25.5.12
Supositroika
“A troika voltou ontem a defender a flexibilização dos salários para inverter a tendência de subida do desemprego. Numa reunião com os deputados à porta fechada no parlamento (…) justificaram os dados negativos com a ausência de flexibilidade salarial, segundo relatos de alguns deputados na reunião. (…) Um deputado da maioria garante ao i que a troika falou em flexibilização laboral.”
Pergunto-me eu se aquelas figurinhas enfadadas que se deslocam em matilha de corredor em corredor, camuflados pela rígida altivez das suas gravatas cinzentas e casacos pretos, olhar baço e testa lapidar, fazem sequer ideia de onde estão e se alguma vez, num episódico e desagradável acesso de consciência, questionaram as alarvidades que regurgitam. Se das suas pastas sombrias alguma vez saiu um documento que não fosse perverso, inquinador ou arrogante. Pergunto-me se estas eminências pardas experimentaram pôr o pé na rua e falar com o cidadão comum. Ou, dadas as limitações do seu exílio despachante e a aversão a ambientes com luz natural, munir-se de informação pertinente e bem fundamentada sobre a realidade que espezinham com o seu sapatinho de fivela bem polido, amortecido pela total incapacidade de empatia. “We’re just doing our job” poderia ser a resposta funcional a estas considerações, com o toque de lobotomia implícito. Infelizmente, a troika arrota opiniões e pareceres com aroma a bacalhau confitado e Touriga Nacional. E eu pergunto-me se não se encontrará neste triste país um remédio, um antídoto, caramba, um desparasitante que nos livre desta entidade. Se não houver em fórmula, que seja por via de um sólido e vigoroso pau. Começava-se nestes e depois era a eito.
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