21.11.07

Recomeço

Uma condutora bloqueada pela incapacidade de estacionar; os transeuntes riem-se, acentuando a vergonha. Não é fácil conviver com o ridículo. Sobretudo quando não se sabe estacionar. Eva Longoria derrete-se sobre um cartaz de gelados da Olá; em breve estará amarelada e será substituída pelos corantes da nova estação. Duas baterias Delphi esquecidas numa montra. Descarregadas, provavelmente. Um gandulo sobe a rua com um saco de supermercado na mão e uma sandes na outra; come vorazmente com a boca aberta arregalando uns bonitos olhos azuis. Também os gandulos têm traços redentores. Tento adoptar o mesmo passo firme e descuidado, perna aberta em arranque de patinagem. Não consigo, o meu andar é determinado mas tenso. Não sou gandulo, por hoje é a minha característica redentora. Clooney está em todo o lado a enjoar os passeios com o selo fatela de D.Juan; we get the idea, George, e se fosses receber benefícios fiscais para outras paragens? À minha frente balança uma rapariga muito parecida com D. Mais baixa, mais magra e mais feia. Sorri com uma confiança despropositada. Gostou de me ver ou compraz-se com a sua própria existência? Procuro sorrir de igual modo, mas não para ela. Percebo que nem com muito treino, só com convicção tonta. Pessoas semi-trôpegas despejam-se aos esses pela plataforma; já devia estar habituado. A faixa etária nesta estação sobe consideravelmente; chegar aqui significa não conseguir reclamar o chão? Publicidade ruidosa a um automóvel de nome improvável, com o website espanhol em evidência. Mais uma coisa bem feita. “If I Ever Feel Better”, Phoenix; que apropriado. Hoje optei por descer a rua. Está sol e para baixo todos os santos ajudam. Para baixo toda a gente ajuda. Sorri, anda lá.

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