29.4.08

A geografia da felicidade


Foi no domingo que um S. Jorge à pinha e cheio de calor se deixou contagiar pela espontaneidade de Poppy, a heroína afirmativa de Mike Leigh em Happy-Go-Lucky. Até à data, a melhor fita das três que vi no Indie Lisboa 08. Não tem a densidade habitual dos filmes de Leigh, não é um drama e apesar do estrato social representado ser o mesmo de sempre, há por aqui algo de energicamente positivo que passa muito pela vivência pedestre e pelintra. Existe um lado sombrio, representado sobretudo pela personagem de Eddie Marsan, mas é atonal no contexto do filme, o que nos leva a pensar que o realizador não quis prescindir totalmente da grittiness que o caracteriza. Alguma ambiguidade à parte, Happy-Go-Lucky, com os seus diálogos espirituosos e tom solarengo, revela-se um hino à alegria de viver e de acreditar nos outros – sim, o pressuposto é assim tão tonto – por oposição à pandemia de frustração e de ressentimento que minou o nosso quotidiano. Sally Hawkins tem um desempenho notável, no limite do exasperante, mas sempre capaz de fazer sobressair a humanidade da personagem e, claro, de ganhar a nossa simpatia. Menos trivial e mais empenhado do que aparenta ser, Happy-Go-Lucky mostra que devia haver mais Poppys neste mundo, mas, possivelmente, não demasiadas.

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