19.7.07

Plexo solar



“Esta ânsia desgovernada de atenção poderá não fazer sentido. É estéril, roça o patético, não passa de um pretexto para que a vida pulse quando e como eu quero. «Não é assim» mas também não poderia ser de outra maneira. Contigo não funciona. Assim, nesse plexo em que tu vives e que eu desafinei por momentos. Mas não foi terapia ocupacional e tu curtes demasiado a tua neurose hedonista para fazer distinções e aceitar desafios. Porque és medroso. O tempo que perdi contigo não passou disso mesmo. Nunca voltou atrás porque só houve intenções, uma cobardia inconclusiva e total ausência de sentido prático. É engraçado perceber que nunca soube o que fazer. E agora que deixou de me interessar, mais percebo que não era suposto fazer coisa alguma. Aí reside a diferença essencial entre sentir e insistir. Não quero a tua atenção. A minha ânsia é desgovernada e, por vezes, atropela-se na sua excitação. Mas não te vê, não é dirigida a ti, realmente. Está sempre mais à frente, mais apressada, nublada, sim, tu o disseste. Agora já não a vês e a tua atenção pode recair em assuntos de real valor. Eu vou mudar o tempo e a paisagem e continuar a ansiar. Porque, não, não pode ser de outra maneira.”

(Pintura de Jasper Johns)

Sem comentários:

Arquivo do blogue