"One person I would like to say hello to is Kate Bush - I love you, your music is fucking brilliant. You know what, Kate we are worthy! That's enough from me. Now let's get pissed."
Kate Bush é um génio. Ou talvez tenha sido, não sei bem. O certo é que aquilo que fez é suficiente para lhe garantir lugar cativo no olimpo criativo e ainda vir cá abaixo ensinar um par de coisas às futuras gerações. Enfim, não sou eu que o digo, é Prince. E Robert Smith. E Maxwell. E Tori Amos. E Rufus Wainwrigth que, como é uma flor de angorá lilás, a elegeu como ícone gay. Caraças, até Johnny Rotten faz uma vénia (à Johnny Rotten) a Kate Bush. Mas a diva está talvez demasiado alienada, mais obsessiva do que inspirada, mais matrona que sensual. A viver reclusa numa quinta onde o tempo se mede em Kate-unidades, dedicada à barrela e aos trabalhos de casa do puto, com a doce mordomia que os royalties lhe proporcionam, Kate ocupa os tempos livres a revisitar algum do seu reportório, com um copo de bom tinto na mão e a ocasional cigarrilha por companheira. Liga a uns amigos, que vão regravar as pistas ao estúdio privado, perdido na mata, e manipula-as com o requinte e a languidez de uma senhora autora. Ouvir o resultado deste torpor privilegiado é como observar o fogo-fátuo emanado de um corpo. É intenso, impressiona, mas biologicamente não deixa de ser um cadáver que se decompõe. Já foram músicas com um espírito, únicas e determinantes. A sua intenção ficou vincada, o seu efeito é perene. Mas Kate, por insatisfação ou tédio, ou, diz-se, necessidade de reafirmar a sua posição à beira do lançamento de um novo álbum (não acredito, Aerial data de 2005 e levou 12 anos a ser gerado), levou-as à faca e deu-lhes, invariavelmente, a face de um tempo que já pesa e de uma identidade que enrouquece. A beleza das canções só se percebe porque elas já existiram. E existem. Esta reciclagem pesarosa será sempre uma obra de qualidade, mas só é relevante porque falamos de Kate Bush. Porque ela deu ao mundo Hounds of Love. Porque foi pioneira em quase tudo. Porque nunca obedeceu senão à sua própria visceralidade. Porque criou e foi viver num imaginário absolutamente original. Por isso é que eu sinto falta do génio que Director’s Cut, de certeza, não nos devolve.
P.S. E como o tempo ridiculariza todas as opiniões e sabichices, a minha avaliação de Aerial, em 2005, é tonta em quase tudo e em particular no que respeita à beleza dos textos. Só depois de algumas audições, menos ressentimento e maior investimento, percebi, pois com certeza, que um génio nem sempre se consegue fazer entender por idiotas opinativos. Talvez daqui a uns anos a minha opinião sobre Director's Cut mude. Oxalá.
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