22.4.08
Ele acredita
Bem distintos têm sido os percursos dos protagonistas de "The X Files", uma das séries de TV mais marcantes dos anos 90 e um marco seminal na história do entretenimento norte-americano. Tão seminal, de facto, que, para além de dezenas de pastiches ou de cópias descaradas, gerou o seu próprio filme, originalmente intitulado The X Files. Dez anos depois, David Duchovny mostra o rabo em "Californication", depois de várias fitas fracassadas, e Gillian Anderson vive em Londres, onde faz televisão de prestígio, incursões pelo West End e alguns filmes obscuros não desprovidos de interesse. Chris Carter, o homem por detrás do universo obscuro e elaborado dos "Ficheiros", achou que os fãs mereciam um desfecho (ou um reinício, consoante a perspectiva) adequado, que contornasse as muitas imposições comerciais das últimas duas séries e a falibilidade dos argumentos, que começavam a não conseguir juntar todas as peças de uma imensa galeria de personagens e teorias. The X Files cristalizou um imaginário e um vocabulário próprios e acabou por definhar dentro do seu próprio casulo. O filme, que aproveitava para dar um sentido rotineiro a algumas pontas soltas, acabou por se revelar um condensado de lugares-
-comuns e uma desilusão para todos os que vibraram com a mística pessimista e o mood inquietante que Carter idealizou. Mais do que ressuscitar uma série ou um franchise (não houve sucesso que o justificasse), o autor recupera um conceito, tentando talvez provar que as boas ideias não têm prazo de validade, ou simplesmente capitalizar nos nostálgicos fiéis de 9 anos de emissão televisiva. Seja como for, para satisfazer velhos e novos seguidores, Chris Carter, que desta vez assume a realização, vai ter que corresponder a expectativas muito, mas muito altas. O filme já tem um título. Para além da frase indelevelmente associada a Mulder, pode bem representar o credo do realizador: The X Files: I Want To Believe.
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