27.3.09
Estava-se mesmo a ver?
Há muito que neste país uma candidatura espontânea a um emprego é encarada como um patético exercício de auto-depreciação. E há muito que neste país uma candidatura a um anúncio de emprego é encarada como uma insolência despropositada. Os responsáveis de “recursos humanos” passaram declaradamente a porteiros de mau feitio e gestores de interesses pessoais. Os gestores, administradores, chefes em geral, esses, a extorsionários verbosos que tremem à menção de “ordenado” e “retribuição justa”, como se pagar a renda e ter comida na mesa fosse uma noção ultrapassada, irrisória, quando não simplesmente enfadonha. Eu que o diga, tendo recentemente prestado os meus serviços “à experiência” a uma agência que, nunca havendo demonstrado queda para a ética profissional, exprimiu todo o seu potencial num revelador silêncio após apresentação do orçamento. Ficam para a história, não um, mas três trabalhos, dois deles apresentados a clientes. “Correu muito bem. Ah, não lhe disseram?”. Estamos imersos numa cultura tão entranhadamente negativa e inquinada que quando uma porta se abre, raramente ou nunca sob o signo do mérito e quase sempre sob o do nepotismo, o primeiro pensamento que passa pela cabeça de qualquer indivíduo é “quando e como é que me vão tramar”? Sendo o segundo, naturalmente, “como é que me posso defender”? Se é produtividade, envolvimento e dinamismo que se espera neste sistema de “valores”, resta dizer que se conseguirá melhores resultados implementando gulags laborais. Quanto a mim, mais uma vez fui vítima da minha ingenuidade e da incapacidade de me adaptar à esterqueira de um mundo onde não me revejo e onde tenho muita, mas muita dificuldade em discernir o aceitável do mais miserável abuso. Triste, mas verdadeiro.
"The truth is this", instalação de Mark Mumford
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