16.7.07

Galos e galinhas ao virar da esquina





Perto de minha casa há uma loja de roupa muito conservadora, muito tradicional, entre o serôdio mais vintage e o bota-de-elástico inabalável, que assenta como luva de pelica às velhas carcaças da zona. O ritual é pouco variado. As boas das senhoras, com aquelas estalagmites laqueadas na cabeça, avançam de pincher (ou welsh corgi ou poodle ou chihuahua, ou qualquer outra raça suficientemente desprezível) pela trela ou na bolsa, enumerando as mazelas ao marido ou à amiga e justificando com o tempo chuvoso que se faz sentir a compra de mais uma mantinha bordada, de uma camisolinha interior, de umas meinhas de lã com losangos ou de um soutiã duplamente alcochoado. Não interessa para quem compram, o que importa é que estão a proteger a família destas desagradáveis alterações climáticas. Acho bem, quem é prevenido como elas viveu o suficiente para ter direito a empanturrar as rugas de base e a ostentar um cabelo oval sem cor perceptível. Até parece que tenho algo contra estas velhinhas de faringe carcomida pelo excesso de vogais nasaladas. Não, não tenho. Confesso que o facto de ocuparem todo o passeio quando deambulam no seu passo incerto e de se demorarem uma eternidade na caixa do Pingo Doce, ignorando a existência dos demais consumidores (normalmente apressados), a refilar pela ausência de stock do desodorizante Lycia, me dá vontade de as correr a varapau. São casos pontuais, levados a impulso pré-homicida quando os cães porta-chave enchem o passeio com o seu peso em merda perante o olhar complacente das donas. Mas enfim… Acalma-me o saber que aquelas córneas rançosas não verão melhores dias. Porquê chatear-me com criaturas cujo último prazer na vida é devorar queques Dan Cake em frente à TV? Adiante. Esta loja é peculiar: exibe uma obsessão por galos de Barcelos que começa a roçar o pornográfico, como se pode constatar nas fotos adjacentes. O que não percebo é se é uma manifestação de cultura pátria, um fétiche ou, pura e simplesmente, um sucesso de vendas por ali. O que, em plena Avenida de Roma, não deixa de ser uma saborosa ironia.

Sem comentários:

Arquivo do blogue