30.5.08

Já chega!






















Quando é que se chegou a este nível de irresponsabilidade? Os franceses Justice sabem que vai haver coros de protesto por toda a parte e especialmente na Net. Sabem bem por onde o vídeo vai circular, quem o vai ver e difundir. Ou existe outra razão para “Stress” ser realizado daquela forma frenética e realista, com merchandising à mistura? Retrato social? O tanas. Aquilo é linguagem de videojogo violento com o mesmo grau de preocupação cívica. Tudo bem, ninguém pede a um videoclip que seja educativo. Mas pretender que se evoluiu do puro escapismo para o documentário é ridículo. Os vídeos vendem. Fazem dinheiro. E este é apenas mais um que, não por acaso, incomoda. Potencia uma música já de si enervante, o que torna a coisa ainda mais oportunista. Não existe contexto, não existe “mensagem”, só existe estupidez disfarçada de intenção artística. Talvez se os dois totós levassem um enxerto de porrada nas escadas do metro e lhes levassem os iPhones tivessem outra perspectiva sobre o assunto. E daí, talvez seja isso que lhes tenha acontecido. Assim se vê que é difícil retirar uma moral desta história. Não há.

(Ilustração: Tom Haubrick)

28.5.08

"I Want My MTV"



"If music video is art, it is art you can do your homework to. It speaks of a culture that loves gimmicks and quick fixes and noise. MTV has a mesmerizing effect, almost hypnotizing us and offering a visual counterpart to a drugged state. Like a dope peddler, the video station fosters addiction by promising total coverage: we can watch it all the time; we never have to give it up. It reflects our culture's fascination with and, more ominously, return to a more primitive state. There is no subtlety; every idea and theme is spelled out, not once but many times. (...) Music video is quintessentially modern because it's so thin: quickly replaced, dispassionate, disposable. In the nuclear age, MTV is us."

Matthew A. Munich

Busto no Miradouro de S. Pedro de Alcântara



"E eu que nada fiz para que me partissem o nariz."

Anselmo Roçado



O director criativo da agência de publicidade Zeus Me Ama fala do seu percurso, das suas convicções e do seu fascínio por búfalos.

27.5.08

Uma senhora não fala assim


O “comentário” de Hillary Clinton sobre a morte de Robert Kennedy, tentando justificar a persistência na corrida pela nomeação Democrata, é brutalmente revelador da personalidade desta mulher. Mas não é só isso. É uma alarvidade que ecoa nas patologias do medo e da conspiração da grande generalidade dos norte-americanos. Dos ignorantes aos manipuladores. Hillary é um pombo-correio do vale-tudo, em voo picado contra o solo. Depois de ter arrepiado a patifaria com tudo o que fez para chegar ao poder, solta agora os últimos estertores em patético desespero. Patético mas perigoso, porque, alimentando os instintos necrófagos da sociedade que pretende conquistar, traduz o que sentem os esperançosos na tragédia e os abutres noticiosos. Confesso que no começo nutri alguma simpatia por Hillary. Pura ficção. A mulher que esteve para se tornar numa figura histórica mostrou, vezes sem conta, que não passa de uma cascavel mitómana.

20.5.08

Dias 16, 17 e 18: humor me



O humor deve ser democrático, sim senhor. Tem uma função social, pois tem. Mas não me sinto especialmente inclinado para a pluralidade do riso. Não é por arrogância e a ausência de rugas de expressão denuncia esta resistência prolongada ao género. E no entanto seria desejável que me revisse mais facilmente no humor commumente praticado. Há algo no acto de rir à la carte associado a uma permissividade que não possuo. Essa permissividade é por definição um sinal de inteligência. De outra forma, tendo em conta certos temas e interpretações, seria sinal de total inconsciência. Mas a estupidez não se ri do humor com dois dedos de testa. Libertar-se de reservas, transgredir códigos auto-impostos e, não raras vezes, colocar em stand by algumas convicções profundas, requer maior maturidade e maior complacência para com a contradição humana. Tenho dificuldade em identificar o que me faz rir. Há um elemento afectivo no processo: o Herman, com quem cresci, e que foi outrora um cómico genial; o meu irmão mais velho e as suas caricaturas imprevistas; o espalhafato partilhado com quem tenho uma dada química pré-estabelecida… Se calhar é o que nasce, não de situações “esperadas”, mas de situações “desejadas”, necessárias e estabelecidas nos nossos próprios termos e no nosso próprio terreno. E depois há o plano referencial, que tem tudo a ver com a extensão raivosa das minhas crenças. A intencionalidade com surpresa, com choque, a ilustração sem barreiras de que por detrás de um homem há sempre um grande animal. Por isso, não, não me sento na plateia da stand-up comedy e muito dificilmente conseguirei fazer rir alguém que me peça para o entreter. Não é o efeito que me interessa, mas sim o propósito.

12.5.08

O milagre da criação (artística)



“All profoundly original art looks ugly at first."

Clement Greenberg

Um título inspirado


Nunca li esta revista, mas gostava. A capa, também muito boa, é de Yuko Shimizu.

Dias 13, 14 e 15: a discussão prossegue

Não gosto de stand-up comedy. Nunca consegui achar piada a indivíduos que usam como mote a sua vida ou a vida alheia para despejar uma torrente de falsa auto-deprecação e larachas mal intencionadas sobre uma audiência em delírio circense. Não me lixem, são mal intencionadas ou não haveria motivo para rir. Acho que é uma coisa muito instintiva, um reflexo zangado da sociedade e não é por acaso que nasceu nos Estados Unidos. Admito que pode tornar-se um bom laboratório para as possibilidades expressivas do corpo, da voz e da palavra, em especial no que respeita aos limites do que devemos e não devemos caricaturar. Sim, acredito que há coisas que não se devem caricaturar e que o comediante consegue, se quiser, assumir uma postura elegante. Pode ser mais difícil, pode não hiperexcitar a turba, mas é no que eu acredito. A grande maioria dos stand-up comedians que vi fizeram-me sentir constrangido e, não raras vezes, humilhado. Não por mim, especificamente, mas por ele, pelos visados, pelo oportunismo do humor e pela adesão fácil. Acredito noutras formas de catarse e noutros contextos para enquadrar a farpa, e também acredito que é possível fazê-lo ali, no palco. Criar um vácuo de permissividade é mais fácil do que deixar marcas, mas aceito que há espaço para tudo. Eu é que não gosto de tudo. Até gosto de muito pouca coisa, o que é uma cruz. Não sendo um seguidor de Seinfeld (conheço mal o seu percurso) vi coisas em stand-up que me pareceram mais próximas do contador de histórias, que sabe usar a inteligência, a malícia e a contenção para agarrar o público. E extrai humor do "quase nada", o que é dificílimo. Mas não me revejo nos estertores e nas convulsões da escola Jim Carrey, nem no ressentimento cocainizado de Denis Leary, nem no estereótipo labrego de Chris Rock. Relação com as últimas aulas? Pouca. Nilton ensinou-nos técnicas para construir piadas e dissertou sobre a envolvente destes espectáculos e confesso que achei o processo bastante duro. Um desafio menos estimulante, também. Falta aqui um elemento de identificação, pronto. Talvez devesse ser mais receptivo, mas estas especulações são a verbalização de algo que sempre senti. Penso que, na essência, tem a ver com a negação do excesso – ideológico, histriónico – e nada a ver com a gramática da encenação que assenta, precisamente, na concisão. Tiro o meu chapéu ao Nilton e aos seus colegas. Em todo o caso, e como bom dissidente, acho que andar atrás de velhinhas que se dizem perseguidas pelas torres do IST, entre outros fenómenos sociais, não é criar humor, mas sim forçá-lo. Lá está, de forma discutível.

9.5.08

"Brand America"



Foto: Michael Nalley

Relembrando Bernbach


"Advertising is fundamentally persuasion and persuasion happens to be not a science, but an art."

William Bernbach

8.5.08

E o Verbo atacou



Quilos de rodapés com espacejamentos traiçoeiros, fornadas de lagartixas em letra mínima, carradas de títulos, subtítulos e intertítulos, margens superiores, inferiores, esquerdas e direitas, esquemas, medidas, gráficos e tabelas, numerações, preços, calendários, translineações, arrobas de textos, textinhos, textúnculos, retextos e ideias à la minute. Óptimos pretextos para queimar a cabecinha toda, oferecer um rodízio de trapalhice, aturar a account neurasténica e ter uma semana de merda. Estou sozinho contra o léxico, a sintaxe e a tipografia, estou cansado como o caraças e profundamente frustrado. E querem que seja "mais criativo". E que faça um curso. Obrigado, mãezinha! Pôrra, nada a fazer, nasci para dar o cérebro de barato.

7.5.08

Crime e Castigo















Para sopeiras e voyeurs.

6.5.08

My future on prescription







LSD





Nem lendo as folhas se conseguiria descortinar o sentido desta críptica mensagem. Andam coisas no chá.

Contrição
















"Nem tudo são críticas, normalmente não são, e mesmo que sejam, porque não as aceitas? Tu também as fazes, e não tens grandes pudores na escolha de palavras..."

(Ilustração: Bill Watterson)

The fleeting sneakers



She wore a new pair of sneakers
and an always welcoming smile.

She spoke of this and that
with enthusiastic involvement.

She laughs contagiously,
which I so often forget.

She looked content
but may feel a bit sad.

She became somewhat elusive
and I can almost understand that.

But she should come around more often
in her new pair of sneakers

So that we can kick up some dust.

Nostalgia & ressentimento



Ela: “As novelas, os filmes e teatradas afins… Só sobreviveu uma K7 em mau estado.”
Ele: “Gravávamos as coisas umas por cima das outras. Não havia dinheiro para estar sempre a comprar cassetes. Nem havia máquinas fotográficas digitais, nem telemóveis…”
Ela: “E tínhamos realmente piada, apesar de putos…”
Ele: “Era uma fuga construtiva?...”
Ela: “Melhor do que fazer merda.”
Ele: “As coisas eram bem escritas. As deixas, os separadores…”
Ela: “Fazíamos uma bela tripla.”
Ele: “Sim, uma bela dupla com convidada especial. Nestas coisas era um bocado assim, não era?”
Ela: “Era.”
Ele: “E na altura éramos muito ou pouco do que somos hoje? O que é que guardámos que nos possa redimir?...”
Ela: “Os bolsos… Hum... Sabemos pedir ajuda.”
Ele: “Sabemos?”
Ela: “Não. Mas não passamos despercebidos.”
Ele: “Isso não significa muito.”
Ela: “Significa, sim.”
Ele: “E o nosso escapismo feliz?”
Ela: “É a nossa memória partilhada.”
Ele: “E não pode ser alguma espécie de futuro?...”

(Ilustração: Youko Shimizu)

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