19.8.09

Aos meus amores



Tive de me obrigar a situar os meus afectos. Teve de ser, já não conhecia pertença e isso não fazia de mim o rebelde obscuro que julgava ser, mas sim um pobre solitário de cabeça perdida. Não posso dizer que esse caminho tenha sido uma opção, mas também não é o meu destino deambular por aí a massacrar-me com todas as causas perdidas e a questionar a transitoriedade dos sentimentos. A vida é mais urgente, e também não dura muito. Além disso estava enganado, porque há um apego, mais forte do que o tempo e mais largo do que o espaço, que, quando é preciso, nos anima, nos fortalece, dá uma expressão rica aos tons e às formas da cidade que nos cerceia, outra luz às pessoas que nos oprimem, um timbre equilibrado à razão descompassada. Um afecto tão forte que, de uma penada, nos acorda para a variedade de motivos, escolhas e alegrias. O vermelho e o preto enchem-se de nuances. Os fantasmas ainda turvam a vista, mas estão apaziguados.

Obrigado, Rita.

Pintura de Fernand Léger

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