16.2.06

Cardinálico tropical

Ontem à tarde, nos correios, uma senhora dizia ao seu interlocutor telefónico para carregar no “asterístico”. Não sei se ela queria que ele fizesse explodir toda a base estrutural do léxico português de Portugal ou se pretendia criar um precedente estilístico, mas eu achei aquilo um perigo. Astestérico, mesmo, ou anticrístico. Estamos a falar de uma mulher com boa pinta, maquilhada, bolsa de marca, óculos escuros pendurados na cabeleira cuidada... Alguém que conseguiu digitar o número no seu telemóvel, aproximar os lábios a uma distância acertada do bocal, dirigir-se até ao balcão e tratar da papelada enquanto, convictamente, articulava os fonemas “a-s-t-e-r-í-s-t-i-c-o”. Num local público. Esta taliban linguística mostrou-se inclemente perante as reacções: os adenólides da senhora do lado incharam com o choque e as hemorraicas do funcionário estalaram mesmo ali... Ná. Tudo se processou em clima de indiferença. Acabei por concluir que, apesar do sistema de ensino fazer os possíveis para nos formatar, existirão sempre iconoclásticos com um pé no acelerador do progresso. Samba e revolução! Porreta.

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