Rui Moreira, aqui iluminado pela direita.
Rui Moreira, ao comentar a actualidade política portuguesa no Hoje da RTP2, muito austero e com aquele ar levemente contrariado, para além de dizer “repare” muitas vezes, também gosta de se referir ocasionalmente à “extrema esquerda”. Repare, a linha pronunciada do seu queixo confere-lhe uma seriedade a ter em conta quando dribla habilidosamente as perguntas que o comprometem. Essa questão não se coloca, repare, há vozes dissonantes que se comprazem em criar ruído em torno destes assuntos, não é uma problemática de certo ou errado, é provável que a intenção não fosse essa, se observarmos cautelosamente tiraremos ilacções diferentes, não é uma medida inadequada se tivermos em conta que este executivo se tem pautado pela coerência. E pimba, lá vem a extrema esquerda, que é aquele conceito inventado pela direita mais conveniente que obstinada, a plantar foices e martelos à medida do discurso e a evocar as sobrancelhas de Cunhal para meter medo ao vulgo. Ó senhor, a esquerda estrebucha diariamente no lodo neoliberal, onde a sua modéstia interventiva é pautada pela incoerência frequente e por uma tentativa auto-sabotada de manter a dignidade. Não vale a pena puxar a corda argumentativa ao ponto do risível. Quem é que, na era da multiplicação virtual e da dissolução ideológica, ainda acredita nisso? A “extrema esquerda” foi um ar que lhe deu há mais de trinta anos e a sua descendência está senil há pelo menos quinze. Por favor prossiga para um argumentário mais consentâneo com a espectacularidade pretendida. Veja bem, não há nada de mais extremo do que a direita do momento: romanesca, espalhafatosa e trágica.
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