11.9.09

A vibrar com a Experimenta



"Sei que ela é provocatória, mas quis expressar o exacto momento em que fui convidada e a excitação inerente a isto."

A cautelosa Guta Moura Guedes não terá previsto que algum dos criadores que gentilmente acederam a promover-se no espaço Coca-Cola incorporasse elementos desestabilizadores nas suas peças. Afinal, era um espaço da Coca-Cola. A marca que se transformou na epítome do capitalismo graças à indução globalizada de um impulso inexplicável: ingerir água gaseificada com açúcar. Que esteja a encher os bolsos da Experimenta Design com um patrocínio desta natureza fará sentido se olharmos para as peças como meros artifícios de marketing, desprovidas de substância e de intencionalidade. Algo que, desde logo, não se esperaria de um evento que se firma no pressuposto “está na hora de fazer alguma coisa, de tomar uma atitude”. ‘Bora lá colaborar com a Coca-Cola. Resultados mais evidentes, até ver, são o choque e o drama. Imagens do Holocausto? Alusões ao 11 de Setembro? Não. Um vibrador. Uma criadora insubmissa decide enfiar um manguito contundente na sua estatueta dourada, eruptindo de umas calcinhas spandex que desafiantemente a revestem. O marketing da Coca-Cola entrou em colapso hiperglicémico e obrigou a organização a retirar a peça. Se tal não fosse feito, fechava a tasca ou contratava uns mercenários galegos para partir aquela porcaria toda. Claro que a bela encantadora de serpentes já veio a público dizer que a artista “não respeitou o briefing” (Cláusula 5: está estritamente proibida a utilização de dildos, vibradores e outros massajadores faciais) e a rapariga, mais a publicidade à borla, levou a peça para onde pudessem admirar a sua singular iconoclastia e, quem sabe, levá-la para casa por uma soma simbólica.
Quem é mais esperto, Guta? Eu voto na Catarina Pestana, que pelo menos tem sentido de humor. De resto, ganham a irrelevância e o provincianismo, como é tão cansativamente recorrente neste belo Portugal.

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