26.6.07

O poder (des)agregador da tosta mista



E agora vinha mesmo a calhar uma tosta mista em pão tradicional, acompanhada de um galão, na esplanada da Graça. Uma volta pelo passado com toque gastronómico rústico-urbano. Bons tempos. Ana Maria, Pasi… Até o Rogério, episodicamente… A Sara não se terá arrastado até lá mais do que uma vez, de nossa casa, mesmo ali à beira. A Rita, quando estacionou no meu ninho, em estudo e em crise. Ou até antes, teremos pairado por lá, meio ressacados das vidas e um do outro. A Anita de visita, o Pasi e eu, depois de galhofar e comer algo ali no largo, ou depois de ele vasculhar todas as lojas de chineses das proximidades. Os manos, conversando como há muito não fazíamos, com um à vontade que já é invulgar quando estamos noutros cenários. Os encontros nocturnos com o António e eventual corte, quando todas as companhias sabiam bem e o Sérgio era ainda a eminência surda de uma futura tragédia. Mas a esplanada manteve-se, fiel, e chorei lá um par de vezes, sozinho, ao fim do dia, vindo daquele miserável ambiente no Prior Velho. O Rui e eu também estendemos os nossos laços nas vistas da Graça. Tensões desfeitas à volta de uma tosta mista, a ver a nuvem dissipar-se na linha do horizonte. E o par de encontros sacrílegos - meu deus, onde estava eu com a cabeça? Com um bocado de sorte não houve tosta, só Cola… Light. Isabel, Cláudia, Ana, Marta, Rita M., todas de passagem sem deixarem especial memória. Mafalda, gostava de te ter tido mais vezes por ali, mas raramente estavas disponível. Compensava só para te ver debater com a tosta. E pela nossa conversa, claro. Sempre pela conversa. Estilos diferentes mas intenções semelhantes. Rui C. e Cecília, na vossa única estadia oficial, no cubículo da Travessa, foram respirar a verdadeira Lisboa de esplanada enquanto davam as vossas passas incessantes. Foi bom ter-vos por lá (cá). Filipe (you know who you are), ainda nos demos umas quantas oportunidades ao sol. Acompanhado, mas sozinho com a tosta, foi na esplanada da Graça que – juro a pés juntos –, o Jérémie Renier não tirou os olhos de mim, fazendo-me corar e esquecer o apetite. Pousei a tosta e fiz ar de duro. Estaria ele provavelmente a aproveitar algo para uma personagem. Ou é míope.

A esplanada, com as suas tostas, foi o princípio e o fim de muita coisa.

Hoje já não me parecem muito apelativas. Talvez sem a manteiga. Definitivamente sem a manteiga. E sem queijo. Provavelmente uma tosta desenxabida, só com fiambre. E mesmo assim, duvido, com o fiambre que anda para aí. O pão saloio parece-me bem. Torrado e barrado com doce, noutro sítio qualquer, a observar o que posso fazer com o que restou de mim.

5 comentários:

Anónimo disse...

Especialidade da casa, não é?, as tostas e as outras coisas... Pão saloio, sim, manteiga para mim, doce para ti, e o que "resta", que é muito e muito bom. Por muito tempo, espero.

João disse...

Assim o espero, também. Foram-se os anéis mas ficaram os dedos.

rita disse...

olha, Ju, ocorreu-me que se calhar essa sensação de termos que lidar hoje com o que restou do que conheciamos de nós do passado só a temos porque vamos dando pedaços de nós pelo caminho.
eu sei que uma parte de mim foi construída contigo.
em breve volto a visitar-te. e vamos comer tostas mistas à esplanada da Graça. e a cidade vai ser a mesma e nós também. mesmo que não pareça.

João disse...

Vamos à tosta!

Bluredone disse...

Essa p/tosta está muito mística, miúdo.

Arquivo do blogue