24.3.10
Onde o encanto das coisas simples é menos simples e mais encantador
Somos recebidos pelo gato preto assanhado, no cimo do muro, espantando um bando de andorinhas familiares pela fachada do edifício. Um indício da outra vida que reside naquele jardim.
Ao entrar, o nosso olhar não consegue deter-se num só elemento, pois tantos há por onde repartir a atenção. Recebem-nos o lobo e o grou efabulados em faiança, uma cobra majestosa serpenteando sobre os arbustos, uma insólita fonte de sapos e um coro de macacos chocarreiros, numa árvore centenária, desafiando o lobo esfaimado. Pontuando o caminho, cogumelos desmesurados e muitos troncos com lagartixa à boleia. Nas paredes, enormes sáurios em escalada conquistadora e, mais à frente, onde a água jorra e acentua o movimento, um imponente agrupamento de crustáceos em surreal afã.
Os elementos confundem-se e interagem. O verde dominante é subjugado pelo brilho e pelos matizes da cerâmica. Não fossem os painéis nas paredes e os elegantes azulejos a debruar a porta de entrada, diríamos estar num tempo e num espaço perdidos, onde a ordem natural conhece outras leis.
O Jardim Bordallo Pinheiro é uma bela homenagem à criatividade de Rafael e de Manuel Gustavo. Uma orquestração de fantasia, naturalismo e humor, que estimula os sentidos e desafia a imaginação.
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