Estância arqueológica para os lados da Av. de Berna.
Ainda a propósito desta questão, transcrevo um texto que a minha cunhada V. me enviou, assinado pelo arqueólogo Manuel de Castro Nunes. Não partilho o conservadorismo quase radical do autor, mas é mais uma opinião pertinente e especializada:
"Sim. Está na moda e parece bem violar as convenções e cânones de escrita. Dispensar a pontuação, subverter a lógica da sua aplicação, ordenar os vocábulos de forma caótica numa proposição, intercalar até umas tiradas em latim, desconhecendo em absoluto a gramática latina.
É, sem dúvida, uma atitude esteticamente legítima. Na presunção de que o esteta as conhece e está no seu domínio. E tem a percepção de que, em dadas circunstâncias, as convenções e os cânones da escrita inibem a sua expressão.
Mas o que é curioso é que, da negação das convenções e cânones da escrita decorra a instituição de novas convenções e novos cânones.
Mas o que é mais curioso ainda é mesmo a moda. Aproveitando a maré, aqueles que partem do desconhecimento crasso das convenções e cânones da escrita, podem dividir-se em dois grandes grupos. Aqueles que por ignorância escrevem como calha, uma cambulhada indestrinçável de vocábulos e cúmulo e aqueles que, desconhecendo em absoluto as convenções e cânones da escrita e as razões por que foram instituídas, pretendem instituir uma nova estética literária, caracterizada pela dispensa, sem nexo nem sentido, das convenções e cânones. Ora, convém recordar que a dispensa das convenções e normas da escrita por ignorância resulta em erro. E que, para um leitor atento, o erro não passa despercebido.
Dando um exemplo, eu posso suprimir muitos sinais de pontuação, encadeando as proposições umas nas outras, de forma a que nenhuma se conclua e transite ou flua para a seguinte. Mas se, salvo raras excepções, como a da intercalação de um aposto, eu intercalar uma vírgula entre o sujeito e o predicado de uma proposição, estou a incorrer em erro. Pelo menos, devo estar apto a explicar por que razão o fiz.
Um cúmulo de vocábulos não é um poema. A não ser que eu consiga explicar e o leitor compreender por que razão os vocábulos se encontram em cúmulo e que sentido resulta desse cúmulo.
Foi também por ignorância que um universo quase incalculável de espontâneos vanguardistas aderiram ao acordo ortográfico. Por não compreenderem que as línguas de matriz portuguesa, como a brasileira, já se autonomizaram e revoltaram na afirmação da sua identidade contra a língua mãe, diferenciando-se dela em componentes muito mais significantes do que a ortografia, como são a sintaxe e a semântica.
É fácil entrar na presunção de uma nova e vanguardista elegância literária por ignorância.
Por isso, uma nova geração de arqueólogos e de poetas anda convencida de que é compreensível.
Pudera. Todos lhes batem palmas… Há até quem diga de um paper de um arqueólogo que parece uma écloga de Camões. E pode muito bem ir a Nobel."
É, sem dúvida, uma atitude esteticamente legítima. Na presunção de que o esteta as conhece e está no seu domínio. E tem a percepção de que, em dadas circunstâncias, as convenções e os cânones da escrita inibem a sua expressão.
Mas o que é curioso é que, da negação das convenções e cânones da escrita decorra a instituição de novas convenções e novos cânones.
Mas o que é mais curioso ainda é mesmo a moda. Aproveitando a maré, aqueles que partem do desconhecimento crasso das convenções e cânones da escrita, podem dividir-se em dois grandes grupos. Aqueles que por ignorância escrevem como calha, uma cambulhada indestrinçável de vocábulos e cúmulo e aqueles que, desconhecendo em absoluto as convenções e cânones da escrita e as razões por que foram instituídas, pretendem instituir uma nova estética literária, caracterizada pela dispensa, sem nexo nem sentido, das convenções e cânones. Ora, convém recordar que a dispensa das convenções e normas da escrita por ignorância resulta em erro. E que, para um leitor atento, o erro não passa despercebido.
Dando um exemplo, eu posso suprimir muitos sinais de pontuação, encadeando as proposições umas nas outras, de forma a que nenhuma se conclua e transite ou flua para a seguinte. Mas se, salvo raras excepções, como a da intercalação de um aposto, eu intercalar uma vírgula entre o sujeito e o predicado de uma proposição, estou a incorrer em erro. Pelo menos, devo estar apto a explicar por que razão o fiz.
Um cúmulo de vocábulos não é um poema. A não ser que eu consiga explicar e o leitor compreender por que razão os vocábulos se encontram em cúmulo e que sentido resulta desse cúmulo.
Foi também por ignorância que um universo quase incalculável de espontâneos vanguardistas aderiram ao acordo ortográfico. Por não compreenderem que as línguas de matriz portuguesa, como a brasileira, já se autonomizaram e revoltaram na afirmação da sua identidade contra a língua mãe, diferenciando-se dela em componentes muito mais significantes do que a ortografia, como são a sintaxe e a semântica.
É fácil entrar na presunção de uma nova e vanguardista elegância literária por ignorância.
Por isso, uma nova geração de arqueólogos e de poetas anda convencida de que é compreensível.
Pudera. Todos lhes batem palmas… Há até quem diga de um paper de um arqueólogo que parece uma écloga de Camões. E pode muito bem ir a Nobel."
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