13.4.07

Os nossos valores: José Sócrates


José Sócrates é apenas humano. Foi humano ao mentir sobre o curricula à medida dos acontecimentos que moldavam os seus objectivos. Foi humano ao criar confusão até ao ponto em que se duvida agora se ele mantém registo mental do seu próprio percurso. A inconsistência é humana. A capacidade de liderança de um indivíduo não deve ser determinada pela sua preparação formal mas pelo seu percurso vivencial. É portanto irrelevante que a formação académica de Sócrates seja, para o efeito, Engenharia, Oceanografia ou Português - Italiano. Dadas as circunstâncias, a existência de alguns cursos politécnicos no horizonte do Primeiro - Ministro seria até preferível ao término da Licenciatura, caso alguma vez o pondere. Sócrates tentou a sua sorte e os ventos correram-lhe de feição. Com um empurrãozito aqui e além. É muito português uma pessoa saber safar-se mistificando. Quanto ao seu papel de timoneiro, bom, cedo (ou demasiado tarde) se percebeu que a falibilidade é humana. A ambição e o farisaísmo foram vindo ao de cima, associados à obtenção rápida de proveitos pessoais em detrimento do dever estatal. O temperamento fogoso e uma demagogia ora emproada ora dengosa revelavam, porém, um novo estilo de caciquismo, mais desportivo e empenhado em arrumar a casar. Torná-la mais aconchegada para si e para os seus. Quem não o desejaria. Mesmo que para isso tenha tido de sacrificar tantos carneiros (leia-se administração pública) ao altar do Simplex. O poder corrompe e faz crescer. Alguns. Não sejamos invejosos, caramba. Não cobremos a Sócrates o seu suposto estatuto de Engenheiro. Ser Senhor neste país é um castigo demasiado pesado. O nosso Primeiro é claramente um homem de recursos e de espírito sonhador, mas não é de ferro. E o espírito humano é fraco. Talvez não seja o mais adequado para as necessidades estruturais de Portugal, mas é suficiente para manter entretida a nossa essência prosaica. Não é o Homem, por definição, um enigma? Quem é afinal este que nos governa? Um suicida desesperado, capaz de nomear Manuel Pinho como Ministro da Economia e da Inovação? Que charada emocionante. José Sócrates é o paradigma do governante tão flagrantemente humano que nos convenceu de que o é, realmente. Algo que Cavaco nunca tentou e por isso é hoje o máximo representante da Nação: nunca se enganou e raramente teve dúvidas. De Sócrates a História não guardará memória. A não ser do apelido e da infeliz herança que prolongou neste risível país.

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