30.11.11

A sabedoria de Gene

Gene Hackman em Bonnie & Clyde, de Arthur Penn (1967)

Sum up your life in a phrase.

"He tried." I think that'd be fairly accurate.

(Entrevista à revista GQ, Junho 2011)

As Aventuras da Super-Rolha - Fuga Interrompida



29.11.11

Christmas is just around the corner


"Family isn't a word. It's a sentence."

The Royal Tenebaums




E que saudades de Gene Hackman.

Para os mais pequenos

 

Numa nota mais positiva, deixo algumas ternurentas sugestões de Natal. Figuras imortais do cinema tricotadas com carinho, entre as quais Gage (Pat Sematary), Norman Bates (Psycho) e Regan (The Exorcist). E aqui há mais.

Querida Merle


Acabei de ler no site do Hollywood Reporter que o New York Film Critics Circle já atribuiu os prémios deste ano, considerando "Merle Streep" a Melhor Actriz pelo seu desempenho em The Iron Lady. Hollywood Reporter, publicação "especializada". A actriz mais celebrada de todos os tempos. Dezasseis nomeações para os prémios da Academia e a décima sétima a caminho. Estrela global. Mais de 30 anos de carreira. Que a minha amiga Ana dissesse "Merle" quando tinha 15 anos aceita-se. Mas aqui? Terão ido buscar um editor ao IOL?

Um amor de anúncio (de recrutamento)


Ainda no registo fofinho, divertido e super-criativo, aqui fica um excerto de candidatura ao anúncio de uma agência, há uns anos atrás. Pareceu-me que um questionário tão giro merecia umas respostas esmeradas. Surpreendentemente, nunca recebi resposta.

Somos produtores de conteúdos de cultura e criatividade. Na verdade, produzimos os melhores conteúdos de lazer cultural internacional para os melhores clientes. Acontece que não temos muito jeito para descrever as coisas fabulosas que fazemos e os chefes não nos largam a pedir a melhor comunicação.
 

Por isso decidimos que precisamos da ajuda de um copy. Não um copy qualquer. Um que seja muito bom, o que quer dizer:

-Que consegue ter uma linguagem adequada a um público mesmo muito exigente (a ideia já deve ter passado, mas pelo sim pelo não recordamos que são mesmo muito exigentes)

Quem consegue satisfazer o público com as exigências mais rasteiras e incompreensíveis de que há memória, consegue, acreditem, servir os mais requintados paladares aos czares do bom gosto.

-Que sabe compreender a nossa imagem corporativa (linda de morrer … fomos nós que fizemos)

Se quiserem também posso fazer uma memória descritiva e um press-release para a Briefing...

-Que interprete bem os briefings e os saiba declinar numa comunicação coerente com o nosso posicionamento (e nós somos pessoas muito bem posicionadas)

Seria óptimo conhecer bessoas bem posicionadas, para variar. Por outro lado, ver um bom briefing produz no meu cérebro uma irreprimível erupção de endorfinas.

-Que escreve umas coisas sólidas, inteligentes, criativas e que reforçam a qualidade da marca e dos nossos programas (gostamos especialmente da parte do inteligentes)

A solidez daquilo que escrevo parte-me frequentemente a cabeça. Também aprecio especialmente a inteligência, tanto mais que se encontra em vias de extinção, preservada apenas em escassos e ignotos redutos.

-Que sabe como comunicar em diferentes plataformas (sem precisar que lhe expliquemos o que são diferentes plataformas)

Até sei comunicar com umas plataformas calçadas.

-Que não dê erros (ou então que ande sempre com a gramática debaixo do braço)

Não dou erros por defeito, mas se há defeito que não tenho é ignorar gramáticas, prontuários e dicionários. Ah, claro, e o Google.

-Que tem um portfolio premiado (pelo menos ao qual nós pudéssemos dar um prémio)

Atribuí a mim próprio o Prémio Copy Vassoura do Ano, serve?

-Que tem uma formação superior daquelas que se põem na parede (e não na parede do sótão)

Se o meu canudo tivesse algum valor estético talvez ponderasse essa hipótese. Mas tem toques de dourado. E está escrito em latim.

-Que cumpre todos os prazos, e não deixa nada para a última da hora


E nunca me engano e raramente tenho dúvidas. Sobre os prazos, note-se.

-Que já anda há mais de cinco anos nesta vida de escrever para outros (mesmo quando são impossíveis de aturar), especialmente em ambientes ligados à cultura

You have no idea.

-Que é tão apaixonado pelo que faz que nem se importa que nós fiquemos com grande parte dos créditos junto dos chefes

Apesar de o meu ego ter encolhido significativamente em muitos anos de trabalho, existe ainda um resquício de auto-estima que se compraz com o cheque pelos serviços prestados.

-Que não vai revelar o conteúdo deste anúncio aos nossos chefes

Depende do que ganhar com isso.

Se por acaso conhecem alguém assim, digam-lhe para nos enviar o portefólio, o CV e uma fotografia decente , com a referência (...) até ao dia (...).
 
Se gostarmos e não formos apanhados entretanto, respondemos sem falta até (...).

 
Se acharem o título de Copywriter não faz sentido nenhum, nós também.
Uma coisa garantimos, o projecto é giro e o ambiente é óptimo (esta parte podem dizer aos chefes).

 
Agora, convém é ter mesmo aquilo que estamos a pedir.


Tenho tudo o que pedem e mais um par de botas. Aproveito ainda para corrigir a seguinte frase: “Se acharem que o título de Copywriter...”. Falta o promome.
Se Copywriter faz sentido? Talvez não. Mas sempre é mais curto e inteligível que Strategic & Customer Relationship Field Manager.

Publicidade portuguesa, património imaterial



















Espero que tenha havido bastantes WC portáteis durante a rodagem.

Ah, a publicidade. O ímpeto criativo, o reconhecimento, o glamour... Inspiram-me aquelas campanhas épicas onde a bela juventude, envolta numa sempiterna luz diáfana, vive em constante euforia e exaltação sensorial, cantando a uma só voz nesse grande palco de conciliação, civismo e harmonia que é a vida, em cenários jovens, belos (usualmente entre Guimarães e a Av. de Roma com passagens pontuais pelo Cabo da Roca e Chiado), envoltos numa luz diáfana, preenchidos por uma constante euforia jovem, melódica e actual. Como a Popota, também estas declinações nutridas pelo germe da inventividade pertencem a vários mundos: ao do café, do whisky, dos bancos, dos gelados, da roupa, dos iogurtes, dos supermercados, dos refrigerantes, dos pensos higiénicos, da cerveja, da política e das telecomunicações. Ah, haveria tanto para dizer sobre a bela luz diáfana das telecomunicações, dos seus hinos conciliadores, da sua beleza jovem e do seu imaginário sensorial. E das cervejas, as cervejas, meu Deus. A vida... bela, intensa, vivida, em suma.

A publicidade nacional, esse poço sem fundo de recursos criativos, que combate com ardor irreverente o vórtice implacável do materialismo primário, da redundância e da objectificação! Estamos todos juntos agora nesta demanda, e o que nos liga é óptimo, não é?

28.11.11

A graça da menina



A menina, devo dizer-lhe, é uma grande puta. E não fosse a miséria de execução gráfica, a imbecilidade conceptual e a mais que provável escumalha que toma por companhia, teria pena ao vê-la baixar as calcinhas em público e a oferecer-se por tão pouco. Mas sendo assim, digo-lhe apenas para fazer um rolo bem espesso e volumoso com o seu estágio não-remunerado, cubrindo-o com uma camada de sentido de humor rugoso e outra desse grosso oportunismo, claramente tão ao seu gosto. De seguida, introduza-o bem profundamente no degredo da sua existência. Uma pequena satisfação para uma vida, decerto, breve.

Amor




"Sometimes your heart's too big to hold just one."

Carolyn Cassady

Ilustrações: Russell Cobb

25.11.11

OK, chega!


Já se percebeu. Felizmente não foi o corridinho a ser seleccionado. Mas tirai a cabeça da taberna, do salão na Lapa ou debaixo das saias de Amália. Deixai de menear a anca e de mandar a cabeça para trás como se a goela fosse fugir. Já se viu que está para ficar, e a fatalidade aprecia uma boa banda sonora. Mas, não, nem todos cantam bem. Cessai de invocar o santo nome do talento em vão, porque nem toda a alfacinha castiça tem ouvido e o resto. Soltar a Argentina Santos no mundo pode ser interessante do ponto de vista sociológico, mas musicalmente são uns 6 graus na escala de Richter. De estragos. Deixem o Camané cantar, tudo bem, mas não o deixem dizer "é extraordinário" mais do que 12 vezes por entrevista. E a malta curte o fado, mas há vida para além do lamento. Acho eu...

Hard copy 49

Mais ou menos verdade


Apercebia-me, a propósito da ausência de fotografias das minhas sobrinhas, que, entre as inúmeras incongruências do Facebook está o facto de os entes mais ou menos queridos escolherem uma plateia alargada de indivíduos mais ou menos relacionados, mais ou menos genéricos e mais ou menos atentos para partilharem não só detalhes mais ou menos interessantes da sua vida, como elementos efectivamente muito importantes que passam ao lado de quem prefere a discrição do email à tribuna cacofónica das redes sociais. Sucede que há entes mais interessados e menos sociais, que por acaso até acham que de social está o inferno cheio. Já o afecto e a sinceridade ficaram-se pelo purgatório, mas não precisávamos de um recreiozinho sintético para no-lo mostrar, verdade?

Será que ainda vamos a tempo?


"People learn. They don't change."

(Heylia James, Weeds)

Às vezes a melhor filosofia está na TV.

23.11.11

Hard copy 48


Cheira pois, cheira literalmente mal. Toda a gente escreve, toda a gente sabe escrever, não é? Certo. E depois há quem faça bonecos. Dá nisto.

(Obrigado, M.)

Crowe no zoo


Nada do que Cameron Crowe realizou desde 1999 (Almost Famous) permite antecipar grandes feitos. Muita coisa se perdeu na tradução de Abre los Ojos para Vanilla Sky, entre as quais o sentido, e Elizabethtown é um puro desperdício de película, não obstante o sapateado de Susan Sarandon. Curiosamente, e numa estranha inversão de sentido, o que era habitualmente mau (o trabalho do atelier Arsonal) passa a inesperadamente bom, neste poster para o novo filme de Crowe, um "drama inspirador baseado em factos verídicos" (ui...) protagonizado por Matt Damon.

22.11.11

Põe-lhe fogo!



Popota está de volta com o Continente


Até dia 24 de Dezembro, a Popota está de volta na nova campanha de brinquedos do Continente. Sob o claim "Com a Popota no Continente, o Natal é diversão", a "diva" volta com um remake de On the Floor, da Jennifer Lopez.


Em comunicado, a marca diz que o conceito da nova campanha "remete para uma viagem pelos vários mundos da Popota, através de vários cenários que marcam as brincadeiras das crianças: cenário candy, Alice in Wonderland, Lego, Golden Club, terminando num grande palco, com uma roda gigante (inspiração no London Eye)".


A campanha assinada pela Fuel está presente em televisão, rádio, imprensa, internet, exterior, comunicação de loja e folhetos, sendo que o vídeo pode ser visto abaixo.


Paralelamente, a insígnia da Sonae está a promover a Popota Dance Tour, onde a "diva" fará algumas actuações nas lojas Continente, em todo o País. Já na internet, estarão disponíveis jogos relacionados com os mundos que inspiraram a campanha deste Natal: Mundo dos Doces, Mundo da Fantasia, Mundo da Música, Mundo do Ouro e Mundo do Espectáculo.


Fonte: Parceiros de Comunicação

Não sei o que é mais inane: se a existência da Popota, também conhecida num ambiente mais informal por Xoxota ou Poporca (note-se que poderia contemplar a Leopoldina e outras aberrações macrocéfalas do marketing, que impingem tralha à pequenada sob os nobres auspícios da solidariedade social), se estes briefings manhosos, feitos a martelo por “focus groups” de merceeiros e mestres de culinária com o imaginário de um bloco de granito. Consigo vislumbrar a exaltação dos criativos quando um intermediário semi-analfabeto lhes entrega uma coisa destas, com o tesão da ignorância e o entusiasmo da demência. É de um gajo (ou gaja) ficar estéril logo ali. Mais uma campanha que cai na popular categoria WTF, demonstrando que a publicidade em Portugal está viva, infelizmente, e túrgida de potencial. Um “remake” de… what the fuck?... Da… what the fuck?... “cenário candy”, “London Eye”… the fuck?!... Uma hipopótama que vende brinquedos a abanar a pelve num universo abstruso e hiperexcitado?... Mas os hipopótamos merecem uma coisa destas? Ainda bem que a Xoxota, na boa estratégia do tudo lá dentro, pertence a tantos “mundos”, nalgum há-de fazer sentido. Infelizmente esqueceram-se de incluir o “Mundo das Drogas Alucinogéneas”.

Fuel? Epá, é realmente de se regar esta merda toda e destruir rapidamente as provas.

Saudades em postal


O horizonte fecha-se sobre nós e uma paisagem de sonho revela os seus pesadelos. Aqui, o contraste entre o idílico e a vida real é incomensuravelmente maior.

Açores (Terceira e Faial)

Bringing out the 90s


There's a world where I can go and tell my secrets to
In my room, in my room

In this world I lock out all my worries and my fears
In my room, in my room

Do my dreaming and my scheming
Lie awake and pray
Do my crying and my sighing
Laugh at yesterday

Now it's dark and I'm alone
But I won't be afraid
In my room, in my room
In my room, in my room
In my room, in my room

("In My Room", Billy Thorpe)

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