21.2.06
Época de caça
Não basta ter opinião. É preciso conquistá-la. E quanto mais baixo é o púlpito mais tendência há para berrar. Nem uma opinião se deve sobrepor à outra nem o insulto tem valor negocial, por isso esforcemo-nos por moderar o sopro. O som sobe, como a espuma, e eventualmente vozes dispersas acabam por se fazer uma. Discretamente, com piada, sem empáfia nem trombetas. Não abrindo mão da leveza mas fazendo uso de uma memória de sofrimentos, maiores ou menores, menos ou mais graves, mas intensamente interiorizados, reaproveitados. O que penso ou o que escrevo é o reflexo da banalidade de um quotidiano sem grandes barreiras mas sem grandes trajectos, sem grandes sonhos mas com um empenho realista em manter o lirismo, com fé mas sem crença. Os recursos de que eu e os meus congéneres fazemos uso são construídos contra e ao sabor dos outros, das velhas ideias, das opiniões vetustas, das estruturas paradistas, de pessimismos eternamente reciclados. Mas não são moldados por essas referências, embora muitas vezes subjugados. São pedrinhas contra uma parede de granito, mas são minhas, são nossas, aqui do meio da rua, da plateia, sem aparelho amplificador nem caução institucional. O que um burguês bafiento como MST tem para dizer poderá interessar a muita gente que lhe reconheça espírito douto. Eu penso, simplesmente, que não existe charme algum na sentença fácil, de charuto ao canto da boca e cadeirão de couro. De espingarda pronta para caçar a perdiz, com os serôdios parceiros de aventuras de jipe e comezainas fartas. O senhor barão MST assume o direito tranquilo a estes prazeres. Não o faz sossegada e silenciosamente, como um bom hedonista, antes partilha este e outros assuntos, não revelando vontade de aprofundar coisa alguma. Quanto ao direito a opinar que conquistou, de tão virtuoso caceiteiro ser, revela um total vazio na pertinência. Ficamos então a saber por que motivos este homem se sente “cercado”, num país que inibe as suas liberdades, quando até deveria reconhecer uma certa sorte por as poder desfrutar. Fico por aqui. MST que alimente o ideário dos fãs, dedicando-se às crónicas ociosas e aos romances de camilha* que tanta liberdade lhe têm depositado.
Este texto não é para nenhum Sousa Tavares, é para ti, amiga minha.
Para mais informações sobre caça também podes consultar www.netcaca.pt.
(*Obrigado, Rita)
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Arquivo do blogue
-
▼
06
(211)
-
▼
fevereiro
(65)
- Mais vale só...
- Carnaval animal
- Hassu kani
- June Carter Cash
- Isto & Aquilo
- A RUC na minha vida e a minha vida na RUC
- 100
- Isto & Aquilo
- Fashionistas & Glamazons
- 32 queijos
- Dois faunos
- Fashionista (sou eu)
- O lado obscuro dos animes
- A felicidade está na laranja
- Capice?
- Isto & Aquilo
- Esse quam videri
- Star Power
- Época de caça
- Opiniões alheias
- Mais morto que vivo
- Ninguém escreve a Sua Santidade
- A violência é uma atitude estética incompreendida
- A Bela e o Pérfido Terrorista Árabe
- Species em directo
- Isto & Aquilo
- Herói por um dia
- Afirmação
- We shall overcome
- A estupidez
- Ipsilonadas
- "Virgo intacta sum"
- Cardinálico tropical
- Isto & Aquilo
- Exemplar
- Dedicatória
- Valentim optimista
- Gay Pride
- Isto & Aquilo
- "Hoje somos todos dinamarqueses"
- Picardias na casa branca
- Deus Cansou-se de Nós
- Dinamarca...
- Há porcos em Marte
- Isto & Aquilo
- Looking for Comedy in the Muslim World
- Excesso de confiança
- Rasul-al-lah Superstar
- Caíram cavacos de neve
- Isto & Aquilo
- The beauty of the soul with the oppressive circums...
- Isto & Aquilo
- Somersault
- SONAE vs PT
- Diva extemporânea
- Quando o urso separou o casal de esquilos
- Isto & Aquilo
- Isto & Aquilo
- Ava
- Mnemónica
- Boicote radical
- Billy Boy
- Uma obsessão...
- Como vai ser?
- Crash
-
▼
fevereiro
(65)
Sem comentários:
Enviar um comentário