12.5.08

Dias 13, 14 e 15: a discussão prossegue

Não gosto de stand-up comedy. Nunca consegui achar piada a indivíduos que usam como mote a sua vida ou a vida alheia para despejar uma torrente de falsa auto-deprecação e larachas mal intencionadas sobre uma audiência em delírio circense. Não me lixem, são mal intencionadas ou não haveria motivo para rir. Acho que é uma coisa muito instintiva, um reflexo zangado da sociedade e não é por acaso que nasceu nos Estados Unidos. Admito que pode tornar-se um bom laboratório para as possibilidades expressivas do corpo, da voz e da palavra, em especial no que respeita aos limites do que devemos e não devemos caricaturar. Sim, acredito que há coisas que não se devem caricaturar e que o comediante consegue, se quiser, assumir uma postura elegante. Pode ser mais difícil, pode não hiperexcitar a turba, mas é no que eu acredito. A grande maioria dos stand-up comedians que vi fizeram-me sentir constrangido e, não raras vezes, humilhado. Não por mim, especificamente, mas por ele, pelos visados, pelo oportunismo do humor e pela adesão fácil. Acredito noutras formas de catarse e noutros contextos para enquadrar a farpa, e também acredito que é possível fazê-lo ali, no palco. Criar um vácuo de permissividade é mais fácil do que deixar marcas, mas aceito que há espaço para tudo. Eu é que não gosto de tudo. Até gosto de muito pouca coisa, o que é uma cruz. Não sendo um seguidor de Seinfeld (conheço mal o seu percurso) vi coisas em stand-up que me pareceram mais próximas do contador de histórias, que sabe usar a inteligência, a malícia e a contenção para agarrar o público. E extrai humor do "quase nada", o que é dificílimo. Mas não me revejo nos estertores e nas convulsões da escola Jim Carrey, nem no ressentimento cocainizado de Denis Leary, nem no estereótipo labrego de Chris Rock. Relação com as últimas aulas? Pouca. Nilton ensinou-nos técnicas para construir piadas e dissertou sobre a envolvente destes espectáculos e confesso que achei o processo bastante duro. Um desafio menos estimulante, também. Falta aqui um elemento de identificação, pronto. Talvez devesse ser mais receptivo, mas estas especulações são a verbalização de algo que sempre senti. Penso que, na essência, tem a ver com a negação do excesso – ideológico, histriónico – e nada a ver com a gramática da encenação que assenta, precisamente, na concisão. Tiro o meu chapéu ao Nilton e aos seus colegas. Em todo o caso, e como bom dissidente, acho que andar atrás de velhinhas que se dizem perseguidas pelas torres do IST, entre outros fenómenos sociais, não é criar humor, mas sim forçá-lo. Lá está, de forma discutível.

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