13.4.12

Votos de felicidade



 

Não, não, a felicidade está no Æbleskiver com peixe finlandês.

O Relatório Mundial sobre Felicidade, encomendado pela ONU à Universidade de Columbia, nos E.U.A., é mais uma peça para a “galeria de quantificações bizarras com cientificidade reduzida” que, deste feita, nos coloca na 73ª posição do rating anímico global. Coisa porventura tão ou menos útil do que relatórios universais sobre o Efeito da Electricidade Estática nos Aparelhos Domésticos, a Predisposição Aerofágica na Meia-idade ou a Frequência do Uso de Sibilantes em Discurso Formal. How very typical que, numa fatalidade cartesiana, sejamos pobrezinhos, logo, infelizes, arrastando os pés pelos últimos lugares das estatísticas que analisam a qualidade de vida até do ponto de vista extra-sensorial. Acho que merecíamos um lugar mais baixo. O 85º, o 92º, o 108º… ou mesmo o último, para fazer jus a um capital de consternação que ultrapassa limites geográficos e mentais, rumo aos aparelhos medidores ultra-sónicos dos investigadores norte-americanos. No mesmo estudo, os dinamarqueses, noruegueses e finlandeses registam índices de felicidade de fazer inveja aos personal trainers do Holmes Place. Por entre a neve, as ciclovias e as sandes de queijo panado, os nórdicos vêem a luz que o sol não lhes dá.
Quando estive na Finlândia há uns anos atrás não conheci um único nativo que gostasse realmente de lá viver – note-se que não é o mesmo que não gostar do seu país. Não conheci nenhum habitante de Helsínquia que gostasse da cidade. E muito menos um que dissesse “epá, estou com pouco dinheiro e este Verão vou ficar por cá, na minha casinha com acabamentos de alta qualidade e janelas sobredimensionadas, a desfrutar dos 26º de temperatura máxima, dos inúmeros parques amplos com relva bem tratada, a andar de bicicleta pela cidade sem levar uma trancada de um fogueteiro ou a esbarrar em peões desordeiros, em vez de ir viajar para o sul da Europa, África, Ásia ou um país exótico da América Central, como é habitual”. Conheci, isso sim, um jovem autóctone que me perguntou, com legítima curiosidade e uma nota de preocupação: “Why are you so poor?”.

Conclusão prática e empírica: a luz natural é sobrevalorizada e podes ter muitos votos de felicidade se os conseguires comprar.

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