-nos com autoridade pois o trabalho nunca está feito e não é feito sozinho. A actriz dá-nos pistas e nuances preciosas para que possamos construir a personagem e, ao mesmo tempo, entrever a personalidade que a constrói. Aí é generosa. Fora da tela, é rara, é um enigma, e faz todo o sentido que assim seja.
Poucos são os actores, hoje em dia, que valorizam tanto uma história: na compreensão polivalente dos diálogos, no entendimento do tom que a cena requer, na construção exemplar do pathos, na interacção com as demais personagens… Melhor do que ninguém, o realizador de The Brave One, Neil Jordan, e o co-protagonista, Terrence Howard, avaliam o impacto de Foster:
"She's got this remarkable thing where she quite effortlessly holds your imagination. She puts herself in that place and without question, as a member of the audience, I am there with her. And I don't know how she does it." (Neil Jordan)
É óbvio que há algo no magnetismo de um actor que não é traduzível e esse é um dos grandes mistérios e prazeres do cinema. O talento e a força de uma presença não escamoteiam, porém, as fraquezas essenciais de um filme. No caso de The Brave One, as ressonâncias que o desempenho de Foster desencadeia no seu (vasto) público extravasam os limites que a história lhe impõe. A esse nível teriam lugar outras apreciações, que já poriam a fita de Neil Jordan ao nível de uma banal história de vingança com duvidosa legitimidade sociológica e moral. No que me toca, o máximo que conseguiu foi dar umas amolgadelas na percepção da impotência perante os actos crescentes de agressão gratuita nos espaços urbanos, e nas consequências profundas que estes podem desencadear. Mas o esforço de tradução está todo nos ombros de Jodie Foster, porque o argumento peca por simplismo e alguma espectacularidade despropositada. De qualquer modo, a ver, nem que seja apenas pelo desempenho da sua actriz protagonista. Este, como outros, é “um filme da Jodie Foster”.
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