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Não sei se é ou não é uma das melhores interpretações do ano. Não me interessam os prémios ou os números nas bilheteiras. Não quero desconstruir o que parece ser uma obra acabada. Josey Aimes, a personagem que a sul-africana Charlize Theron encarna no filme “Terra Fria”, tem tudo o que se pode esperar de um marco cinematográfico: é autêntica, complexa e tangível, vive por si própria, dispara ao coração dos espectadores e perdura na nossa memória. Naqueles 126 minutos vivemos com ela, defendemos a sua causa, sentimos a perda e a indignação. Josey ganha todo o respeito que procura no enredo e mais. O sofrimento não é elaborado, as alegrias não são caramelizadas, a determinação não é demagógica. A actriz desaparece por detrás da criação. A entrega é recompensada: participamos do desespero de uma mulher que se bate pelo direito a ser respeitada. Em última análise, eu revi-me na universalidade da sua luta. Charlize Theron pode bem ser uma das actrizes mais fulgurantes da sua geração. Não lhe perdoo ter sido uma coelhinha de uso público, em 1999, ou a lacrimejante amiga de um gorila gigante em 1998 ("O Grande Joe Young"), mas bastavam Aileen Wuornos (“Monstro”) e Josey Aimes no seu CV para a inscrever no curto rol das imprescindíveis da 7ª arte, no dealbar do novo século.
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