16.7.09

Sem vocação



Não me sinto à altura da Web 2.0, com certeza que não. Não pretendo ser encontrado no Facebook, não me entusiasma a vacuidade ruidosa do Twitter, não ostento uma catrefada de endereços na barra lateral d' Os 7 Salmonetes, aliás, tenho pouca ou nenhuma paciência para blogs que não contenham as palavras “gadget” ou “cinema”, não há por aqui uma média de 21 comentários encorajadores por post – incluindo coisas como “Gostei muito do teu post, sobretudo daquela parte em que dizes [abre aspas citação fecha aspas]” – e, se bem me parece, só havia uma pessoa a passar por aqui e, infelizmente, reformou-se. Se a família conta, os meus irmãos dão uma espreitadela. É um bocado como aquele apoio resignado de bancada, à espera da última competição escolar, na piscina do bairro. Apanham uma grande seca para nos verem ficar em 4º numa coisa que dá medalhas de plástico. “Estiveste muito bem, estiveste quase lá”. Ou então é porque acham mesmo que eu tenho vocação para ser o tontinho rabioso que se debruça a espreitar pela janela iluminada dos outros e a escarnecer da sua felicidade (certo, a imagem é de John Cheever, mas assenta-me bem), e vêm rir-se com o meu desmando. Caraças, se o meu conceito de comunicação é fundamentalmente arcaico (não que haja algum mal nisso) e tende a obliterar os elos virtuais, e se nem como instrumento de trabalho consigo usar isto – não há pachôrra para showcases de iluminação e saber –, por que raio ainda mexe? Não sei. Na volta estou à espera que o meu pai passe das palavras à acção, ou seja, que leia efectivamente um dos meus posts publicados depois de 2005, e me dê o seu beneplácito, para que possa descansar em paz. Quem sabe não me dedico aos papiros, com peninha de ganso, e reclamo o meu lugar na história dos bloguistas à frente do seu tempo.

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