Estou convicto de que a solução para a crise passa por pequenos gestos práticos no dia-a-dia, que devem ser optimizados em função das necessidades crescentes de poupança. Além disso são bons para o meio ambiente.
- Nunca, mas nunca, fazer pisca.
- Não perder tempo a atravessar no verde quando pode fazê-lo no vermelho, incluindo na presença de veículos em movimento (bem visto, igualmente, para o controlo populacional).
- Utilizar amiúde a expressão "não há palavras".
- Não escrever "obrigado" por extenso num email, quando "obg", "ob" ou "obr" basta.
- Pensando melhor, nem sequer perder tempo com esse gesto de inútil cortesia, eliminando igualmente anacronismos como "bom dia" e "se faz favor", na escrita e na oralidade.
- Alimentar o Facebook com a urgência dos seus pensamentos e não desperdiçar recursos a criar ou aprofundar relações significativas e duradouras.
- Entrar porta adentro quando um transeunte a segura, sem gastar preciosos minutos a rendê-lo ou a agradecer a atitude. É desejável que, nestas situações, entre o maior número de pessoas no menor tempo possível.
- Pedir ao taxista que ande ainda mais depressa, incentivando ziguezagues, travagens bruscas e acelerações tresloucadas, pois poupar tempo é seguramente mais importante do que a integridade física do passageiro, dos automobilistas e dos peões, já que a do taxista, assim como assim, até se penhorava.
- Ser compreensivo nos serviços, quando as meninas (porque são normalmente meninas) da caixa despacham afazeres pessoais, tais como terminar uma conversa telefónica com a amiga, a mãe, o marido, a tia, a irmã, o cão, o cão da irmã; efectuar uma reclamação à loja de cosméticos por causa da cor do verniz; estar ausente para almoço às 14.30h porque aproveitaram para ficar logo jantadas; contar anedotas ordinárias aos colegas; olhar fixamente para um papel minutos a fio escrevinhando e agrafando lenta e obsessivamente por razões seguramente urgentes que só elas conhecerão.
- Aguardar pacientemente que a pessoa à sua frente no multibanco efectue todos os pagamentos do mês e ainda meia dúzia de transferências, porque se é aborrecido ligar o computador, muito mais será aprender a saldar contas online (e os custos, e a electricidade?).
- Compreender que um médico de família não tem tempo a perder no contacto com os seus pacientes. Essa é a razão pela qual não desviam o olhar do monitor: não tiveram oportunidade de ir ao multibanco mas já aprenderam a utilizar a internet. Um bom médico de família, de resto, não perde tempo a analisar e a ponderar sintomas, vai directo ao diagnóstico e à medicação.
- Não despender qualquer energia a ser simpático, com conversinhas, sugestões, sorrisos e demais salamaleques, quando a antipatia é sequinha e faz o mesmo em menos tempo, sem gerar equívocos. Uma sociedade quer-se despachada, não simpática.
- Nunca colocar os caixotes do lixo do condomínio na rua quando alguém pode fazê-lo por si.
- Nunca conter-se se tiver de escarrar, arrotar, tirar macacos do nariz, urinar ou soltar um traque em locais públicos, povoados ou não. O SNS aconselha e a sua entidade empregadora (se a tiver) agradece.
- Adquirir um automóvel ostensivamente grande de forma a ocupar o maior espaço possível na estrada e no estacionamento. Tal representa um desencorajamento ao uso da viatura por parte de um vasto número de automobilistas, que passará a dispor de uma área menor de circulação, a não conseguir passar em certas ruas, a ter medo de levar uma passa de um SUV com vidros opacos e pára-choques sobredimensionados ou a sentir vergonha por não possuir um veículo igualmente volumoso.
Ilustração: Frank Chimero
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