
Luiz Pacheco não é exemplo para ninguém, nem na vida nem na escrita. Era uma célula de desprezo pelo mundo que o continha. A autoridade que o oprimia e desafiava não foi mais destrutiva do que o seu próprio génio, mas seguramente, potenciou-o. Um homem feito raiva, álcool, sexo, vileza, franqueza, vigor, fraquezas muitas em doses aleatórias e generosas. Que escrevia sobre isso e sob isso. Pacheco no mundo e contra o mundo.
Era adolescente quando li O Libertino passeia por Braga e quase percebi a solidão lúbrica que o invadia. Vi um animal abandonado, visceral e inconsequente, provocador e desolado. Claro que está lá mais do que isso. Mais do que, à altura, saberia descortinar. Mas suficiente para informar a minha juventude do que era crueza de pensamento e subversão escrita. Suficiente para marcar tantas outras existências de formas diversas.
Luiz Pacheco não tem nem poderia ter uma “obra” exemplar. Porque não foi esse o seu desígnio. O mestre do neo-abjeccionismo morreu. Ó corifeus da literatura, ó ratos de sacristia, deixem o homem desaparecer em paz.

Sem comentários:
Enviar um comentário