3.2.12

Um ar da sua Graça


Já fui um cisne, mas fiz um "downgrade" funcional.

Goste-se ou não da personalidade em questão, a razão está do seu lado. E se há coisa que não vai influenciar minimamente nem "aproximar" a grafia (e muito menos a cultura) destas nações é o acordo ortográfico. Basta ler o mais diverso tipo de textos, escritos por "altas instâncias" administrativas e operacionais, vindos desses redutos do mais extravagante analfabetismo funcional. Juntem-se essas competências à inigualável qualidade da comunicação escrita em Portugal (ah, a cultura, o ensino, a curiosidade intelectual!) e temos uma mais que previsível esquizofrenia linguística. Primeiro há que dominar a técnica e o instrumento, para depois se atacar a sonata. Não é arrancando teclas ao piano que se aprende a tocar. O critério é essencialmente burocrático-estatístico (dizer "esilístico" seria demasiado rebuscado) e comercial. Por isso, o uso merece ser arbitrário, até não haver outro remédio. Linguística e culturalmente, esta conversão é tão relevante quanto um novo corte de cabelo no progresso individual e colectivo. E como tudo o que se fez, e continua a fazer, em Portugal, o capricho bacoco vai acabar por imperar sobre o que é certo, reflectido e fundamentado.

Não há nada de estranho em incorporar evoluções numa língua, um processo necessariamente diacrónico. Mas não se confunda essas ocorrências naturais com a bizarria que é esta óbvia despenalização da calinada, produto de um bando de tecnocratas com a mundividência de uma camilha e o apetrecho linguístico de uma colher de pau, fechados semanas a fio num gabinete interior a conjecturar, a deglutir cafés e a emborcar mini-pastelaria sortida.

Eu não simpatizo com o Vasco Graça Moura, mas ele tomou uma medida correcta e, por isso, bastante corajosa.

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