Jan Cornet e um alguidar em La Piel que Habito
Não se pode deixar de elogiar a mudança de registo que Pedro Almodóvar adopta em La Piel que Habito, aventurando-se no território do thriller psicológico. Mostra uma vontade de se reinventar e de enfrentar novos desafios rara entre os cineastas europeus (justamente) canonizados. Nesse sentido, as fraquezas deste filme acabam por ser as suas forças: o humor negro, um cuidado cénico exemplar, que acrescenta sempre algo de original ao rico universo almodovoriano, e a elegância irrepreensível da realização. Virtudes que roubam a quota de ritmo, tensão e morbidade que uma história deste tipo exigiria. Não que Almodóvar o esqueça, simplesmente o formalismo excessivo na construção da atmosfera leva a que as personagens não recebam a atenção devida. O tom geral é de frieza, o que até se consegue entender numa história de vingança maníaca e cirurgicamente programada, mas a loucura é retratada de uma forma excessivamente asséptica, retirando quase por completo o pathos a um desenlace que, em vez de galvanizar, gera alguma indiferença. No entanto, mesmo distante e fragmentado, La Piel que Habito é um OVNI interessante no percurso do realizador manchego.
2 comentários:
Eu também gostei do filme, e sobretudo que tenhas conseguido expressar aquilo que senti.
Além disso percebi agora que escreves com alinhamento à esquerda, abençoado sejas. (manias, manias...)
Nunca tinha pensado nisso. Parece-me ser a forma mais consequente. O texto justificado parece-me uma aberração gráfica feita de fracturas e silêncios que não foram para ali chamados.
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