Isto é um porco. Não parece, mas é. Estava na colecção de porcos dos meus pais. Foi uma encomenda feita aos três irmãos rapazes há mais de muitos anos atrás. Fazia parelha com um gordo porco burguês, de charuto e casaca vermelha, executado com rigor pelo Pedro, e com um porco rústico de chapéu de palha, entretanto desaparecido, bem esgalhado pelo Tiago. Sendo o mais novo e o mais incompetente nestas lides, as expectativas não eram elevadas. Mas é um porco, é. Pode parecer um mau cruzamento entre o Liberace, a cabeça de um dispensador de PEZ e um exemplo macabro de cirurgia cosmética. Mas é um porco. Lembro-me que, quando o fiz, manuseando com muita cautela aquela massa moldável de ir ao forno, quis dar ênfase ao nariz de tomada, conseguindo também encaixar uma cauda de rosca nas traseiras do bicho. É certo que não é protuberante e que parece um buraco na cabeça, mas está lá. O que faz deste boneco um porco, na intenção e na execução. Fiquei todo orgulhoso e os meus pais fingiram que estava muito bem. Os meus irmãos gozaram comigo. Ainda hoje gozam, basta mostrar-lhes o meu porco. Isto foi lá para trás das arrecadações da memória, mas recordo-me da determinação em terminar o que me era pedido e da veemência a defender este acto trôpego de criação. Numa recente viagem a Coimbra, os meus pais não só não se lembravam do porco, como queriam tirá-lo da colecção e recambiá-lo para uma das dúzias de prateleiras da casa, onde estão desterrados dezenas de bibelôs. O horror! Exigi que ele permanecesse onde estava, por respeito ao meu esforço e à minha visão. Caramba, é que é um porco! O desgaste em explicar algo que me parece óbvio tem sido uma constante na minha vida, sobretudo em tempos recentes. Mas este caso serviu para me mostrar que não é só no porco que a fêmea torce o rabo. A grande maioria das coisas que faço e que digo nunca parecem ter uma correspondência linear com a realidade. Não como as pessoas a vêem, em todo o caso. E o esforço paladino em defender os meus arbítrios é quase sempre frustrante e frustrado. O que é um grande fardo para se carregar. Mas digam o que disserem, pensem o que pensarem, é um porco, e desafio qualquer argumento em contrário.
27.3.08
A ciência de um porco
Isto é um porco. Não parece, mas é. Estava na colecção de porcos dos meus pais. Foi uma encomenda feita aos três irmãos rapazes há mais de muitos anos atrás. Fazia parelha com um gordo porco burguês, de charuto e casaca vermelha, executado com rigor pelo Pedro, e com um porco rústico de chapéu de palha, entretanto desaparecido, bem esgalhado pelo Tiago. Sendo o mais novo e o mais incompetente nestas lides, as expectativas não eram elevadas. Mas é um porco, é. Pode parecer um mau cruzamento entre o Liberace, a cabeça de um dispensador de PEZ e um exemplo macabro de cirurgia cosmética. Mas é um porco. Lembro-me que, quando o fiz, manuseando com muita cautela aquela massa moldável de ir ao forno, quis dar ênfase ao nariz de tomada, conseguindo também encaixar uma cauda de rosca nas traseiras do bicho. É certo que não é protuberante e que parece um buraco na cabeça, mas está lá. O que faz deste boneco um porco, na intenção e na execução. Fiquei todo orgulhoso e os meus pais fingiram que estava muito bem. Os meus irmãos gozaram comigo. Ainda hoje gozam, basta mostrar-lhes o meu porco. Isto foi lá para trás das arrecadações da memória, mas recordo-me da determinação em terminar o que me era pedido e da veemência a defender este acto trôpego de criação. Numa recente viagem a Coimbra, os meus pais não só não se lembravam do porco, como queriam tirá-lo da colecção e recambiá-lo para uma das dúzias de prateleiras da casa, onde estão desterrados dezenas de bibelôs. O horror! Exigi que ele permanecesse onde estava, por respeito ao meu esforço e à minha visão. Caramba, é que é um porco! O desgaste em explicar algo que me parece óbvio tem sido uma constante na minha vida, sobretudo em tempos recentes. Mas este caso serviu para me mostrar que não é só no porco que a fêmea torce o rabo. A grande maioria das coisas que faço e que digo nunca parecem ter uma correspondência linear com a realidade. Não como as pessoas a vêem, em todo o caso. E o esforço paladino em defender os meus arbítrios é quase sempre frustrante e frustrado. O que é um grande fardo para se carregar. Mas digam o que disserem, pensem o que pensarem, é um porco, e desafio qualquer argumento em contrário.
26.3.08
Dia 3: Faça-se luz
Não o esperava, confesso. O Markl tem uma presença cativante. Talvez seja a aparente inexistência de ego, o facto de não se levar muito a sério e a consciência de mero operário da escrita que, de vez em quando, até tem oportunidade de fazer coisas que lhe dão gozo. Será dos poucos argumentistas todo-o-terreno, já com muita estrada percorrida. Há algo de awkward na atitude, uma falta de à vontade disfarçada por bocas auto-
-derrisórias, apartes com piada, muitos advérbios de modo hiperbólicos (coisa tão lisboeta letrado) e tipificações apuradas dos bastidores da escrita para ficção. Mas o nerd, se é que alguma vez existiu para além do boneco criado e da renda que lhe garante, deu lugar a um sujeito que sabe o que faz, gosta do que faz – em especial da pesquisa – e é bom a transmitir o entusiasmo. As aulas começam agora a ganhar corpo e uma vertente mais prática e o gajo, lá está, sabe quando deve falar e quando deve dar protagonismo aos alunos. A descoberta de Peep Show e de Human Remains teria valido só por si a sessão, mas o Markl traz a lição preparada.
Tired, not defeated
Epifania semiótica
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Samuel Ribeyron
De: SAM [mailto:contact@samuelribeyron.com]
Enviada: segunda-feira, 24 de Março de 2008 14:11
Para: João
Assunto: Re: Bonjour - l'éloge et la question
Bom dia Joao,
Désolé je ne parle pas portugais alors je te répond en français. Merci pour ton message, ça me fais très plaisir. Pour répondre à ta question, tu pourra trouver les cartes à partir de décembre 2008… Je sais qu’elles seront distribuées dans les pays francophones, mais je ne pense pas au Portugal. Tu pourra te renseigner sur le site des éditions... http://www.claire-vision.be/fr/
Sinon, les peluches ne sont pas en ventes, ce sont uniquement des prototype et sur Amazon tu trouveras plusieurs de mes livres pour enfants.
Vraiment merci encore de ton intérêt pour mon travail.
Cordialement
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samuel ribeyron
contact@samuelribeyron.com
www.samuelribeyron.com
Ana, Tiago e Ana Rita (e Rita, que eu sei que gostas destas coisas), dêem uma olhadela que vale a pena.
Enviada: segunda-feira, 24 de Março de 2008 14:11
Para: João
Assunto: Re: Bonjour - l'éloge et la question
Bom dia Joao,
Désolé je ne parle pas portugais alors je te répond en français. Merci pour ton message, ça me fais très plaisir. Pour répondre à ta question, tu pourra trouver les cartes à partir de décembre 2008… Je sais qu’elles seront distribuées dans les pays francophones, mais je ne pense pas au Portugal. Tu pourra te renseigner sur le site des éditions... http://www.claire-vision.be/fr/
Sinon, les peluches ne sont pas en ventes, ce sont uniquement des prototype et sur Amazon tu trouveras plusieurs de mes livres pour enfants.
Vraiment merci encore de ton intérêt pour mon travail.
Cordialement

samuel ribeyron
contact@samuelribeyron.com
www.samuelribeyron.com
Ana, Tiago e Ana Rita (e Rita, que eu sei que gostas destas coisas), dêem uma olhadela que vale a pena.
20.3.08
O Principezinho e o pecado social III
Lengalenga
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De: A.
Enviada: quarta-feira, 19 de Março de 2008 11:30
Para: João
Assunto: RE: um desabafo
Caro,
Vejo que as nuvens negras que me assombram também se passeiam pelos teus céus. (Acordei poeta!).
Já que abrimos o garrafão das lamúrias, digo-te que por aqui também se faz um esforço para manter os níveis de ansiedade abaixo do nivel de perigo.
Se mais nenhuma ideia brilhante houver, sugiro dormir bem e procurar manter interesses fora dessa realidade para que a coisa não pareça absoluta.
Não consigo evitar a veia de conselheiro…
Hang in there.
De: J.
Enviada: quinta-feira, 20 de Março de 2008 11:21
Para: A.
Assunto: RE: um desabafo
É inelutável. Entenda-se o meu mail como uma espécie de ventilação forçada. Tem a ver com a total ausência de tempo(s) de lazer, a existência redundante e a saturação generalizada - do local de trabalho, do tipo de trabalho, das pessoas no trabalho, da cidade, da loucura ensardinhada... Deixas de ter objectividade, de encontrar relevância naquilo que fazes, incapaz de te distanciares e avaliares as tuas competências, de sentir ou saber se consegues dar melhor (e não mais, mais!), mas raspas até não haver fundo e os teus olhos estão em chama e a tua capacidade de interagir desvanece. Como agravante, a indiferença dos outros arranca de vez a ficha da tomada. É patético aquilo em que nos tornámos. A desproporção entre o que se ganha e o que se faz não suscita revolta, porque a resignação é a melhor conselheira e afinal até temos sorte. O que não paga as contas nem melhora a qualidade de vida mas dá-te um conforto maneirinho e agradecido. Foi um desabafo, pois. O consolo doméstico é muito curto e falham todas aquelas aptidões relacionais que permitem manter um equilíbrio justo. O desprendimento devia ser fácil, perante a constatação de que não mudas nada, não vai mudar nada e a resistência é inútil (e perigosa). É preciso deixar de acreditar, teimosamente, que se tem razão. Afinal, o que é a experiência? Aí está uma resposta que gostava de ouvir, sem demagogia nem ilusões. É inelutável, portanto não tens que relativizar nada, já está tudo relativizado. A questão está em percebê-lo, aceitá-lo e saber viver com isso. Mesmo que tal implique, para a grande maioria de nós, viver uma existência suspensa de objectivos ocos. Vivam os filhos. E a serotonina. O que mais me lixa é não conseguir pensar um pouco mais além. Só um pouco.
17.3.08
Num filme sempre pop
“Como nunca o viu”, anunciava o programa de TV.
Francamente, eu não tenho visto outra coisa em plano-sequência: um azeiteiro
emproado com diploma de cretino, um retangueiro fedorento, resíduo tóxico, parrameiro inútil, manifestação pífia da criação, sabujo bigorrilha, candidato a maior caga-loas da “moderna” política portuguesa. Se isto fosse um país a sério e não o último covil dos trolls, tinha-lhe passado por cima uma multidão civicamente em fúria na Meia-Maratona de Lisboa, em vez de assistirmos agoniados a lambidelas à barba das sopeiras, passou-bens aos grunhos excitados e sorrisos esverdeados para a fotografia. Em vez de poliglota era agora politraumatizado e estava-se bem.
Sobre Menezes não me pronuncio. Seria um desperdício de relevância.
5 músicas para enfrentar a chuva
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Hercules & Love Affair, “Blind (Frankie Knuckles Remix)”
A Fine Frenzy, “You Picked Me”
Sébastien Tellier, “Pomme”
Frida Hyvönen, “You Never Got Me Right”
Kem, “You Might Win”
Alex, agora só tens de investigar e ver se te agrada. Sugestões da semana e uma boa ideia para dar uso polivalente a coisa tão anacrónica.
My only saving grace
It always makes me cry. As it did today.
Parabéns. E obrigado, sempre, por tudo.
Do México, com amor
De: Judith Arámburu
Enviada: sexta-feira, 14 de Março de 2008 21:23
Para: João
Assunto: Re: olá
desculpa, mas o mail que vai pensar que é de ana, nao é.
eu sou uma mulher mexicana, assim, de favor, nao escrevas mas ao meu correio eletrónico, e procura saber qual é o correio da tua conhecida ana.
obrigada.
Enviada: sexta-feira, 14 de Março de 2008 21:23
Para: João
Assunto: Re: olá
desculpa, mas o mail que vai pensar que é de ana, nao é.
eu sou uma mulher mexicana, assim, de favor, nao escrevas mas ao meu correio eletrónico, e procura saber qual é o correio da tua conhecida ana.
obrigada.
14.3.08
Keep it that way, kid
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Joseph Gordon-Levitt é um dos actores mais talentosos da sua geração, tem carisma, faz escolhas inteligentes, desenvolveu um site com piada e diz coisas agradavelmente discutíveis.
“Actors didn't use to be celebrities. A hundred years ago, they put the theaters next to the brothels. Actors were poor. Celebrities used to be kings and queens. Then the United States abolished monarchy, and now there's this coming together of show business and celebrity. I don't think it's healthy. I don't want to sound self-important, but all these celebrity shows and magazines - it comes from us, from Hollywood, from our country. We're the ones creating it. And I think it works in close step with a lot of other bad things that are happening in the world. It promotes greed, it promotes being selfish and it promotes this ladder, where you're a better person if you have more money. It's not at all about the work itself. Don't get me wrong. I love movies. But this myth of celebrity has nothing to do with movies.”
O Principezinho e o pecado social II
Semântica
13.3.08
Dia 2: Take it easy
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