30.3.10
26.3.10
Grandes ideias de branding
Animal task force
Alice e o mundo
25.3.10
Quando Peter Jackson partiu os ossos
Não, estes ossos não são adoráveis. São uns cacos e deviam ser atirados à cabeça de Peter Jackson que, ou teve umas quantas paragens cerebrais, ou tão simplesmente perdeu o norte e viu-se à rasca para dar sentido ao argumento. Ora, eu não li o romance de Alice Sebold, embora tenha visto críticas positivas aquando da sua publicação, mas esta espiritualidade em lata que me foi servida, condimentada com grandes doses de pretensão artística e de histerismo new-age, tudo devidamente rebuscado e exponenciado com doses cavalares de pós-produção digital, tirou-me totalmente a vontade de o fazer. Jackson já provou que é um bom realizador, por que razão se enfiou neste monumental embaraço, debatendo-se com um material para o qual claramente não tem unhas, é algo que me ultrapassa. Se a produção artística é aceitável, a fotografia adequada e um par de sequências de suspense muito bem articuladas, já a direcção de actores padece da mesma desorientação. Susan Sarandon faz o que quer e parece estar noutro filme, Rachel Weisz não faz ideia onde está, Saoirse Ronan é esmagada (literalmente) por Stanley Tucci e pelo estardalhaço computorizado, e Mark Whalberg, bom, Mark Whalberg desempenha bem um único tipo de personagem, e é óbvio que não é este. Em suma, The Lovely Bones é um penoso exercício de vaidade de quem aspira aflitivamente ao estatuto de "autor".
24.3.10
Flying solo
My quietness has a man in it, he is transparent and he carries me quietly, like a gondola, through the streets. He has several likenesses, like stars and years, like numerals.
My quietness has a number of naked selves, so many pistols I have borrowed to protect myselves from creatures who too readily recognize my weapons and have murder in their heart!
Frank O'Hara (do poema "In Memory of My Feelings")
Desenho de Tonci Zonjic
Onde o encanto das coisas simples é menos simples e mais encantador
Somos recebidos pelo gato preto assanhado, no cimo do muro, espantando um bando de andorinhas familiares pela fachada do edifício. Um indício da outra vida que reside naquele jardim.
Ao entrar, o nosso olhar não consegue deter-se num só elemento, pois tantos há por onde repartir a atenção. Recebem-nos o lobo e o grou efabulados em faiança, uma cobra majestosa serpenteando sobre os arbustos, uma insólita fonte de sapos e um coro de macacos chocarreiros, numa árvore centenária, desafiando o lobo esfaimado. Pontuando o caminho, cogumelos desmesurados e muitos troncos com lagartixa à boleia. Nas paredes, enormes sáurios em escalada conquistadora e, mais à frente, onde a água jorra e acentua o movimento, um imponente agrupamento de crustáceos em surreal afã.
Os elementos confundem-se e interagem. O verde dominante é subjugado pelo brilho e pelos matizes da cerâmica. Não fossem os painéis nas paredes e os elegantes azulejos a debruar a porta de entrada, diríamos estar num tempo e num espaço perdidos, onde a ordem natural conhece outras leis.
O Jardim Bordallo Pinheiro é uma bela homenagem à criatividade de Rafael e de Manuel Gustavo. Uma orquestração de fantasia, naturalismo e humor, que estimula os sentidos e desafia a imaginação.
23.3.10
Hansel sem Gretel
Esta proto-casa assinada pelo atelier australiano Casey Brown, com 3x3 metros, daria muito jeito para umas escapadelas terapêuticas, de preferência a sós (com tais dimensões talvez fosse o mais aconselhável). Onde, não faço ideia, mas seria ideal se pudesse andar a reboque.
O celeiro flutuante
12.3.10
Lugar comum
My own personal fairy
Detrito tóxico
Há pessoas que são tóxicas, como sempre disse uma grande amiga minha. Ainda há pouco cruzei acidentalmente o olhar com uma colega, esta colega, que me fitou com uns olhos injectados de perturbação, de quem não desiste nem serena, cabeça baixada e de través, postura auto-consciente, contrita. Revirei-me um bocado no meu incómodo, uns bons quinze minutos até enxotar aquela visão parasitária.
Há pessoas que são mais tóxico que pessoas.
"I Am a Town"
My porches sag and lean with old black men and children
Their sleep is filled with dreams, I never can fulfill them
I am a town.
I am a church beside the highway where the ditches never drain
I'm a Baptist like my daddy, and Jesus knows my name
I am memory and stillness, I am lonely in old age
I am not your destination
I am clinging to my ways
I am a town.
No outro dia ouvi esta música da Mary Chapin Carpenter, que é um daqueles nomes de referência da música country, um género que não aprecio. Comprei o disco há muitos anos por causa de uma canção em particular e porque as letras são muito boas. Não lhe redescobri grande interesse musical, mas a qualidade da escrita continua a impressionar-me, em particular a de "I Am a Town", uma ode descarnada à américa sulista, rural e isolada, no que ela poderá ter de poético, não na acepção tipicamente "redneckiana". Também há filmes que retratam muito bem um misto de miséria espiritual e redenção que parece emanar destas paisagens, dois deles realizados por Peter Bogdanovich, The Last Picture Show e Texasville. Em ambos participa Jeff Bridges, cujo talento foi recentemente (e finalmente) consagrado pelos inefáveis Oscars. Na verdade, o segundo é uma espécie de sequela do primeiro, e claramente inferior visto isoladamente, mas ainda assim um documento interessante e uma das grandes interpretações esquecidas de Bridges. As outras, a meu ver, e dignas de incluir numa filmografia seleccionada são: "Tucker - Um Homem e o Seu Sonho" (Tucker - The Man and His Dream), de Francis Ford Coppola; "Coração Americano" (American Heart), de Martin Bell; "Sem Medo de Viver" (Fearless), de Peter Weir; "Escola de Homens" (White Squall), de Ridley Scott; "A Porta no Chão" (The Door in the Floor), de Tod Williams. E Jeff Bridges é não só um tremendo actor como também um celebrado fotógrafo. A imagem escolhida é um instantâneo tirado pelo próprio durante a rodagem de Texasville.
Maturidade
11.3.10
História interminável
Eis que se aproxima mais uma novela da TVI. A 82ª em 4 anos. Não sei como se chama, vi uma promoção no canal num dia de zapping desafortunado. Tem um nome genérico qualquer, provavelmente pilhado a um artista de soft-pop português, daqueles talentos rançosos com um pé na música pimba e outro no esquecimento. Presumo que inclua os vocábulos "mar" e "amor", o que resta deve andar entre "meu", "minha", "tua", "teu", "nós", "verdade", "mentira" e "vida". E penso que cobri o espectro todo. Os focus groups do audiovisual servem basicamente para fazer listagens de canções do Paulo Gonzo ou do Ricardo Landum (mítico fundador dos estúdios Aiksom). Se não houver nada que se ajeite ao meio-conceito a explorar em toda a ficção da casa, faz-se scrabble com meia dúzia de palavras e depois escolhe-se a moçoila que se vai despir no genérico. A novela em causa é protagonizada pelo Rogério Samora, o Tarcísio Meira português, uma lorinha que já teve sobrancelhas de má mas agora faz voz de boazinha, e um indivíduo que tem menos carisma no esqueleto todo do que o rapaz do gongo dourado tinha no seu, hum, gongo, em pleno esplendor. Este actor, vá, é especialmente curioso, porque, por mais papéis que lhe dêem, representa sempre com a convicção de uma anona decorativa e a subtileza de um ataque de gota. Deve ser realmente muito popular junto da sopeirada nacional. Deve vender, sei lá, t-shirts e canecas com fartura. É que até o Rodrigo Guedes de Carvalho, numa fugaz aparição (hoje de culto) na primeira Vila Faia, suplantava em presença e domínio técnico este José Carlos artolas qualquer coisa. Ah, ainda bem que temos a TVI para promover a genuína mercadoria nacional. Cada um tem o que merece, e quem vê a TVI merece de certeza levar com isto.
2.3.10
Um encontro bestial
De acordo com um diagnóstico recente, eu não tenho sintomas, só tenho epifanias. Uma biopse epifânica (foi quase o que me custou falar com o senhor analista) indica que essa sobrecarga de revelações se transformou num lastro ilusório. Não são exactamente verdades, mas simples conveniências. Um bocado como a filosofia, é porreira porque cada um pode ter a sua. Assim ninguém percebe que sou maluco, só "altamente diferenciado". O problema é que as minhas conveniências não são nada simples, e, de acordo com o senhor perscrutador, criam uma noção distorcida da realidade e de mim próprio, porque são motivadas por uma acentuada necessidade de auto-defesa. Ora bem, o senhor sinestésico pintou o retrato que faço de mim próprio. E que passo a ilustrar. Mas, bom, decidi regressar e preparar-me para renascer. Com melhores dentes.
1.3.10
Perfection is deadly*
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