14.2.10

Quando a coisa azedou


O autêntico português fala com sotaque bávaro, apara frequentemente o bigode, usa um típico chapéu de capim dourado e vive à beira mar. A bandeira é removível.

Mas será que existe a mais remota possibilidade de o público, mesmo o mais embrutecido e acrítico, cair na cantinela sebenta do Pingo Doce e dos seus repugnantes porta-bandeira? Ele haverá gajo com maior ar de intrujão do que o actor escolhido para apregoar as virtudes dos frangos da Jerónimo Martins? E dos pastéis de nata, da maruca congelada, do repolho mais fresquinho? Tu sabes onde te enfiava um par de repolhos, ó gordo untuoso? E mais uma maruca para ajudar? Mas que raio de cúpulas "criativas" são estas que, em sádica congeminação, decidem inflingir-nos aqueles gemidos forçadíssimos, aquela bocarrona de cerdo lambe-cus, aquela gestualidade de farsante amador? Não é a publicidade já suficientemente deprimente, não é o horário nobre decadente quanto baste para ainda nos virem atormentar com esta coisa de revirar a tripa? Alguém em seu perfeito juízo se deixa seduzir por uma sujeita em pré-colapso cardíaco de tanto forçar os cantos da boca? Emaciada de tanto martelar as sílabas? Com um tesão tão despropositado ao falar de takeaway? De empadão de carne e de grão com bacalhau? Por Deus! Ide fazer outra coisa qualquer, senhores, longe dos nossos olhos e ouvidos. E deixem de estropiar a sensibilidade dos clientes incautos de supermercados de bairro com hinos arrepiantes. Eu já ia ali ao Minipreço comprar uns iogurtes ranhosos.

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