27.2.06

Mais vale só...


Se não fizeres uso da liberdade de que usufruis para questionar o que tens, nunca saberás quem és nem nunca poderás estabelecer limites para o que te é exigido. Se não ganhares respeito com essa liberdade, estás reduzido à expressão mínima da existência. E é mais importante respeitares-te do que saber que te respeitam: o primeiro sentimento revela um estado superior de consciência, o segundo a volatilidade da opinião alheia. O primeiro, um domínio de si perante o mundo e uma comunhão saudável com tudo e com todos. O segundo, uma satisfação ilusória dada por tudo e por todos que só contribuirá para que te descabeles na primeira ocasião. És moderadamente livre e isso implica a enorme responsabilidade de presumir que todos os demais estão errados e que as suas intenções são danosas. Desconfia, persuade e afasta-te. A misantropia auto-regulada é meio caminho andado para uma felicidade bem calibrada.

24.2.06

Carnaval animal

Eis uma sugestão simples e original para o carnaval 2006.
Vistoso, criativo e fácil de executar. E, sobretudo, que prático! Uma sugestão nórdica para entrudos íntimos com forte componente kinky.

23.2.06

Hassu kani



O coelhinho teve de mostrar as garras e os dentes. Mas não usou o canhão. E uma recompensa bem grande para o coelhinho.

June Carter Cash



"What June did for me was post signs along the way, lift me when I was weak, encourage me when I was discouraged, and love me when I was alone and felt unlovable. She is the greatest woman I have ever known.”

(Biography, Johnny Cash)

Isto & Aquilo


Mr. Freedom, Gabin (2005)













Cliquem no título para ver o vídeo de "Into My Soul", featuring
a fabulosa Dee Dee Bridgewater.

A RUC na minha vida e a minha vida na RUC



Se existe algum sentimento de pertença a Coimbra, cidade onde nasci mas com a qual nunca me identifiquei, esse sentimento devo-o à RUC. Sendo uma criatura peculiar, para o bem e para o mal, ter entrado para a Rádio Universidade de Coimbra acabou por ser uma das experiências mais definidoras da minha vida. Foi uma luta – quando entrei, em 95, os caloiros não tinham muito apoio e tinham que se desenrascar e mostrar o que valiam, com a faca entre os dentes. Havia aquela coisa da aprovação dos mestres. As minhas referências eram pessoas como o Pedro Arinto e o António Silva, que faziam rádio com uma perna às costas: com prazer, técnica e cultura. Eramos todos uns putos, mas uns mais do que outros. Levou o seu tempo até encontrar o meu lugar, nunca desisti e a RUC recompensou-me de todas as maneiras que podia. Conheci um pouco da vida, lá dentro – do bom ao muito mau –, conheci e aprendi a respeitar outras mentalidades, maneiras de estar, gostos, que se reflectiam, quase sempre, na forma de fazer rádio. Aprendi o valor da comunicação (e um bom bocado de como a melhorar), desenvolvi a escrita para mil e uma rubricas, atirei-me de cabeça àqueles microfones, àquela mesa e aprendi a domá-los; partilhei ideias, pusemos muitas em prática, ri-me como nunca me tinha rido e como dificilmente voltarei a rir. Responsabilizei-me, disciplinei-me, aprendi a camaradagem e a colaboração. A RUC tornou-se a minha educadora, a minha família e o meu abrigo. Resgatou-me a um curso irremediavelmente chato e a uma cidade que me oprimia. Permitiu-me ser criativo, deu-me liberdade; frustrou-me e irritou-me, muitas vezes – virava-lhe as costas com frequência... para voltar sempre, com mais pica. Deu-me amigos de valor inestimável... Mais tarde fez-me sentir, também, um bocadinho ‘tutor’. Vivi quase tudo lá. O trajecto de iniciação, a aceitação, o ser olhado com respeito ou com antipatia, o passar conhecimentos aos mais novos. Tudo se misturou: músicas, vozes, filmes, estilos, conversas, emoções ao rubro, conhecimentos, muitas pessoas, festas académicas (que de outro modo teriam sido ignoradas), concertos, botões, cursos, mais botões e micros, régie, CDs com as caixas rachadas e as etiquetas gastas do uso por todo aqueles entusiastas, plenários intermináveis, gravações fora-de-horas, grelhas novas – entre o regabofe e a dedicação cega: directas, directas... – , textos e mais textos, programas da manhã a cair de sono, emissões especiais, passatempos, pessoal a ligar para dar os parabéns ou para insultar o nosso gosto imperial... E a malta, aquela malta que sabia que fazer parte da RUC era um privilégio e que esse privilégio tinha que ser mostrado e preservado. Eu sei, porque o senti, sempre. Quando percebi que tinha de partir, quis fazer as coisas de forma radical, porque se não o fizesse, seria mais doloroso e a minha identidade continuaria a confundir-se com a da RUC.

E hoje, olhando para trás, em grande medida confunde-se.

20 anos de vida. 20 anos sempre no ar. Parabéns!

22.2.06

100

(Uf...)

Isto & Aquilo



Hope in a Darkened Heart, Virginia Astley (1986)

Fashionistas & Glamazons



"fashionista
One entry found for fashionista.


Main Entry: fash•ion•is•ta
Pronunciation: "fa-sh&-'nEs-t&
Function: noun
Etymology: 1fashion + -ista (as in Sandinista):
a designer, promoter, or follower of the latest fashions."

Jovens precursoras. Coimbra, circa 1989.

32 queijos




"Even if I am in love with you
All this to say, what's it to you?
Observe the blood, the rose tattoo
Of the fingerprints on me from you

Other evidence has shown
That you and I are still alone
We skirt around the danger zone
And don't talk about it later

Marlene watches from the wall
Her mocking smile says it all
As she records the rise and fall
Of every soldier passing

But the only soldier now is me
I'm fighting things I cannot see
I think it's called my destiny
That I am changing

Marlene on the wall

I walk to your house in the afternoon
By the butcher's shop with the sawdust strewn
'Don't give away the goods too soon'
Is what she might have told me

And I tried so hard to resist
When you held me in your handsome fist
And reminded me of the night we kissed
And of why I should be leaving

Marlene watches from the wall
Her mocking smile says it all
As she records the rise and fall
Of every man who's been here

But the only one here now is me
I'm fighting things I cannot see
I think it's called my destiny
That I am changing

Marlene on the wall"


Parabéns, esquilinha marrom.

Dois faunos



Aos nossos melhores anos, miúda!
Aos mais fáceis, aos mais complicados e, sobretudo, aos mais folgazões.

1989, 1990, 1991, 1992, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997, 1998, 1999, 2000,
2001, 2002, 2003, 2004, 2005, 2006... e muito caminho por percorrer!


(Pintura de Oskar Kokoschka)

Fashionista (sou eu)
















"As founder and editorial director of Wallpaper magazine, the style and design bible for the fashionista, he is a man on first-name terms with good taste."

O lado obscuro dos animes


As crianças ficam confusas.

A felicidade está na laranja




"Donna moraru mo tomerarenai yo
watashi no kimochi wa
koi shita totan mawari no koto nado
kankeinaku naru no

Anata dake wo mune no oku ni
gyutto tsuyoku dakishimetara
mirai yuki no kumo ni nori
oozora kakete-yukitai

Happiness! Kimama ni happiness
anata wo mitsumeru dake de subete ga
Happiness! Hitomi mo shiawase
mabushii yume ga afureru no

Kakehiki mo mata taisetsu datte
minna wa iu kedo
hanabira no you ni tada masshigura na
kokoro wo sakasetai

Tatoe watashi kizutsuite mo
kitto koukai nado shitai
tokimeiteru kono kimochi
hitotsu mo uso wa nai kara

Happiness! Sunao ni happiness
itsudemo kazaranai ai butsukeru
Happiness! Anata ga taisuki
ima namida sae itoshikute

Happiness! Kimama ni happiness
anata wo mitsumeru dake de subete ga
Happiness! Hitomi mo shiawase
mabushii yume ga afureru no

Happiness! Sunao ni happiness
itsudemo kazaranai ai butsukeru
Happiness! Anata ga taisuki
ima namida sae itoshikute"


Tudo o que precisamos de saber sobre a felicidade está na série de TV Kimagure Orange Road. Quem conseguir traduzir a letra do tema-título, Kimama ni Happiness, descobre a chave para a dita. Certo certo é que eles repetem muitas vezes "happiness" e o visual da série é alegre e espevitado. Foi por acaso que tropecei nesta curiosidade e fiquei a saber que é um enorme sucesso no Japão, onde deu origem a filmes, discos, programas de rádio e diversas publicações. Também achei piada ao facto de esta letra já ser uma tradução dos três alfabetos nativos. Se alguém arranjar o disco pode fazer um singalong ou efectuar exercícios elocutórios antes de uma apresentação, aula, conferência ou como preparação para um transe, se se repetir "gyutto tsuyoku dakishimetara hanabira no you ni tada masshigura na" 10 vezes, muito rápido e sem hesitar.
Do país que inventou as chinelas-esfregona para gatos, onde Sylvester Stallone faz anúncios a fiambre enlatado e onde, por fim, não existem canhotos, vem a série dos laranjinhas felizes. Seguramente, um apropriado e mais edificante substituto do Pokémon.

Capice?



Em boa verdade, há já muito tempo que o que tens para dizer deixou de me interessar.
Não, não significa que as coisas que dizes tenham perdido o interesse.
O gosto deste público mudou. É tudo.

21.2.06

Isto & Aquilo


Nós Matámos o Cão-Tinhoso!, de Luís Bernardo Honwana (1964)

Esse quam videri

Star Power


Foi um dos actores mais fortes e promissores dos anos oitenta.
As suas interpretações em “Noites Escaldantes”, ao lado de Kathleen Turner, e “Os Amigos de Alex”, ambos de Lawrence Kasdan, impuseram uma presença inquietante mas suave, de galã sem realmente o ser. Destinado ao papel de herói, quebrou o espelho com a personagem do vulnerável Luis Molina em “O Beijo da Mulher Aranha”. Recompensado com um Oscar, voltou a impor a sua carnalidade sacana n’ “Os Bastidores da Notícia” e deu nova mostra de versatilidade como o misantropo Macon Leary em “Turista Acidental”, mais uma vez pela mão de Kasdan e com Kathleen Turner por parceira. Os anos noventa foram uma sucessão de divórcios (demasiado) públicos, problemas com o álcool e as drogas, conflitos com realizadores e mais uma relação fracassada (com a actriz Sandrine Bonnaire, que lhe deu uma filha). Entre vícios, amantes e pensões alimentares, o talento e o dinheiro de Hurt pareciam irremediavelmente desperdiçados. Uma longa fila de fracassos de bilheteira levou a uma baixa de forma da qual só foi resgatado pelos excelentes desempenhos no belíssimo Second Best, do director de fotografia Chris Menges, em “Podia-te Acontecer”, com Meryl Streep e Renée Zellweger, e no épico Sunshine. Spielberg contratou-o para “A.I.: Inteligência Artificial”: com a melancolia marcada no rosto – apropriada ao papel – e um carisma renascido, Hurt entrava numa nova fase da sua vida e da sua carreira. “A Fonte Misteriosa” e “A Vila” confirmaram-no. Em 2005, William Hurt participa em Syriana e surge, imperial, no muito aguardado A History of Violence, de David Cronenberg, que o traz mais uma vez à ribalta dos Oscars. Este ano, The Good Shepherd, de Robert DeNiro. The man is back.

Época de caça


Não basta ter opinião. É preciso conquistá-la. E quanto mais baixo é o púlpito mais tendência há para berrar. Nem uma opinião se deve sobrepor à outra nem o insulto tem valor negocial, por isso esforcemo-nos por moderar o sopro. O som sobe, como a espuma, e eventualmente vozes dispersas acabam por se fazer uma. Discretamente, com piada, sem empáfia nem trombetas. Não abrindo mão da leveza mas fazendo uso de uma memória de sofrimentos, maiores ou menores, menos ou mais graves, mas intensamente interiorizados, reaproveitados. O que penso ou o que escrevo é o reflexo da banalidade de um quotidiano sem grandes barreiras mas sem grandes trajectos, sem grandes sonhos mas com um empenho realista em manter o lirismo, com fé mas sem crença. Os recursos de que eu e os meus congéneres fazemos uso são construídos contra e ao sabor dos outros, das velhas ideias, das opiniões vetustas, das estruturas paradistas, de pessimismos eternamente reciclados. Mas não são moldados por essas referências, embora muitas vezes subjugados. São pedrinhas contra uma parede de granito, mas são minhas, são nossas, aqui do meio da rua, da plateia, sem aparelho amplificador nem caução institucional. O que um burguês bafiento como MST tem para dizer poderá interessar a muita gente que lhe reconheça espírito douto. Eu penso, simplesmente, que não existe charme algum na sentença fácil, de charuto ao canto da boca e cadeirão de couro. De espingarda pronta para caçar a perdiz, com os serôdios parceiros de aventuras de jipe e comezainas fartas. O senhor barão MST assume o direito tranquilo a estes prazeres. Não o faz sossegada e silenciosamente, como um bom hedonista, antes partilha este e outros assuntos, não revelando vontade de aprofundar coisa alguma. Quanto ao direito a opinar que conquistou, de tão virtuoso caceiteiro ser, revela um total vazio na pertinência. Ficamos então a saber por que motivos este homem se sente “cercado”, num país que inibe as suas liberdades, quando até deveria reconhecer uma certa sorte por as poder desfrutar. Fico por aqui. MST que alimente o ideário dos fãs, dedicando-se às crónicas ociosas e aos romances de camilha* que tanta liberdade lhe têm depositado.

Este texto não é para nenhum Sousa Tavares, é para ti, amiga minha.
Para mais informações sobre caça também podes consultar www.netcaca.pt.

(*Obrigado, Rita)

Opiniões alheias








"Já faltou mais para que um dia destes tenha de passar à clandestinidade ou, no mínimo, tenha de me enfiar em casa a viver os meus vícios secretos.
Tenho um catálogo deles e todos me parecem ameaçados:

sou heterossexual «full time»;

fumo, incluindo charutos;

bebo;

como coisas como pezinhos de coentrada, joaquinzinhos fritos e tordos em vinha d'alhos;

vibro com o futebol;

jogo cartas, quando arranjo três parceiros para o «bridge» ou quando, de dois em dois anos, passo à porta de um casino e me apetece jogar «black-jack»;

não troco por quase nada uma caçada às perdizes entre amigos;

acho a tourada um espectáculo deslumbrante, embora não perceba nada do assunto;

gosto de ir à pesca «ao corrido» e daquela luta de morte com o peixe, em que ele não quer vir para bordo e eu não quero que ele se solte do anzol;

acredito que as pessoas valem pelo seu mérito próprio e que quem tem valor acaba fatalmente por se impor, e por isso sou contra as quotas;

deixei de acreditar que o Estado deva gastar os recursos dos contribuintes a tentar «reintegrar» as «minorias» instaladas na assistência pública, como os ciganos, os drogados, os artistas de várias especialidades ou os desempregados profissionais ;

sou agnóstico (ou ateu, conforme preferirem) e cada vez mais militantemente, à medida que vou constatando a actualidade crescente da velha sentença de Marx de que «a religião é o ópio dos povos»;

formado em direito, tornei-me descrente da lei e da justiça, das suas minudências e espertezas e da sua falta de objectividade social, e hoje acredito apenas em três fontes legítimas de lei: a natureza, a liberdade e o bom senso.

Trogloditas como eu vivem cada vez mais a coberto da sua trincheira, numa batalha de retaguarda contra um exército heterogéneo de moralistas diversos:

os profetas do politicamente correcto,

os fanáticos religiosos de todos os credos e confissões,

os fascistas da saúde,

os vigilantes dos bons costumes ou

os arautos das ditaduras «alternativas» ou «fracturantes».

Se eu digo que nada tenho contra os casamentos homossexuais, mas que, quanto à adopção, sou contra porque ninguém tem o direito de presumir a vontade «alternativa» de uma criança, chamam-me homofóbico (e o Parlamento Europeu acaba de votar uma resolução contra esse flagelo, que, como está à vista, varre a Europa inteira)(...)."


Excerto de crónica ("Cerco") de Miguel Sousa Tavares no jornal Expresso.

20.2.06

Mais morto que vivo







Pete Burns é um dos expoentes trash dos anos 80. Em telediscos de exuberância rara, cometeu proezas com um cinto, um bastão de baseball e a capacidade vocal de um traqueostomizado. Ao ritmo da produção industrial de Stock, Aitken & Waterman, que pariu, entre outros, os monstros talentos de Sinitta, Princess e Mel & Kim, Burns agitava a tanga de leopardo e arrepanhava furiosamente a juba assassina, chamando a atenção de uma audiência ávida de PVC colorido e de inefáveis alusões sexuais. Dead or Alive, o grupo de Pete Burns, conheceu o seu maior êxito com o single “You Spin Me Round”, no apogeu dos anos de pechisbeque (1986). Recentemente a música fez-se ouvir de novo nas rádios inglesas, sofreu uma reedição e voltou ao top inglês. E porquê? Porque o artista se transformou num caldo Knorr protagonista do Big Brother britânico. A nação aguarda, ansiosa, que as patacas se convertam numa siliconada geral para dar forma àquela aparência. É de fazer inveja à nossa dura realidade.

Ninguém escreve a Sua Santidade



Porque será?...

A violência é uma atitude estética incompreendida



É óbvio que os americanos se mostram inflexíveis em fechar uma das suas maiores contribuições para a geografia militar. Uma obra consumada de paisagismo bélico e um arauto da vigilância zelosa que sempre os caracterizou. Tanta especulação em torno de supostos abusos de violência não irá roubar o orgulho e a beleza de uma imagem destas. Quem sabe Bush não fará de Guantánamo a sua Elba?
Alguém se despache com o arsénico.

A Bela e o Pérfido Terrorista Árabe




Esta menina participa em vídeos formativos do governo americano. Com passagem assegurada em escolas do Sul dos EUA, lares da terceira idade e convenções do partido Republicano, estes pequenos filmes demonstram a necessidade de manter Guantánamo aberta e exibem a verdadeira narureza dos presos para aí levados. Para comprovar que também os carcereiros estão sujeitos às elevadíssimas temperaturas que, alegadamente, levam os prisioneiros à loucura, esta valente militar despiu o uniforme. Empunhando o seu revólver e acariciando o crucifixo, mantém em respeito um perigoso terrorista árabe. O produto da cópula entre Donald Rumsfeld e Ann Coulter
não faria melhor pela pátria. Se bem que é mais provável que tivesse o aspecto da criatura da direita.

Species em directo












"The government should be spying on all Arabs, engaging in torture as a televised spectator sport, dropping daisy cutters* wantonly throughout the Middle East and sending liberals to Guantánamo."

A minha badalhoca favorita volta à carga na sua coluna semanal. Ann descarrega a bílis sobre os opositores ao fecho de Guantánamo. Graças a messalinas multimédia como esta querida, os Estados Unidos podem orgulhar-se de serem o paradigma do deboche de expressão. Haverá atitude mais liberal e permissiva do que deixar esta mulher grasnar? Seria giríssimo ver a bebé sozinha no pátio do Camp X-Ray, numa gaiola de um metro quadrado a tentar roer o cadeado, com um detonador enfiado no rabo. Mas de que ovo saíu este espécime e quem é que lhe dá cobertura? Não está escrito algures que Ann Coulter é ela própria uma infracção grave à Convenção de Genebra e que deverá ser desmembrada ao vivo por quatro corcéis brancos em fúria?
Enfim... Podia ser tudo muito risível, mas esta bimba argentária de maquilhagem perfeita esconde uma realidade tétrica: não é uma figura de ficção e há quem a leve a sério.


*Bomba BLU-82: é usada sobretudo para destruição localizada e desestabilização psicológica, pelos efeitos sísmicos e saturação atmosférica que provoca.

18.2.06

Isto & Aquilo


Imaginary Heroes ("Heróis Imaginários"), de Dan Harris, 2005

Herói por um dia









"Hoje a minha concepção do herói coincide com a que eu tenho do homem-tal-como-ele-deveria-ser: um herói é aquele que consegue fazer frente a uma situação difícil e ambígua conservando ao mesmo tempo uma certa ética. Guerreiro ou pacifista, o herói é aquele que consegue tornar-se ou manter-se plenamente humano. O herói é, ou deveria ser, o Homem."

Hugo Pratt

Afirmação


I don't have much of a history. But, hell, I made one!

17.2.06

We shall overcome



We shall overcome We shall overcome We shall overcome some day Chorus: Oh deep in my heart I do believe We shall overcome some day We'll walk hand in hand We'll walk hand in hand We'll walk hand in hand some day Chorus: We shall all be free We shall all be free We shall all be free some day Chorus: We are not afraid We are not afraid We are not afraid today Chorus: We are not alone We are not alone We are not alone today Chorus: The whole wide world around The whole wide world around The whole wide world around some day Chorus: We shall overcome We shall overcome We shall overcome

some day

A estupidez

Percorre sempre os mesmos telhados e cai inevitavelmente nos mesmos pátios.

Ipsilonadas







O jornal Público - e mais especificamente o suplemento cultural Y -, continua a surpreender-nos com as suas propostas arrojadas. Não é apenas a qualidade superior da escrita,a linha editorial de finíssimo recorte ou o gosto muito à frente, muito acima e muito mais do que alguém algum dia gostou. Atente-se na aventura gráfica da semana passada. Digam lá se o Jake Gyllenhaal não fica bem com a cabecita à banda, a bochecha esquerda semi-amputada, o pescoço cortado e as mãos do Heath Ledger. E as calças. E os sapatos. E já agora a gravata, coberta pelo Sr. Photoshop de serviço, de língua ao canto (cliquem nas fotos para um close-up). Senhores, já ouviram falar da Getty ou de bancos de imagens em geral? Ou isso está tão mal que gastar mais uns cobres numas fotos trazia a casa abaixo? Acham que os leitores estão assim tão distantes de uma linha linear de pensamento ou a vossa política é mesmo esotérica? Já agora qual o próximo passo: um anúncio de página inteira a apregoar a estreia mundial d’ “O Filho do Máscara”?

16.2.06

"Virgo intacta sum"



"We should invade their countries, kill their leaders and convert them to Christianity. We weren't punctilious about locating and punishing only Hitler and his top officers. We carpet-bombed German cities; we killed civilians. That's war. And this is war."

“Whether they are defending the Soviet Union or bleating for Saddam Hussein, liberals are always against America. They are either traitors or idiots, and on the matter of America's self-preservation, the difference is irrelevant.”



Ann Coulter é uma maravilha. Sozinha e de uma só bordoada, consegue dizimar historicamente as sufragistas, as feministas rebeldes, as humanistas, as progressistas, as congressistas do partido Democrata e as neo-liberais mais assanhadas. Ao pé dela, Hillary Clinton é Nossa Senhora de Fátima e, por sua vontade, a dedicação sabuja de Condoleezza Rice seria recompensada com 40 acres e uma mula e não projecção governamental. Do alto das suas tamancas retintamente fascistas, esta intrépida republicana faz sombra às ambições inconfessáveis de Thatcher, ao empenho social de Imelda e à devoção patriótica de Magda Goebbels. Enquanto cita a tríade do mal (Reagan, Bush pai e Bush filho) em convulsões de prazer, Coulter invectiva toda e qualquer manifestação de sentido democrático. Vê-la na TV é como assistir a um espectáculo de evocação espírita, com a presença de Torquemada, Ceausescu e os ideólogos do Ku Klux Klan. Com os seus longos cabelos louros, corpo seco e feições marcadas, esta amazona do reaccionarismo esmaga sem pestanejar o bom e o bem. É uma seguidora e uma crente de tudo o que é francamente execrável, exercendo o seu direito de opinion maker. Com a mesma veemência, Lucrécia Bórgia, em 1498, convenceu o Vaticano da sua virgindade, embora estivesse grávida de 6 meses.
Partilhando da mesma capacidade de persuasão alarve e de algum eventual episódio de consanguinidade, Ann e Lucrécia, mulheres de personalidade metálica, são símbolos do anti-feminismo, de determinação cega perante os objectivos e de uma dissolução generalizada dos valores mais elementares. Quanto a mim, porém, Ann não mostraria a maminha pelo partido Republicano, ou mostrarias, babe? Respeito.

Cardinálico tropical

Ontem à tarde, nos correios, uma senhora dizia ao seu interlocutor telefónico para carregar no “asterístico”. Não sei se ela queria que ele fizesse explodir toda a base estrutural do léxico português de Portugal ou se pretendia criar um precedente estilístico, mas eu achei aquilo um perigo. Astestérico, mesmo, ou anticrístico. Estamos a falar de uma mulher com boa pinta, maquilhada, bolsa de marca, óculos escuros pendurados na cabeleira cuidada... Alguém que conseguiu digitar o número no seu telemóvel, aproximar os lábios a uma distância acertada do bocal, dirigir-se até ao balcão e tratar da papelada enquanto, convictamente, articulava os fonemas “a-s-t-e-r-í-s-t-i-c-o”. Num local público. Esta taliban linguística mostrou-se inclemente perante as reacções: os adenólides da senhora do lado incharam com o choque e as hemorraicas do funcionário estalaram mesmo ali... Ná. Tudo se processou em clima de indiferença. Acabei por concluir que, apesar do sistema de ensino fazer os possíveis para nos formatar, existirão sempre iconoclásticos com um pé no acelerador do progresso. Samba e revolução! Porreta.

14.2.06

Isto & Aquilo


Twin Parts, Dana Schutz, 2004

Exemplar


Foi ontem revelado o cartaz oficial do próximo filme de Oliver Stone. Um exemplo de discrição, subtil e respeitoso, para um tema ϋber delicado. Tem impacto sem fazer espectáculo e é bonito sem ser sentimental. A iconografia, inteligentemente aproveitada, não cai na exploração patriótica das mazelas locais. Lá estão as duas figuras humanas, sobriamente heróicas, vamos ver agora o que nos reservam as intenções do cineasta.

Dedicatória



The art of losing isn't hard to master:
so many things seem filled with the intent
to be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn't hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
places, and names, and where it was you meant
to travel. None of these will bring disaster.

I lost my mother's watch. And look! My last, or
next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn't hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn't a disaster.

- Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan't have lied. It's evident
the art of losing's not too hard to master
though it may look like (Write it!) like disaster.



One Art, Elizabeth Bishop

Valentim optimista


A mensagem do dia para os corações solitários, acompanhados, quentes e frios, calmos e impulsivos. Mas só para os grandes. Para os pequenos não.

10.2.06

Gay Pride



Guardem os cristais e as porcelanas.
Ela está de volta e com três Grammy nos... no decote.

Madonna pode fazer os melhores alongamentos, mas Mariah tem a laringe mais temível do planeta Terra.

Isto & Aquilo


Lotus, Lee Krasner, 1972

"Hoje somos todos dinamarqueses"





Eu sei que existe todo um complexo socio-cultural, que estas situações não podem ser vistas a preto-e-branco, etc.
Mas não, não deve haver limites para a liberdade de expressão. Não deve haver limites para a liberdade, ponto. Não há limites para a estupidez e para o mau-gosto, é certo. E não há limites para o fanatismo, infelizmente.

Se uma parte se revela ‘tolerante’ e ‘moderada’ quer com isso dizer que se mostra civilizacionalmente superior face à parte ‘lesada’, ou, simplesmente, que se borra de medo, negando valores conquistados ao longo de séculos e à custa de tantas vítimas? É o típico prato ocidental: filet de arrogância, em molho de cobardia . Mas que raio há aqui a 'tolerar'?...

Se o meu chefe me ofende, devo rasgar-lhe a caródita em retaliação? Hum... é melhor não. Por razões funcionais, meramente: ele detém o poder, eu perdia o meu sustento e seria difícil escapar à choldra. Mas, se calhar... noutro espaço, com um bom séquito ou simples companheiros de ocasião, até se podia pôr o gajo num pneu. Seria questão de transmitir o entusiasmo necessário.
Do pensamento (e do que por ele possa passar) à acção vai um oceano que delimita a consciência humana da barbárie mais vil. Não há qualquer água a colocar no flambé islamofascista. Não se devia sequer invocar a santa liberdade de expressão em vão! E quanto a complexos, estes pirómanos já incineraram o socio-cultural e bem gostariam de arrasar tudo o que lhes desse na gana: fauna e flora, físico e metafísico, vivo ou morto.

Sirva-se aqui, não o filet, mas a arrogância ocidental inteira, animal e viva.

Que outra defesa senão esta: livre expressão!

(Leia-se o artigo de Jeff Jacoby no The Boston Globe)

Picardias na casa branca



Pede-se aos sofistas parlamentares que deixem de arrotar postas de pescada com molho à espanhola sobre assuntos que nada trazem de novo e se debrucem sobre o estado da nação. Enquanto Alegre e companhia se dedicam ao jogo do "toma, toma!" em torno da liberdade de expressão, de culto e de tudo o que venha a talhe de foice (salvo seja, são 14 assentos), exemplificando o mais primário estado de desunificação e inconsistência, a vida continua, neste pedaço de tábua carunchosa que navega sem rumo por águas europeias. A manter-se o figurino teremos a populaça a destruir a Assembleia da República para consertar os casebres com os democráticos tijolos. Se não ligarem à terra o quanto antes, um dia veremos os senhores deputados a deliberar sobre o eminente ataque dos sarracenos e a exigir estado de sítio profiláctico no Martim Moniz. Debrucem-se, debrucem-se, senhores, não vai mudar nada, mas pelo menos fingem que justificam esses chorudos ordenados.

9.2.06

Deus Cansou-se de Nós



Infelizmente existem casos de perseguição demente muito mais graves do que a fantochada tão divulgada nas últimas semanas. Dentro de portas, contra crianças. Este é no Sudão mas podia ser noutro ponto do globo, contextualizado por outras crenças quaisquer. God Grew Tired of Us recebeu dois prémios no Festival de Sundance e parece ser um documentário poderoso e honesto. Tem ganho os seus seguidores e tudo indica que o iremos ver por cá. Para já, um cartaz lindíssimo e um dos títulos mais pungentes e verdadeiros que tenho visto.
Para saber mais, cliquem no título.

Dinamarca...



...depois do 747.

Há porcos em Marte



Esta estranha máscara foi fotografada pela sonda Mars Global Surveyer na superfície do planeta vermelho. Pode ser um adereço de "O Planeta dos Macacos", versão Tim Burton - o que se faz para esconder as provas -, o fato de Darth Vader (e com sorte George Lucas lá enterrado com ele), o Bobi fossilizado da Dona Preciosa, habitante do Entroncamento, que fugiu de casa um dia atrás de uma Tareca; pode ser Deus em visita informal, pode ser uma das bizarrias da sociedade depois de nova plástica na clínica intergaláctica do Dr. Ivo Pitanguy; pode ser pau, pedra, o fim do caminho, Dr. StrangePork, Elvis, Joan Collins, o chimpanzé Bubbles, o grande irmão, Zventibold Szvatopluk, Ana Salazar - aquele fogoso cabelo de cydiana sempiterna... Pode também não ser Marte e, inclusivamente, não ser uma máscara. Clique no link acima e saiba tudo o que nunca quis saber sobre o dito planeta. Incluindo a explicação da figureta.

Isto & Aquilo


Vida Urbana, Cristiano Burmester, 2005

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