30.4.10

Hard copy 17


... E foi assim que a Panasonic apresentou o gremlin das televisões.

Delusion



- You are obviously quite the angry man.
- I am.
- And how do you deal with that?
- I kick ass.

Revolução? Qual revolução?



Há alguns dias a SIC transmitiu uma reportagem coordenada por Cândida Pinto sobre a corrupção em Portugal. Apesar de se centrar nas negociatas entre câmaras e construtores civis, o retrato traçado foi tão representativo quanto lapidar. Nas implicações sombrias e nas consequências gravíssimas para as poucas consciências que ousaram agir. De centenas de denúncias resultaram zero condenações, muitos processos arquivados e tantos outros em lista de espera, numa babel de burocracia e água suja. Um trabalho jornalístico louvável que funciona, ironicamente, como dissuasor definitivo, na ilustração chocante de como a tua honestidade pode arrasar a tua vida. Impressionou-me, acima de tudo, o testemunho de Teresa Goulão, especialista em Direito do Ambiente e ex-presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana da Zona Oriental de Lisboa, entre outros casos abordados com contornos de thriller psicológico. A sua revolta e impotência perante o primado da escroqueria reflectem, de forma tragicamente vivida, o desalento de todos aqueles que vêem desaparecer inapelavelmente os últimos gramas de idealismo e de esperança neste pequeno grande cagalhão de país.

Este post deveria ter sido publicado a 25 de Abril. Fica a intenção.

23.4.10

Marias da França

Lembro-me de, um dia, a imortal Maria de Medeiros ter anunciado ao mundo, numa entrevista, que era dos rissóis de camarão que sentia mais saudades quanto estava longe de Portugal. Isto marcou-me de forma irreversível e penso que até abordei a questão num post qualquer. Não a posso recriminar. Em anos recentes, aquilo de que sinto mais falta quanto não estou em Portugal (o que é raro) é de não estar em Portugal. Mas eu não tenho opção, as manas de Medeiros têm. Vejamos, uma vem cá fazer umas performances vocais que deviam ser pagas a croquetes de carne reaproveitada, que os camarões merecem melhor destino. Ninguém te leva a sério como cantora em Paris, Maria? Já apanharam com a Jane Birkin e a Isabelle Adjani, a Carla Bruni entretanto passou de moda e agora é a Charlotte Gainsbourg que se aventura nas miadelas. Só há mercado para uma mignone com voz de flauta de cada vez, e tu já não vais para fresca. É como os rissóis, são melhores acabados de fazer. Já agora, ó Maria, diz à tua irmã que se resolver cantar talvez anime a vida no Parlamento. Dir-se-ia que trocar uma carreira de (má) actriz e de (promissora) documentarista por um estado comatoso não é uma opção interessante. A não ser que viajar para Paris em 1ª classe à custa dos contribuintes portugueses constitua a concretização de todo um projecto de vida.
Mas o que se passa com estas gajas? Já tiveram alguma mística. Agora só têm franjas e muita lata.

Hard copy 16



Quanta ingenuidade, nos idos anos 70.

22.4.10

Debaixo d'olho











Já vi o filme do Michel Gondry, no Doc Lisboa do ano passado, e recomendo. Os restantes tenciono ver, e, à partida, tudo parece indicar que sejam aconselháveis.

21.4.10

Tolerância de Papa - The Best of Bento

Não quero perder cavaco da digressão de sua santidade, o coiso, pelo nosso Portugal. Cada país tem o que merece, excepto o Haiti, e nós o que merecemos agora é o sumo toucado do grande culto ocidental. Proponho uma pequena homenagem gráfica aos primeiros anos da sua papagem, em antecipação desse arrebatador momento que vai ser a aterragem do papaplane, o primeiro ósculo do nosso herói ao enorme paramento vermelho estendido à sua passagem, sempre flanqueado pelos seus homeboys em atavios bem janotas, o assomo dos seus Prada verniz carmim no irregular solo pátrio, a aclamação da populaça e da procissão de corruptores com a fé aos saltos... Já tenho lavadinha a minha t-shirt "Dogma Forever".

Ele não haverá um vulcano adormecido ali para os lados do Prior Velho que desperte eloquentemente com tamanha comoção?



















20.4.10

Some like it hot

Suppose we were able to share meanings freely without a compulsive urge to impose our view or to conform to those of others and without distortion and self-deception. Would this not constitute a real revolution in culture?

David Bohm

É o grande problema dos suportes de comunicação virtuais. E a sua grande conveniência. Neste âmbito, e entre as chamadas redes sociais, o Facebook impõe-se pela maior ligeireza e desprendimento no processo comunicativo. Não há confronto, não há contraste nem antítese. Há o statement a vulso, com ou sem significado, mas uma qualquer afirmação que, quando muito, é reflectida, quase sempre anuída. Comentar, no meu entender, compreende um esquema de raciocínio mais complexo, com escolhas e as suas implicações. A comunicação assim sustentada não constitui desafio nem apresenta ambiguidade. Não questiona nem é questionada. E traduz a necessidade de ser ouvido sem ouvir, sem particularizar, com a maior amplitude possível e de forma indescriminada. E essa amplitude, para mim, é a de um grande e inexpressivo eco.
Esta conversa porque recentemente caí de um desses poleiros mediatizados pelo ecrã e pelo teclado, a julgar que há alguma coisa, algum dia, que substitua o diálogo. Como escreveu William Isaacs, um especialista na matéria: "In skillful discussion, you make a choice; in a dialogue, you discover the nature of choice. Dialogue is like jazz; skillful discussion is like chamber music". E isto fez-me lembrar sexo e natureza e espontaneidade. Experimentem lá levar alguém para a cama com música de câmara a tocar. Está tudo dito.

15.4.10

O Vaticano, esse eterno maroto


A mim, vinde só as criancinhas de mais de 18 anos, como o Raffaello aqui em cima.
Voltou a brotar bílis da caverna papal. Não contente com a sagrada esterqueira nos seminários que só Deus sabe há quanto tempo dura e em que escala (sendo que Deus não é conhecido pelas suas aparições públicas nem comentários à imprensa, pelo que a incógnita se adensa), veio agora uma beata de bóina encarnada, todo enchouriçado na sua polivalente sotaina, proferir umas afirmações bombásticas, baseadas em "estudos" que associam, numa relação de causa-efeito, a homossexualidade à pedofilia. Com a convicção própria de quem ostenta um topo de bolota na cabeça. O único estudo necessário para entender estas imbecilidades é em senso comum. Constate-se como o Papa e a sua (curta) intelligentsia deflectem a responsabilidade na ocultação dos casos, e, como tal, na sua promoção duradoura, assanhando as massas contra um alvo a jeito, a ver se pega e distrai, enquanto promovem o obscurantismo e suas gravíssimas consequências. Aí estão eles novamente, os homens de batina com os seus crucifixos em brasa, a galope em bodes expiatórios de todas as estirpes. Um permanente indicador de que esta história já se viu, é a mesma e há-de durar enquanto a sub-espécie dos padrecas não for massivamente exterminada com raticida. A única coisa que vejo é que há uma grande incidência de pedófilos entre indivíduos que abraçam a "carreira" sacerdotal, mas, quê, não sejamos polémicos.
Imagem: poster boy do "Calendario Romano 2010", editado, ah pois com certeza, pelo Vaticano

13.4.10

Upheaval



Show your face, fierceness
You'll mean more than you ever did
You'll burn louder than you ever will
Look me in the eyes resolutely

Live up to what you aim, unconcern
It's time to renounce restraint
They didn't show you understanding
So show none in return

Get on your feet, absoluteness
Dismiss your momentous qualms
Those self-righteous cowards
That brought you on all fours

Gatecrash into your own, uniqueness
Destroy relative and suspension
Take hold of what was kept from you
And look back with derision

You can find it in you, that definitive spark
You can light up the room, before it gets dark.

"Vulpine vox", ilustração de Ghostpatrol

O tempo que passa



É demasiada pressão.

Já não sei de onde vem nem o que a provoca. Há muito que perdi de vista a zona limítrofe da minha personalidade. Quando comecei a trazer para dentro tudo o que não era meu, o que não é responsabilidade minha e rejeita interpretação. A partir de quando é que comecei a atribuir-me tanta responsabilidade. Tanto discernimento moral. A partir de quando é que os sentimentos passaram a ser mais fracos do que o seu contexto. E todos os contextos passaram a ser indistintamente mais fortes, mais densos e mais estreitos. Desde quando têm os sentimentos de ser contextualizados e cromados, resguardados em uso asséptico.
A pressão está lá, não verga, não concede. Amontoa-se, com as ideias monolíticas e o seu arrastar ruidoso.

12.4.10

Hard copy 15


Este anúncio saído das entranhas dos anos 80 consegue produzir mais do que um impacto estético aterrador. Se virmos bem, a presumível realidade que defende é bem capaz de se transformar numa verdade incontestável. Um feito único em publicidade.

9.4.10

Uma pérola


"Lucro: demasia produzida por vários défices."

Li esta frase brilhante num livro intitulado Um Beijo no Meio da Crise, de Nuno Milagre, que, segundo esse oráculo moderno que é o Google, trabalha como assistente de realização.

Ilustração de Sergey IvanovAdicionar imagem

Muita erva, pouca uva


Ontem fui ver ao King "As Ervas Daninhas" (Les Herbes Folles), de Alain Resnais. E achei-o uma grande salganhada. É uma espécie de desconstrução irónica do drama passional "à americana", com influências do teatro do absurdo (o filme é ele próprio, muitas vezes, excessivamente teatral, mas isso já é uma marca do realizador). Pelo menos foi assim que o interpretei. Só que o que poderia ter sido uma farsa insólita resultou num confuso exercício de estilo, cheio de abstracções tão musicais quanto inúteis. Como se, aos 87 anos, Resnais sentisse necessidade de afirmar a sua iconoclastia e vitalidade criativa, mas, no processo, perdesse o controlo sobre o produto final. Os protagonistas anti-heróis com o pezinho no geriátrico poderão ser uma auto-referência (até porque Sabine Azéma, a actriz principal, é mulher do realizador), mas distanciam ainda mais o espectador. Formalmente desafiante, mas com um conteúdo improvável, "As Ervas Daninhas" merece alguma atenção mas parece não ser mais do que uma piada exagerada e demasiado longa. O tipo de filme que o Ípsilon adora.

1.4.10

Os melhores (de sempre)
















Anúncios criados nos anos 60 e 70 pela agência Doyle Dane Bernbach (actual DDB). Conceito, trabalho gráfico e headline são suficientes para exemplificar, rematados por um bodycopy genial e descomplexado, que infelizmente nestas amostras não se consegue ler (a quem possa interessar, a compilação deste trabalhos encontra-se aqui). Perfeição publicitária, até hoje inigualada.

The last match



I'm struggling for ideas

As platitudes engulf the flames

As the prairie overtakes the sea

As this dead end moment

Chokes me perpetually.


I can't handle this boat

It's awry beyond my will

A wretched wreck

Turning tricks on me.


Battling a tyrant naysayer

I float among the triteness

Struggling for ideas


Fighting for my life.


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