3.2.09

O homem derrotado



À partida não esperava mais do que um fait divers político, de interesse estritamente americano, sobre um inglês cabotino que levava a melhor, no terreno da lábia ágil, sobre essa túrgida figura que era Richard Nixon. Mas Frost/Nixon é bem mais do que isso, é um estudo interessante sobre duas psiques opostas e argutas inteligências, uma instintiva, outra desmesuradamente racional, que travam um combate improvável pela supremacia: estratégica, moral e intelectual. Desta disputa, filmada com inesperados recursos por Ron Howard, haveria de resultar um episódio determinante para a conclusão da saga Watergate e um empurrão superlativo na carreira de David Frost. Apesar de o desfecho ser conhecido, Howard e o argumentista Peter Morgan conseguem manter-nos interessados em todo o processo que a ele conduz, bem como nas idiossincrasias das personagens, que Frank Langella e Michael Sheen transformam em manifestos de representação. O realizador evita que as raízes teatrais do objecto se tornem óbvias, fazendo uso dinâmico de uma rigorosa reconstituição histórica e distribuindo oportunamente momentos de tensão. Graças a uma conjugação bem conseguida de mecanismos dramáticos, que incluem a perspectiva de terceiros, Frost e Nixon ganham uma densidade invulgar e a questão da “vitória” merece ser reequacionada. Quanto a mim, Nixon era como a pescada: antes de o ser já o era. Derrotado, por si próprio.

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