9.4.07

Miar, nunca, arranhar, sempre!



Num país onde nada acontece que não tenha acontecido já e que não continue a acontecer, com a variável colocada no grau de decadência, o cartaz que o Gato Fedorento colocou no Marquês, ao lado do esguicho fascista do PNR é assunto de todas as mentes, bocas e escrevinhações. Junto-me ao curral para celebrar a atitude do quarteto de comediantes, que pagou do seu bolso a diabrura, assumindo uma posição cívica e, sim, não há como negá-lo, política. O PNR talvez seja um exotoxina no panorama político português e, mais importante, na sociedade lusa – que como é notório cada vez menos se revê no carnaval partidário e, privada de colo e autoridade, padece de azia opinativa e de anemia interventiva –, mas talvez não seja um produto assim tão pírrico, dado o contexto que o vê nascer. Muitas razões, portanto, para aplaudir a intervenção pronta de um dos mais influentes pólos de opinião da actualidade, este quarteto de comediantes munido de iconoclastia pontual – e imprevista – e autoderrisão suficiente para eliminar a pomposidade que o acto começa a convocar. Não somos apenas nós que lucramos com a inteligência oportuna e inédita do Gato. Confinados ao púlpito cativo – ok, e ocasionalmente profanado – da TV estatal, a pandilha dos quatro encontra aqui uma forma de superar as limitações que supostamente os confina, num acto que só contribuirá para aumentar a sua notoriedade. Ricardo Araújo Pereira tem toda a razão quando diz que a comunicação social deu uma projecção despropositada ao solitário billboard do partideco da reacção (vide a introdução deste mesmo texto), mas o facto é que nem ele nem os colegas se podem ou devem eximir do "acto político". Refugiarem-se no argumento da “piada” e de “uma coisa “para fazer rir” é seguir o mesmo caminho da indolência que nos esmaga a todos sem remissão. É assumir a posição de meninos bem que fazem travessuras caras para arreliar os senhores crescidos. Fazer humor que se quer inteligente é sempre um acto político e uma afirmação de contra-poder, não fosse o Diz Que É Uma Espécie de Magazine uma reciclagem, ao ritmo dos acontecimentos, das maiores ridicularias, diatribes, aldrabices e outras malfeitorias que minam este país e o transformam num maná de oportunidades para os cómicos. Para os cómicos e para parasitas insidiosos como as criaturas do PNR. Avançar com um “não foi um acto político” ou tergiversar com a história do “dia de sol” é mitigar a investida e não deixar espaço para inquietações. Politizar os discursos e as atitudes não tem um sentido restrito nem facilmente situável, não tem que carregar uma sempiterna conotação negativa. Estamos a falar de comunidade, de interesse público, de muita gente que precisa de boas referências. Não se descartem. Já se viu que têm tomates, carreguem-nos até às últimas consequências. Para dar azo à especulação útil é necessário politizar, não relativizar. Isso é a nossa infeliz cultura e é por isso que “com portugueses não vamos lá”.

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