2.11.06

caGa lumE: não há cave que os aguente



Paco, Wander Rodrigues e Eliene Vicente fumam Gitanes espanhóis e bebericam absinto rosé na cave dos pais de Wander, onde deambulam nocturnamente sobre a intensidade repugnante do apocalyptic-catarro e e o agror voluptuoso dos riffs menstruais de Eliene, evocando o fedor raro e grandioso das tertúlias no Verme Parasita , o bar de todos os encontros, onde escutavam e absorviam o antagonismo controlado de Ol’ Wanna Manna Humbie Shaka Master, príncipe do coaltoasted-bicostal-rudeawakening ska, e a rítmica belamente ábsona dos Status Quo. Na altura não havia o MySpace e os três conheceram-se e partilharam o sémen criamoso através de uma mailing list da Rádio Rexenxão, que emitia a partir de uma cabine montada no WC feminino do liceu que todos frequentavam. Wander Rodrigues ainda não terminou o 11º ano, mas a rigidez das Técnicas de Tradução de Francês têm-no impedido de progredir. Além disso, desempenha funções de programador cultural no Verme Parasita, trabalho que classifica como “um shot de genebra com parafinina e pimenta branca, que limpa a tripa, solta os fluidos criativos e deixa a alma manca”. Paco dava-se a conhecer como “Jobi36”, numa alusão explícita ao líder dos Bon Jovi, banda que hoje renega mas que considerou importante nos seus anos formativos, sobretudo nas aulas de ukelele. Acontecia assim a primeira troca de conceitos e formulações em volta do potrock que mais tarde haveria de marcar o percurso do caGa lumE – assim mesmo, com o “g” e o “e” maiúsculos, em homenagem à marca do desumidificador na cave, que diminui o agressivo mas reconfortante cheiro a mofo. Eliene foi a primeira a gravar uns minutos de ensaio no dictafone do mp3 e a convertê-los para wma no PC, de onde saíram para uma pen Iomega de 128 mb, com a qualidade de som possível. Foi assim que versos envoltos numa neblina bravia de neue deutsche welle com a galhardia gostosa do nhac dan toc cai bien progressista chegaram aos nossos ouvidos:

"Tapa medi! Hée, hée!
Tu, vana, tuna tuna hée hée!
Vago vago vago! Ó,ó,ó!
Tuga uga puga, dá-nos fome! Hée, hée!
A nós, dá-nos sede! Ó, ó, ó!
Dá-nos, dá-nos danos! Hée, hée!
Nós morreremos! Ó, ó, ó!"

O caGa lumE veio para mostrar por que razão não ficou na cave. O próximo passo: um download gratuito no Sapo. Em breve, Paco, Walter e Eliene estarão num patamar condizente com o seu talento. Muito possivelmente, um rés-do-chão.


P.S. Obrigado ao Y e a Mário Lopes por inesgotáveis momentos de inspiração.

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