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Cutileiro tem um sentido de humor perverso, não gosta do Marquês, está-se nas tintas para o 25 de Abril e provavelmente tinha um amontoado no atelier que lhe dava jeito despachar. No mesmo contexto, uma escultura de Daniel Edwards ou de Jeff Koons não pareceria descabida. Certo é que alguém aprovou aquilo. Gostaria de pensar que, num futuro governo totalitarista e especialmente sádico, Cutileiro seria obrigado a roer aquele mono até ao último calhau. Mas não penso em governos totalitaristas, preferia um apocalipse rápido e certeiro. À sua maneira, o "Monumento ao 25 de Abril" é um grande manguito aos utilizadores do parque, à Avenida da Liberdade, à cidade de Lisboa, à vista radiosa, à Câmara Municipal e à sua proverbial ausência de gosto, homenageando subversivamente os exploradores sexuais, o hedonismo, o onanismo e a falocracia (o homem tem um pedigree bem vincado na pedra, esperavam o quê?). Se João Cutileiro rompeu com o classicismo estilizado que marcava a nossa escultura, provocando uma viragem determinante na arte portuguesa, tenho para mim que nesta peça ele levou esse conceito demasiado longe. O auto-proclamado “fazedor de objectos destinados à burguesia intelectual do ocidente” fodeu o classicismo, o estilizado e criou uma manifestação muito física no Parque Eduardo VII. Infelizmente, foi feia ontem e continua feia hoje.
2 comentários:
Eu diria até que "Feia", sem ofensa, J., é um eufemismo teu:)...
Sem ofensa alguma. O Cutileiro, apesar de tudo, ainda merece algum respeito. ;O
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