20.2.09

Hard copy 2


"Keep it in your trousers." Institucional

19.2.09

Hard copy



"Blow it in her face and she'll follow you everywhere." Tipalet

Soluções para a crise 8


Se não tens sentido de orientação, aproveita.

Alguém explique

É um daqueles casos de entusiasmo por contaminação, e há com certeza muitas e boas razões para tal acontecer, mas eu não consigo perceber o que tem Slumdog Millionaire que tintila o público desta forma. É uma fita de exploração da miséria mais abjecta, enroladinha em superficialidade irresponsável e a disparar fogo de artifício por todos os lados. O argumento é esquemático, os protagonistas têm menos carisma do que os saris e a realização histérica de Danny Boyle faria inveja a Ken Russel, tivesse-se ele lembrado de pôr duas indianas nuas a afagar uma jibóia na latrina. Não sei o que se passou, e se calhar é má vontade minha, mas há muito tempo que um filme não me irritava tanto. A juntar a todo o oportunismo, temático e formal, Boyle ainda nos impinge umas forçadíssimas alusões a Bollywood, que toda a gente compra excepto os indianos. Diz a publicidade que é o “feel good movie of the decade”. Eu cá acho-o candidato a chachada mais opressiva do ano.

18.2.09

10.2.09

9.2.09

Tony Oliveira

Instinto Básico 3

O Fantasma de Salazar



Depois da revolução/ revelação na ficção nacional: outras ficções possíveis.
Propostas de autores anónimos, pescadas da rede.

Valha-nos Deus, a pátria, a família e quem mais houver



"O Salazar era um homem do car****, vistes, eu sempre disse! O que nos faz falta hoje é um par de tomates daqueles. Ia já tudo raso! Até o leão do Marquês ficava de quatro!"


Por todo esse Portugal muita gente encontrará, nestes tempos de incerteza, um reforço da fé e da esperança na ideia de um António Oliveira esbelto e libidinoso, rodeado de pulposas mulheres, prostradas as seus pés pelo carisma intenso, pela voz segura e varonil, pela retórica insubmissa, pelo seu incomparável, hum, instrumento do amor. Salazar era, afinal, um falocrata incorrigível, e quando se pensava que só tinha fod*** regiamente o país, eis que da Júlia Perestrelo à Dª Maria de Jesus, passando pela Soraia Chaves, o senhor não conheceu descanso. Confira-se, no testemunho acima reproduzido, o homem, o mito, o galã.

E só nos podemos perguntar, incredulamente, e pela enésima vez: como é que tudo isto aconteceu? E como é possível que ainda aconteça?

Soluções para a crise 7


Bebe muita água. Sem gás.

Soluções para a crise 6













Reza a um santo incompleto.

Soluções para a crise 5




















Come bolos sem creme.

Soluções para a crise 4


Dá apenas um nome próprio às tuas crianças.

6.2.09

Ressaca

Mais um fim-de-semana, mais uma hipótese de largar o vício.

Once upon a time in America



A minha amiga Ana B. enviou-me este anúncio profético, datado de 1984. Não fui averiguar a autenticidade, mas a realidade é quase sempre mais estranha do que a ficção, por isso... E de resto não haveria assim tantos argumentos disponíveis para publicitar um empreendimento que se destacava... pela altura. Sorri ao recebê-lo, pela amarga ironia, mas não consigo rir-me das piadas que hoje commumente se fazem à custa das Torres Gémeas. Não consigo esse distanciamento, que considero irresponsável, mas consigo entendê-lo. Só que me lembro muito bem de ver as pessoas a saltarem pelas janelas, naquele fatídico dia. Estava em casa do meu irmão Pedro, lembro-me de o chão me ter fugido e de o meu cérebro ter bloqueado, incapaz de processar o que estava a acontecer. Entrei numa depressão ainda mais intangível do que é habitual. Não evito sorrir, mas não consigo esquecer.

Soluções para a crise 3










Começa por te afastares de todas as pessoas que são uma fraude.

As minhas aventuras nas PF – Parte 1: A reclamação

Hesitei bastante antes de escrever um post sobre este assunto, mas, vistas bem as coisas, há cada vez menos formas de dar largas à nossa indignação. Há cada vez mais tendência para engolir a indignação e ficar com azia. Exibir publicamente as nossas mágoas é ainda mais improdutivo do que fazê-lo em privado, mas neste caso pode ser que dar a conhecer mais uma faceta das Produções Fictícias, esse tugúrio do humor nacional, evite que alguém vá (ou ande) ao engano.

Tudo começou com um workshop de “Escrita de Humor” pautado pela indefinição de propósitos e de objectivos... Bom, espera, aquilo custou 750 balas. Ora aí está um bom objectivo. Também não houve formadores. O que houve, duas excepções à parte, foi malta com uma auto-estima inflacionada e uma vaga noção do que estava ali a fazer. Mas adiante. Muitos meses depois, aguardávamos nós, cinco bravas criaturas que levaram a penitência até ao fim, um certificado prometido desde o início do curso. Como é natural, como deve ser. Uma papeleta com o crivo da chafarica a confirmar que lá estivemos, que a coisa se deu de forma efectiva entre os prestadores de serviço e a clientela, satisfeita ou não. Mas não. Nada. Um pouco como os recibos que tardavam e tardavam em chegar, ou como as aulas que eram anuladas e não remarcadas, mas em pior. Houve várias tentativas por parte dos interessados, que chocavam invariavelmente contra uma parede de ineficácia e de má vontade, de seu nome fictício, digamos, Fátima. Esta senhora arranjou todo o tipo de desculpas para não nos enviar a coisa, até ao dia em que, simplesmente, já nem se dava ao trabalho de as arranjar. Era simplesmente desagradável. Merece um simples certificado a importância que lhes estávamos a dar? Merece, porque não era um simples certificado. Não é um diploma de participação na conferência “A Fricatização das Oclusivas Sonoras em Português”, na Universidade Aberta. É uma coisa que pode ser pedida ou voluntariamente entregue numa candidatura de emprego. Emprego, malta fixe, aquela coisa que é precisa para se sobreviver, conhecem?
Eu até preferia ter aprendido qualquer coisa realmente significativa, mas nos dias que correm o marketing é tudo, como vós bem sabeis.

E vai daí que me meto ao barulho, dirigindo um mail às pessoas que deveriam e poderiam fazer qualquer coisa lá a partir do seu recantozinho alcochoado.

Subject: Requerimento de 25 linhas
Wednesday, January 7, 2009 3:44 PM

Bom dia.

Meses e meses passados sobre a nossa (onerosa) participação num workshop por vós leccionado, aguardamos ainda, e quiçá em vão, um certificado que nos foi prometido desde o início do mesmo. Depois de inúmeras tentativas de obtenção do dito, por parte de diversos dos discentes – recebidos com respostas tão esclarecedoras quanto “dê-me a sua morada”, “ninguém mais se queixou” e “houve um problema na emissão” –, perguntamo-nos se a secretaria das PF ainda está à espera da revolução tecnológica, se os cartuxos de tinta estão fora do vosso orçamento ou ainda se, pura e simplesmente, não têm qualquer registo de quem paga e frequenta as vossas formações.
Graças à incansável diligência de uma vossa colaboradora, Fátima de seu nome, os documentos devidos, legítimos e exigíveis, pairam algures num limbo de “problemas”, enquanto nós esperamos um milagre: o da competência.

Com os melhores cumprimentos, na eminência de uma provável deslocação colectiva às PF.

Being April Wheeler

5.2.09

Promessas ao virar da esquina



April espera muito da vida. Mas não tem convicções verdadeiras, apenas impressões vagas do que a felicidade deverá ser. April quer superar-se, mas não se encontra nem consegue andar pelos seus próprios pés. Projecta no marido um mundo de possibilidades que se revelam cruelmente vãs. Uma e outra e outra vez. April sufoca no lugar que lhe coube. Percebe que a vida é mais forte que ela. April não verga nem muda. Não tem forças para entrar no mundo e não aceita ficar de fora. April esperou demasiado para aquilo que podia retribuir.

Dos vários filmes que vi com a neurose da América suburbana por tema, há um que me ficou na memória pela secura com que abordava a dissolução do amor-próprio, o esvaziamento relacional e a ausência de valores: The Ice Storm, de Ang Lee. E agora, um outro que não esquecerei facilmente: Revolutionary Road, de Sam Mendes, adaptação da obra homónima de Richard Yates. Um filme directo e cortante, onde não há heróis nem vilões, não há indivíduos memoráveis ou actos redentores, de onde não se retira nenhuma moral conveniente. Não há sequer uma grande história para contar. Há apenas isolamento e incomunicabilidade que se espalham progressivamente como um grande, grande espectro cinzento (pior, beige) sobre todas as acções, ilusões e repetidos fracassos. Há o rosto transparente, penoso, de Kate Winslet.

Revolutionary Road é um understatement de Mendes. Não é um grande filme porque aqui não cabe um grande filme. Cabe um retrato cru da banalidade opressiva, de um certo mundo e de um certo tempo. Já é altura de os senhores doutores críticos do Ípsilon, do alto da sua caganeira opiniosa, repensarem a expressão do seu talento e da sua utilidade, que são nenhuns, e deixarem de dizer coisas como “Sam Mendes, um realizador sobrevalorizado”, que fez umas coisitas engraçadas, assim só por acaso, como American Beauty. Se gostas de cinema e tens uma vaga noção do que dizes, devias era já fumigar esse cérebro, que está cheio de bicho.

3.2.09

Carpe diem interruptus

O homem derrotado



À partida não esperava mais do que um fait divers político, de interesse estritamente americano, sobre um inglês cabotino que levava a melhor, no terreno da lábia ágil, sobre essa túrgida figura que era Richard Nixon. Mas Frost/Nixon é bem mais do que isso, é um estudo interessante sobre duas psiques opostas e argutas inteligências, uma instintiva, outra desmesuradamente racional, que travam um combate improvável pela supremacia: estratégica, moral e intelectual. Desta disputa, filmada com inesperados recursos por Ron Howard, haveria de resultar um episódio determinante para a conclusão da saga Watergate e um empurrão superlativo na carreira de David Frost. Apesar de o desfecho ser conhecido, Howard e o argumentista Peter Morgan conseguem manter-nos interessados em todo o processo que a ele conduz, bem como nas idiossincrasias das personagens, que Frank Langella e Michael Sheen transformam em manifestos de representação. O realizador evita que as raízes teatrais do objecto se tornem óbvias, fazendo uso dinâmico de uma rigorosa reconstituição histórica e distribuindo oportunamente momentos de tensão. Graças a uma conjugação bem conseguida de mecanismos dramáticos, que incluem a perspectiva de terceiros, Frost e Nixon ganham uma densidade invulgar e a questão da “vitória” merece ser reequacionada. Quanto a mim, Nixon era como a pescada: antes de o ser já o era. Derrotado, por si próprio.

Soluções para a crise

Um quid pro quo dramático



De um confetti estival saltámos para um filme que, apesar de engajado, consegue ser quase tão risonho quanto a personagem que lhe dá nome. Milk é um retrato social que tardava, em formato mainstream, da luta pelos direitos civis dos homossexuais nos E.U.A. Concretamente, sobre o período em que essa reivindicação ganhou contornos mais viscerais e se traduziu em algumas vitórias formais. O carisma e a determinação de Harvey Milk foram um dos principais motores da mudança, e são transmitidos fielmente pela interpretação empenhada de Sean Penn. O excelente argumento de Dustin Lance Black e a câmara escrupulosa de Gus Van Sant focam-se nas circunstâncias que propiciaram uma progressiva mudança de mentalidades; na “audácia da esperança”, para parafrasear outro paladino. Sem demagogia nem um tom de vitimização, Milk traduz os sentimentos por vezes confundidos de raiva e entusiasmo que um choque sócio-cultural desperta, ajudado pela notável densidade psicológica que os seus actores emprestam às personagens (e aqui cabe destacar a difícil e muito bem conseguida composição de Josh Brolin). O destino trágico da personagem principal não obsta a que Milk seja um filme optimista, para além de humanista e caloroso. Possivelmente o melhor de Van Sant até à data.

Vicky Cristina Whatever



Os últimos dias foram pródigos em idas ao cinema, porque o tempo não permite outras veleidades e porque agora sim, aleluia, começam a estrear coisas dignas de se ver. A primeira investida, embora relutante, foi a Vicky Cristina Barcelona, e confirmaram-se as reticências. Se é certo que a coisa é escorreita e inofensiva, mais certo é que a sua intranscendência torna a decadência de Woody Allen bem evidente. Onde outrora personagens e relacionamentos complexos ditavam a acção, agora encontramos figuras em papel machê e diversos elementos decorativos a substituí-la. E não é Penélope Cruz, presença poderosa a devorar cenário com uma personagem inexistente, que redime Vicky Cristina Barcelona. A falta de convicção, a pressa e a incoerência na escrita são marcas ou de cansaço ou de uma vontade serôdia de ser “moderno”, coisa que se traduziu, neste caso, em generosos resultados de bilheteira. É o Woody Allen palatável dos anos 2000, sem ironia nem neurose (excepto, possivelmente, a da renda).

2.2.09

Revolutionary Road

"You should value what you do, Frank. You're obviously
quite good at it."

April Wheeler (Kate Winslet), Revolutionary Road, de Sam Mendes.

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