farmiga tem algo de muito de especial, é certo, o que a faz ser a Vera Farmiga da nossa geração. That’s good enough. Veja-se Running Scared, Down to the Bone e Higher Ground, que ela própria realizou. Muita gente a conhece de Up in the Air, mas há muito mais por descobrir.
Marion Cotillard
La Môme
Uma rara beleza natural e uma espontaneidade desarmante não são suficientes para explicar o que diferencia Marion Cotillard. A intensidade do olhar, a subtileza das interpretações e a convicção que imprime a todas as personagens, por mais pequenas que sejam, estão a torná-la num novo ícone do cinema mundial. França é pequena demais para Marion. A ver: Un Long Dimanche de Fiançailles, La Môme e Nine.
Charlize Theron
Monster
Uma das actrizes do “sistema” que mais tem lutado contra a estereotipificação da (muito) bela de serviço, atirando-se de unhas e dentes a personagens difíceis, até agora com resultados impressionantes. Em Monster ofereceu-nos um desempenho assombroso, North Country marcou mais um passo na afirmação do seu talento e In The Valley of Elah estabeleceu-a como um nome indispensável no cinema actual. São precisos mais Monsters e menos Hancocks.
Emily Watson
Oranges and Sunshine
Por qualquer razão estranha, este nome não é referido com a frequência desejada quando falamos de grandes damas do cinema. Hollywood parece não saber o que fazer com ela e o público tende a esquecer-se da portentosa actriz que Emily Watson é. Spielberg não, e talvez War Horse venha a fazer toda a diferença. Mas houve vida para além de Breaking the Waves, que a revelou (e vitimizou até à náusea). Veja-se Hillary and Jackie, Angela’s Ashes e Oranges and Sunshine.
Jennifer Ehle
Contagion
Esta actriz britânica, depois de brilhar em Sunshine e Possession parece ter perdido (intencionalmente ou não) o comboio das boas oportunidades. Filha da grande Rosemary Harris, Ehle tem feito carreira no teatro e, ocasionalmente, na televisão, ressurgindo agora, com a mesma chama, em Contagion, de Steven Soderbergh.
Viola Davis
Doubt
Veterena dos palcos e do cinema norte-americanos, Davis viu a sua grande oportunidade chegar quando John Patrick Shanley lhe ofereceu um papel fulcral na adaptação cinematográfica da sua peça Doubt. Depois disso passou de secundária sólida a reverenciada protagonista, nomeadamente no recente sucesso The Help. Antes desta fase vale a pena espreitar Antwone Fisher, de Denzel Washington.
Olivia Williams
The Ghost Writer
Kevin Costner escolheu-a para protagonista feminina de The Postman, interminável estopada que não fez nada pela carreira da actriz. Rushmore viria a mudar o rumo das coisas e, depois de um período mais centrado na televisão, Williams afirmar-se-ia como uma notável actriz de cinema em An Education e, particularmente, em The Ghost Writer.
Kelly MacDonald
No Country for Old Men
A escocesa Kelly MacDonald ainda não tem o reconhecimento que merece, mas, se houvesse justiça nas decisões de casting, depois de No Country For Old Men deviam estar a chegar-lhe todos os bons guiões. De Trainspotting a Gosford Park foi um longo percurso, sempre marcado pela qualidade, mas no filme dos irmãos Coen nasceu uma estrela. Ou deveria ter nascido.
Kerry Washington
Lakeview Terrace
Seguramente uma das mais subaproveitadas actrizes norte-americanas, Washington tem provado a sua versatilidade desde que Spike Lee lhe deu um papel de relevo em She Hate Me. As suas interpretações em The Last King of Scotland, Lakeview Terrace e Mother and Child confirmam que estamos na presença de uma das melhores intérpretes da sua geração.
Samantha Morton
In America
Outra inglesa nesta lista, Samantha Morton tem optado por um percurso mais “offbeat”, escolhendo essencialmente projectos independentes (manifestamente mais interessantes), que colocam em evidência todo o seu potencial. Com um eterno ar de miúda, Morton começou por impressionar em Sweet and Lowdown e haveria de transcender o estereótipo da mulher frágil em filmes como In America, Control e The Messenger. Um dos talentos mais brilhantes a sair da Grã-Bretanha nos últimos anos, a par de Winslet e Weisz.
Emilia Fox
Cashback
A filha do actor Edward Fox pode nunca vir a ganhar a exposição e o reconhecimento que o seu talento justificariam, até porque muita da sua carreira se tem desenrolado na televisão britânica, mas quem a viu em The Pianist, Cashback e Flashbacks of a Fool concordará que é uma actriz que tem tudo para ir muito mais longe: domínio técnico, carisma e beleza.
Snow Angels
Não sei se Beckinsale merece estar nesta lista. Quem faz um pacto com o demónio (Michael Bay, Pearl Harbor), entra em Van Helsing e, logo de seguida, escolhe ser co-protagonista, se é que existe tal coisa, de uma comédia com Adam Sandler (Emily Watson fez o mesmo, mas às ordens de Paul Thomas Anderson, num filme a sério e com um papel) suscita sérias dúvidas quanto a uma carreira inequivocamente respeitada. No entanto, se por cada Underworld houver um Snow Angels, por cada comédia romântica genérica um Laurel Canyon e por cada presença nas revistas cor-de-rosa um Nothing But the Truth, Beckinsale tem hipóteses. Porque é, efectivamente, uma actriz de enorme talento.
17.10.11
Acende aí o incenso, ó Zénite
Não será de propósito que mantenho em stand by indefinido uma formação na arte de meditar, mas os boletins informativos do centro onde pretendo fazê-la não tem contribuído muito para me dar alento. Entre títulos tão sugestivos (e confusos) como "Concerto Para O Amanhecer - Maravilhoso! Cada pássaro.....", onde, para ganhar expressividade, as reticências levam dois pontos adicionais, palavras de encorajamento do calibre de "(...) e que um dia venham a entender a linguajem dos pássaros" - pronunciar lingua[rr]em, à espanhola, para evocar o chilrrear - e textos como o que a seguir apresento, fico com receio de que a meditação cause danos no córtex frontal ou, no mínimo, estados de confusão profunda. Existirá por aqui alguma alusão velada à plutocracia e um incitamento à revolução; ou, pelo contrário, à resistência submissa, mas sem a parte da resistência; ou será uma legitimação mística da ganância e se amares o próximo geras amor e se amares banqueiros violentos ainda mais, porque geras dinheiro a prazo, com algum sacrifício pessoal?... Chiça, não são só os tibetanos que ficam com a língua de fora.
14.10.11
Porque as crianças merecem o melhor
Mais ou menos pela mesma altura descobri o maravilhoso mundo dos bolos de gomas (que pelos vistos levam palitos e esferovite para dar um encanto adicional à diabetes) sendo que esse nome não servia os propósitos desejados. Assim sendo, propus umas quantas versões que, surpreendentemente, não foram aprovadas:
Sonho de Gosma
Nheca de Corantes
Mixórdia de Açúcares Refinados e Conservantes Carcinogéneos
Doce Veneno
Nheca de Corantes
Mixórdia de Açúcares Refinados e Conservantes Carcinogéneos
Doce Veneno
Cocktail de Polissacarídeos
Desbunda de Ácido Carmínico
Explosão de Glicósido Fenólico
Alegria Alergénia
Apocalipse Nutricional
Estouro Metabólico
Devaneio Hiperglicémico
Coisa Má
Não, mas a sério, alguém dá isto a comer a uma criança?
Humor às fatias
Há tempos, por bizarras razões profissionais que às vezes comandam o meu quotidiano, andei a pesquisar sobre bolos. Mais concretamente, sobre aquelas confecções barrocas que recriam tudo e mais alguma coisa, de um relvado de futebol a uma fralda para incontinência. Desde que tenha cores berrantes, formas estranhas e, normalmente, um requintado mau gosto, vale tudo. Mas o que mais me agradou foi este exercício de sadismo (pouco) subtil, dirigido ao coração meigo e inocente da criança que pediu um bolo de aniversário em forma de personagem favorita. A mãe, orgulhosa, exibiu a sua obra num blog que dedica a estas delícias, documentando um detalhado processo de desmembramento. A senhora explica de passagem que o filho não entende o tipo de humor de Family Guy. Ela, porém, deve desfrutar quase tanto desta série quanto da sua dose semanal de Dexter.
13.10.11
15 de Outubro a Democracia sai à rua!
PROTESTO APARTIDÁRIO, LAICO E PACÍFICO
- Pela Democracia participativa.
- Pela transparência nas decisões políticas.
- Pelo fim da precariedade de vida.
MANIFESTO:
Somos “gerações à rasca”, pessoas que trabalham, precárias,
desempregadas ou em vias de despedimento, estudantes, migrantes e
reformadas, insatisfeitas com as nossas condições de vida. Hoje vimos
para a rua, na Europa e no Mundo, de forma não violenta, expressar a
nossa indignação e protesto face ao actual modelo de governação
política, económica e social. Um modelo que não nos serve, que nos
oprime e não nos representa.
A actual governação assenta numa falsa democracia em que as decisões
estão restritas às salas fechadas dos parlamentos, gabinetes
ministeriais e instâncias internacionais. Um sistema sem qualquer tipo
de controlo cidadão, refém de um modelo económico-financeiro, sem
preocupações sociais ou ambientais e que fomenta as desigualdades, a
pobreza e a perda de direitos à escala global. Democracia não é isto!
Queremos uma Democracia participativa, onde as pessoas possam intervir
activa e efectivamente nas decisões. Uma Democracia em que o exercício
dos cargos públicos seja baseado na integridade e defesa do interesse
e bem-estar comuns.
Queremos uma Democracia onde os mais ricos não sejam protegidos por
regimes de excepção. Queremos um sistema fiscal progressivo e
transparente, onde a riqueza seja justamente distribuída e a segurança
social não seja descapitalizada; onde todas as pessoas contribuam de
forma justa e imparcial e os direitos e deveres dos cidadãos estejam
assegurados.
Queremos uma Democracia onde quem comete abuso de poder e crimes
económicos e financeiros seja efectivamente responsabilizado por um
sistema judicial independente, menos burocrático e sem dualidade de
critérios. Uma Democracia onde políticas estruturantes não sejam
adoptadas sem esclarecimento e participação activa das pessoas. Não
tomamos a crise como inevitável. Exigimos saber de que forma chegámos
a esta recessão, a quem devemos o quê e sob que condições.
As pessoas não são descartáveis, nem podem estar dependentes da
especulação de mercados bolsistas e de interesses financeiros que as
reduzem à condição de mercadorias. O princípio constitucional
conquistado a 25 de Abril de 1974 e consagrado em todo o mundo
democrático de que a economia se deve subordinar aos interesses gerais
da sociedade é totalmente pervertido pela imposição de medidas, como
as do programa da troika, que conduzem à perda de direitos laborais,
ao desmantelamento da saúde, do ensino público e da cultura com
argumentos economicistas.
Os recursos naturais como a água, bem como os sectores estratégicos,
são bens públicos não privatizáveis. Uma Democracia abandona o seu
futuro quando o trabalho, educação, saúde, habitação, cultura e bem-
estar são tidos apenas como regalias de alguns ou privatizados sem que
daí advenha qualquer benefício para as pessoas.
A qualidade de uma Democracia mede-se pela forma como trata as pessoas
que a integram.
Isto não tem que ser assim! Em Portugal e no Mundo, dia 15 de Outubro
dizemos basta!
A Democracia sai à rua. E nós saímos com ela.
- Pela Democracia participativa.
- Pela transparência nas decisões políticas.
- Pelo fim da precariedade de vida.
MANIFESTO:
Somos “gerações à rasca”, pessoas que trabalham, precárias,
desempregadas ou em vias de despedimento, estudantes, migrantes e
reformadas, insatisfeitas com as nossas condições de vida. Hoje vimos
para a rua, na Europa e no Mundo, de forma não violenta, expressar a
nossa indignação e protesto face ao actual modelo de governação
política, económica e social. Um modelo que não nos serve, que nos
oprime e não nos representa.
A actual governação assenta numa falsa democracia em que as decisões
estão restritas às salas fechadas dos parlamentos, gabinetes
ministeriais e instâncias internacionais. Um sistema sem qualquer tipo
de controlo cidadão, refém de um modelo económico-financeiro, sem
preocupações sociais ou ambientais e que fomenta as desigualdades, a
pobreza e a perda de direitos à escala global. Democracia não é isto!
Queremos uma Democracia participativa, onde as pessoas possam intervir
activa e efectivamente nas decisões. Uma Democracia em que o exercício
dos cargos públicos seja baseado na integridade e defesa do interesse
e bem-estar comuns.
Queremos uma Democracia onde os mais ricos não sejam protegidos por
regimes de excepção. Queremos um sistema fiscal progressivo e
transparente, onde a riqueza seja justamente distribuída e a segurança
social não seja descapitalizada; onde todas as pessoas contribuam de
forma justa e imparcial e os direitos e deveres dos cidadãos estejam
assegurados.
Queremos uma Democracia onde quem comete abuso de poder e crimes
económicos e financeiros seja efectivamente responsabilizado por um
sistema judicial independente, menos burocrático e sem dualidade de
critérios. Uma Democracia onde políticas estruturantes não sejam
adoptadas sem esclarecimento e participação activa das pessoas. Não
tomamos a crise como inevitável. Exigimos saber de que forma chegámos
a esta recessão, a quem devemos o quê e sob que condições.
As pessoas não são descartáveis, nem podem estar dependentes da
especulação de mercados bolsistas e de interesses financeiros que as
reduzem à condição de mercadorias. O princípio constitucional
conquistado a 25 de Abril de 1974 e consagrado em todo o mundo
democrático de que a economia se deve subordinar aos interesses gerais
da sociedade é totalmente pervertido pela imposição de medidas, como
as do programa da troika, que conduzem à perda de direitos laborais,
ao desmantelamento da saúde, do ensino público e da cultura com
argumentos economicistas.
Os recursos naturais como a água, bem como os sectores estratégicos,
são bens públicos não privatizáveis. Uma Democracia abandona o seu
futuro quando o trabalho, educação, saúde, habitação, cultura e bem-
estar são tidos apenas como regalias de alguns ou privatizados sem que
daí advenha qualquer benefício para as pessoas.
A qualidade de uma Democracia mede-se pela forma como trata as pessoas
que a integram.
Isto não tem que ser assim! Em Portugal e no Mundo, dia 15 de Outubro
dizemos basta!
A Democracia sai à rua. E nós saímos com ela.
O melhor Mel
O capital de má vontade acumulado contra Mel Gibson é suficiente para lhe garantir uma longa travessia do deserto. A ver pelo pouco entusiasmo suscitado por The Beaver, a aversão do público a Gibson sobrepôs-se aos méritos do filme realizado por Jodie Foster. Num futuro mais ou menos distante, este sanguíneo exemplar da Hollywood de ontem há-de ressurgir em glória numa fita à medida, todos os pecados lhe serão perdoados e o gajo, afinal, tinha talento e ninguém se lembrava. Bom, quanto a mim nunca teve grande talento. Não como actor e, decididamente, não como cineasta. The Passion of The Christ e Apocalypto fazem de Ken Russell um autor subtil e intimista, e Braveheart, bom, é o Twilight com porrada, cavalos e anfetaminas. O certo é que, neste filme, consegue mostrar algo que nunca lhe vi anteriormente: sinceridade e contenção. E é a fragilidade autêntica de uma figura reconhecidamente transtornada (dentro e fora do ecrã) que dá força a este filme desigual. Gibson pode ser uma besta, mas em The Beaver é bestial.
12.10.11
A estratégia do quadradinho
Ele existirá depositório de maior neurose passivo-agressiva que os fóruns na net? Se nos comentários dos jornais é mau, nos dos blogues é pior. Espaço informal e "amigável" onde convergem ou divergem opiniões, a ideia é manter um registo descomprometido, bem humorado e, dentro das possibilidades de cada um, de bom tom. A não ser que o espaço seja uma baiuca ou um altar. Normalmente, aí, dentro e fora da blogosfera, a tendência é para pegarem em calhaus antes de abrir o verde. Enfim, no pequeno quadrado da vizinhança onde experimentamos uma troca de ideias, uma piada, uma concordância ou uma leve subversão de tom, não acontece mais do que um esboço de personalidade ou uma tentativa de nos fazermos presentes. Algo que deveria ser espontâneo e salutar. Mas não. Uma caixa de comentário é um território acastelado, povoado por ideias feitas e defendido por um exército de fiéis que celebram os mesmos códigos e escorraçam o desconhecido. Ali se deflectem as ofensivas dos intrusos através de um arreio virtual. Comentar num fórum moderno é, verdadeiramente, uma aventura medieval.
Aqui, e como me recordou uma amiga, adopta-se a postura do gentil homem. Pode é ser da artilharia.
Aqui, e como me recordou uma amiga, adopta-se a postura do gentil homem. Pode é ser da artilharia.
10.10.11
Bo(we)llywood
Há coisas más que são só más e mais nada. Depois há coisas más que têm piada por serem más. E depois há coisas péssimas que já não têm tanta piada porque normalmente chateiam. Sobretudo quando são sempre iguais, o que quer dizer que são sempre péssimas. Algures por aqui surge Bollywood. Mas há coisas vindas de Bollywood que, a ver pelo esclarecedor (?) exemplo, são tão péssimas que merecem um neologismo, tipo polipéssimo. Na verdade, em vez de chatear, induzem um estado revelatório de incredulidade e comoção, como quando se come uns cogumelos muito marados ou se fuma shit do Martim Moniz embebida em solvente com vestígios de clorofosforado em plena crise disentérica. Algo que deve ter acontecido ao genial realizador desta extraordinária obra cinematográfica, antes de ela lhe brotar directamente da tripa.
(Obrigado, Pedro.)
4.10.11
Brigada SUV (Só Unidos Venceremos)
Esta serve.
Foi com grande satisfação que hoje descobri que este post é o mais lido de sempre na história deste blog. De acordo com o tracker, foi visto 216 vezes. O que significa que as 4 pessoas que lêem aqui o pasquim devem ter feito, epá, para cima de uma dúzia de investidas cada uma, possivelmente porque se aborreciam de morte a cada parágrafo e levavam vários dias para ver as biaturas. Seja como for, espero que a razão da "popularidade" se deva à raiva que estas bizarmas provocam no cidadão comum. Boa. Estamos a deixar a nossa marca. Próximo passo: um distraído encostar de chave num passeio qualquer.
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