23.3.12
O mãozinhas
Elá, mas se o Jóninho anuncia é porque é bom. Não vês aquele sorriso amplo e convicto? "Se não gostas, olha, fala para aqui e vai criar a tua mãozarra, que esta é minha e já está cheia."
Dizem os entendidos:
"Os dois primeiros 'spots' televisivos arrancaram ontem e contam a história de um rapaz capaz de tudo para conseguir muito, por um euro. (...) O João Manzarra tem um perfil fantástico para esta campanha: é divertido, descomprometido, inteligente. Acabámos por explorar muito a sua personalidade e improvisação. Soa tudo muito natural. É ele que está ali a falar."
22.3.12
Onde é que já vimos este filme?
Mais um colega que deixa a empresa, com muita pena minha. As conversas mais espirituosas do pedaço foram com ele. Um bom camarada e um bom homem. Sei que vais sorrir com isto, apesar da gravidade da situação. Abraço, Z.
É favor não interagir com os animais
Hoje aventurei-me pela Almirante Reis abaixo para levar P. ao trabalho, em hora de ponta e dia de greve geral. Mais uma vez fui galvanizado pelo esplendor selvático do trânsito e dos números de circo radical, incluindo motociclistas funâmbulos com trajectórias exuberantes, carripanas das mudanças de prego a fundo e fé na chapa e putas finas de jipe BMW a estrebucharem desde a buzina às pregas da xereca porque eu não me atiro para cima dos carros que não me dão passagem quando fico retido em plena via, visto que uma carrinha de mercadorias está estacionada do lado direito para não interferir com o eléctrico... Depois de reagir, pela enésima vez, com, digamos, alguma visceralidade, entrei em ressaca e pus-me a pensar que, no zoológico, não podes interferir com a rotina da bicharada. Nem sequer podes dar amendoins aos macacos. Por isso, pá, numa próxima ocasião, em vez de te lançares no sprint da desforra e de exibires o dedo maroto, pensa que não é isso que vai fazer com que exista luz onde a natureza decretou escuridão profunda.
Sónia, abrimos um clube?
Ilustração de Jason Naylor
Sónia, abrimos um clube?
Ilustração de Jason Naylor
A língua, essa eterna insatisfeita
Descobri, neste blog brasileiro e simpaticamente desbragado (conotação provalmente induzida pela divergência sintáctico-semântica, que eu não considero que escreva por aqui coisas particularmente requintadas), algumas observações interessantes sobre o português, bem antes do famigerado A.O. estar na ordem do dia. Por vezes a dialéctica post/ comentários gera coisas úteis e com piada.
Ilustração de Maral Sassouni
21.3.12
15.3.12
O beijo da Judite
E num dia povoado de bons e calorosos sentimentos ocorre-me deixar uns versos dessa notável viseense, à falta de melhor qualificativo (ocorre-me g'anda maluca), que foi Judith Teixeira.
Foi um beijo doloroso,
a estrebuchar agonias,
nevrótico ansioso,
em estranhas epilepsias!
a estrebuchar agonias,
nevrótico ansioso,
em estranhas epilepsias!
E eu que já me contentava com um abraço...
Notas terapêuticas 6
De modo que eu até andava a ler na net umas coisas sobre buracos negros, daqueles supermaciços, de forma a construir uma metáfora apropriada sobre ti, embora crente de que nem esse incomensurável vácuo poderia dar uma dimensão aproximada da tua estupidez e do teu mau carácter... e eis que a esperança despontou, sob a forma do "Dicionário Informal", que me ofereceu uma definição mais justa do que tu realmente representas. O rigor científico e o cuidado linguístico exibidos estão, aliás, muitíssimo adequados. Anexo esta notinha, se não te importares:
P.S. Estou a ponderar oferecer-te uma camiseta.
Oração da manhã
Obrigado ao F. por me ter feito chegar isto. Uma prece simples porém eficaz, virtuosa e com o seu quê de catarse. Da manhã, da tarde, da noite e na vigília.
Os mais belos carros de rally
20. Lancia Fulvia HF
19. Opel Manta 400
16. Renault Alpine A310
15. Nissan 240 RS
14. Alfa Romeo 75 Turbo
13. Mercedes 450 SLC
12. Ford RS200
11. Citroën Xsara Kit Car
10. Toyota Celica GT-Four
9. Peugeot 307 WRC
8. Porsche 911 SC RS
7. Alfa Romeo GTV6
6. Toyota Celica Turbo
5. Subaru Impreza 555
4. Renault Alpine A110
3. Audi Quattro A2
2. Lancia Stratos HF
Don't touch the animals
Preciso de uma merda de um abraço, mas compreendo que exista alguma relutância.
Ilustrações: Adam Avery
14.3.12
Os mais bizarros carros de rallyes
Stig Blomqvist ao volante do Saab 96 V4 que, na altura (anos 60 e 70), apresentava um design revolucionário. Ainda hoje é impossível resistir ao encanto deste charuto metalizado com 80 possantes cavalos a galope desde o espaço sideral.
O Suzuki Ignis S1600, para além de ser feio, ter nome de esquentador e aparecer invariavalmente pintado de amarelo, constituiu uma boa plataforma de lançamento, no início deste século, para alguns dos melhores pilotos actuais, graças à sua fiabilidade, baixo custo de manutenção e (relativa) rapidez.
É um pássaro, é um avião? Não, são uns malucos a dar gás a um "boca de sapo" (ou Citroën DS 23, para a ocasião) algures numa picada africana, em 1972. Coisa mais bizarra? Um "boca de sapo" a fugir de um elefante.
Um Volkswagen 1303 S, igualzinho ao do meu avô mas com mais faróis e uma decoração competitiva, no gelo da Suécia. O "carocha" fazia muito barulho mas andava pouco, o que, com o meu avô ao volante, era decididamente um aspecto positivo. Nos rallyes nem por isso.
O Peugeot 504 não serviu apenas para ajudar nas tarefas da quinta, percorrer quilómetros infindos em estradas secundárias e espalhar petrodiesel pelo universo durante décadas a fio. Nos anos 70 levantava voo nas mãos de campeões como Tommi Mäkinen, com muito estardalhaço mas poucas consequências... na mecânica e nas tabelas classificativas.
Cansado de fazer figuração em filmes elegantes e de transportar figuras de Estado francesas, o Citroën CX meteu-se à estrada, fosse ela alcatroada ou não, e conquistou um lugar ao sol no mais alto escalão competitivo, manobrado por gauleses dedicados como Jean-Pierre Nicolas, na versão 2400 GTI. Sim, dois mil e quatrocentos centímetros cúbicos.
Michèle Mouton não era mulher para gostar de tupperwares, mas isso não a impediu de guiar um. O Fiat 131 Abarth era tosco, espesso e genérico, com uma direcção tão suave como um tronco de árvore na cervical, mas o certo é que foi dos mais vitoriosos automóveis da sua geração, graças a um fantástico motor, aos mistérios da aerodinâmica e a muito talento atrás do volante.
O DS 23 não encontrou este modelito da Citroën em África, caso contrário tê-lo-ia devorado. O certo é que o Rally, também conhecido pelo complicado (e audacioso) nome "Mille Pistes" - por causa das então inovadoras quatro rodas motrizes - ganhou reputação de terminar provas sem grandes problemas, sendo que 112 cavalos não davam para muito mais. Como seria um encontro com elefantes merece a sua dose de especulação.
Antes de decepar os membros inferiores a uma dúzia de espectadores e levantar o alcatrão de toda uma recta à sua frente, o MG Metro 6R4 conseguiu descrever esta curva graças aos 3 litros de motor e aos quase 400 cavalos que, nos idos anos 80, propulsionavam as viaturas, arraçadas de avião, do chamado Grupo B. Sobre a versão de estrada do Metro, lembro-me de uma apreciação na Proteste que aconselhava a "acender uma vela a S. Cristóvão" de cada vez que se saísse com ele. Noto um padrão.
Nos mesmos anos eighties, foram vários os pilotos que domaram a besta célere de 500 cavalos chamada Audi Quattro S1. Entre eles os míticos Walter Röhrl, Stig Blomqvist, Hannu Mikkola e Michèle Mouton. Míticos porque nenhum pereceu sentado neste míssil da marca alemã.
A morte do talentoso piloto finlandês Henri Toivonen, na Volta à Córsega de 1986, foi o acontecimento decisivo para a interdição dos poderosos e cada vez mais bizarros Grupo B. No ano do ocaso deste delírio sobre rodas, a Citroën decide apostar no BX 4TC, versão racing do popular modelo. O projecto estava por isso condenado à partida, mas a embaraçosa falta de competitividade e resistência demonstradas nas provas em que participou - na Acrópole nenhum dos carros inscritos passou da 1ª etapa - deu a entender que a Citroën já havia dado um tiro no pé e outro na testa do deus da estética.
Por que razão o fabricante checo se inspirou em Italo Calvino para designar o seu grande familiar escapa ao meu entendimento (pronto, não, foi do latim, mas ainda assim...), até porque o Škoda Octavia, aqui na versão World Rally Championship, se há coisa que tem é um ar sólido. Demasiado sólido. Diria mesmo monolítico. O que lhe permitiu, entre levar e trazer os miúdos da escola, resistir às saídas de estrada - em dupla acepção - do fogoso Armin Schwarz.
Um Seat Marbella de rallyes. Repare-se que não é sequer um Fiat Panda de rallyes. Correr com uma chocolateira é mau, mas correr com um sucedâneo de chocolateira é seguramente pior. Em tempos houve um troféu de senhoras nas provas nacionais e lembro-me de ouvir um oportuno locutor de rádio referir-se às concorrentes como "pilotas". Não há (mais) palavras.
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