No tempo de Salazar havia muitas pontes. Quase todas chamadas Salazar. Não havia tantas pontes antigamente como hoje há rotundas, mas também eram inauguradas com grande alarido. Perto de Santa Comba Dão as pontes ainda mais se chamavam Salazar. E possivelmente as hortas, as carroças, a mesa de jantar, a festa domingueira e até as ovelhas favoritas. Algumas estão submersas, como a bonita
Ponte Salazar de Foz do Dão, a cuja inauguração em 1935 acorreram multidões, incluindo as ovelhas, porque não havia habitantes suficientes. Também não havia indianos do Martim Moniz portanto tiveram de se amanhar de outra maneira. Em Coimbra, a minha cidade que nunca foi minha nem nunca me quis, também existia uma ponte que não sei se se chamava Salazar, mas que tinha ar disso. Depois construíram outra e inauguraram-na por entre um mar de gente vinda sabe-se lá de onde, incluindo as ovelhas de Santa Comba Dão, porque não existiam assim tantos portugueses em Portugal. Se calhar vieram das ex-colónias ou do exílio. Parece que serviram aperitivos, que Salazar, o original, acenou mais de perto e que deram sacos de serapilheira de lembrança. Durante algum tempo as duas pontes ainda coabitaram, como o Passos Coelho e o Portas, mas depois uma delas foi ao ar.
A ponte mais recente não se chama Salazar porque entretanto se desenvolveu o branding. Ainda lá está. E Coimbra, também, consta.