6.5.08

Nostalgia & ressentimento



Ela: “As novelas, os filmes e teatradas afins… Só sobreviveu uma K7 em mau estado.”
Ele: “Gravávamos as coisas umas por cima das outras. Não havia dinheiro para estar sempre a comprar cassetes. Nem havia máquinas fotográficas digitais, nem telemóveis…”
Ela: “E tínhamos realmente piada, apesar de putos…”
Ele: “Era uma fuga construtiva?...”
Ela: “Melhor do que fazer merda.”
Ele: “As coisas eram bem escritas. As deixas, os separadores…”
Ela: “Fazíamos uma bela tripla.”
Ele: “Sim, uma bela dupla com convidada especial. Nestas coisas era um bocado assim, não era?”
Ela: “Era.”
Ele: “E na altura éramos muito ou pouco do que somos hoje? O que é que guardámos que nos possa redimir?...”
Ela: “Os bolsos… Hum... Sabemos pedir ajuda.”
Ele: “Sabemos?”
Ela: “Não. Mas não passamos despercebidos.”
Ele: “Isso não significa muito.”
Ela: “Significa, sim.”
Ele: “E o nosso escapismo feliz?”
Ela: “É a nossa memória partilhada.”
Ele: “E não pode ser alguma espécie de futuro?...”

(Ilustração: Youko Shimizu)

2 comentários:

um livro sobre evolução disse...

mudaste o título do post... ressentimento? do passado? do futuro?

depois do tempo da k7 em mau estado, a dupla continuou a tentar os escapismos felizes. sei que sim.

ela acredita na tripla, precisa dela.

João disse...

Do presente, sobretudo. Temo que um pouco do futuro, também... Sim, eu acredito, claro que acredito, mas às vezes não basta.
Espero que tenhas espairecido. Tenho visto as fotos.

Arquivo do blogue