Não vou votar. Pela primeira vez não vou votar. Não é correcto, não creio que seja sequer uma atitude defensável. Se é um direito adquirido à custa do sacrifício de muitos, exerça-se por favor o dever herdado. Que sei eu, que já nasci embalado pela democracia. Posso questionar, no entanto. Posso dizer que estou adoentado e me custa deslocar à terra natal. Não tenho culpa se a perversidade congénita das sociedades humanas fez das suas durante séculos. Sou um pequeno germe democrático que acredita nas obrigações cívicas, em piloto automático. Talvez necessitemos que a democracia nos seja dada em forma de cápsula, com aminoácidos essenciais, vitaminas e sais minerais. Ou mesmo em carteirinhas de pó efervescente com aroma a laranja. O que me leva a pensar que o primeiro grande passo democrático de 2006 vai ter o valor nutritivo de um Sunny Delight - com todo o açúcar a que temos direito.
Entre um bode velho e desorientado, que converteu a demagogia num tesouro nacional, um poeta-alegre de intenções menos líricas, um liberal de esquerda com síndrome de Tourette (de vez em quando sai-lhe o que realmente pensa), o bom do Jerónimo e o gajo que fez do seu nome um -ismo e o cravou na memória curta dos portugueses... É incrível como os cavacos se transformam em boomerangs redentores. Alguém é capaz de me situar?
Não vou votar. Pronto. Protestar? Deixa-me ligar a PlayStation.
Faço minhas as palavras de Mãozinha, que, há uns anos, cantava:
"Eu sou da geração que perdeu o interesse."
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