30.10.06
Zoo TV
Até quando nos vai o nepotismo mediático submeter ao horror de contemplar a Manuela Moura Guedes? Muito bem. A pobre não terá culpa de ter sido vítima da miopia do seu cirurgião plástico. Nós também não. Não temos culpa dos talhos e retalhos, inchaços e desinchaços que transformaram aquela bocarrona gulosa numa carantonha de pavor. Não se sabe se foi para desviar a atenção das dimensões despropositadas das suas interpelações, se para evitar que o público se ativesse a pormenores de somenos – inexistência de bom-senso, de fundamentação sólida, de coerência –, se pressões inelutáveis a levaram a retardar a marcha do tempo… Certo é que a boa e velha Manela não só tem agora a aparência de uma alcachofra gelificada – num corpo muito respeitável, reconheça-se – mas, pior, muito pior, continua a ser a mesma chanfradona incontrolável de outrora. Uma vedeta sem causa que ganhou protagonismo graças à mente enferma do mercenário mor do audiovisual português. Antes disso, enquanto aguardava na sombra do marido, o mamute dos noticiários nocturnos anunciava o Persil e, pelos vistos, andava a snifar a coisa, a ver pelas entrevistas que concedeu na época. Deprimida ou não, com rosas ou com cardos, com bisturi ou sem bisturi, por favor, já chega. Não impinjam ao povo a Manela, caracterizada como uma empanada expressionista, a mostrar as cuecas num vestido de prom queen. Muito menos enquanto entoa, com um solfejo soturno, melodias do André Sardet. Tanto constrangimento pode causar úlceras.
À procura de Ed
Há já algum tempo que não vemos Edward Norton num papel à altura do seu talento. Há já algum tempo, aliás, que não vemos Ed Norton em lugar nenhum. Se ninguém deu por ele em “Reino dos Céus”, de Ridley Scott, é normal. Desde logo porque quase ninguém deu pelo filme, protagonizado pelo protozoário Orlando Bloom, mas, para quem viu, o papel de Rei Balduíno IV (o Leproso) obrigou-o a usar uma máscara permanente e a alterar substancialmente o tom de voz e a elocução. A sua interpretação (assim como a de Eva Green, que encarna a sua irmã Sibila) foi largamente cortada na versão que estreou nos cinemas. No director’s cut de 195 minutos é agora possível avaliar a intensidade e a dimensão trágica das interpretações de Norton e Green e ver o filme sob uma nova luz. Ed Norton continua a ser, aos 37 anos, uma das grandes esperanças do cinema americano, mas tem preferido adiar o papel de estrela para investir na integridade artística – o que significa, muitas vezes, entrar em conflito aberto com realizadores e produtores, reescrever guiões e retirar o seu nome dos créditos dos filmes (guia prático: “Golpe em Itália”, “América Proibida” e “Reino dos Céus”). Em 2006 regressa em três fitas: “O Ilusionista”, prestes a estrear entre nós, uma adaptação de O Véu Pintado, de W. Somerset Maugham, com Naomi Watts, e Down in the Valley, onde o seu desempenho de um homem mentalmente desequilibrado lhe tem valido os maiores elogios. Para muitos, porém, o seu melhor filme até à data é “A 25ª Hora”, drama que traz a assinatura de Spike Lee.
Lee referiu por diversas vezes que este é o filme da proclamação de amor a Nova Iorque, por entre as nuvens negras do pós-9/11, numa ode visceral à sua diversidade, às suas contradições e aos seus traumas. As personagens de “A 25ª Hora” carregam o peso da revolta, da confusão e da dor pelas ilusões perdidas. Figura emblemática: o Morty que Edward Norton interpreta com enorme garra – um homem inteligente que poderia ter uma carreira mas que tem, em vez disso, uma pena pendente de sete anos de cadeia por tráfico de droga. É aos últimos momentos de liberdade de Morty que assistimos, por entre cantos familiares da Big Apple, povoados de personagens disfuncionais: o pai (Brian Cox), os amigos Jacob (Philip Seymour Hoffman) e Slaughtery (Barry Pepper) e a namorada, Naturelle (Rosario Dawson), que o fazem sentir, de forma dolorosa, que a inocência é irrecuperável. Restam ambições inúteis e desfeitas e o afecto pelas coisas passadas. Num cenário de desolação moral, um drama duro e directo que não deixa ninguém indiferente.
Até ao nosso reencontro com Ed, um filme para rever e admirar a sua excelência.
27.10.06
E a Terra tremeu
Se a contemplação do arrojo desta capa não for suficiente para vos convencer da importância das artes gráficas na manutenção de um certo equilíbrio tectónico, mais informações sobre esta arrasadora performer aqui.
Notícia do Além
Volta e meia somos surpreendidos com pérolas destas. Na secção “TV e RÁDIO” do Público, há algumas semanas atrás, o repórter anunciava, de forma implícita mas resoluta que: a) Cameron Diaz havia falecido mas conseguia comunicar (pior: apresentar queixa!) além-tumba; b) Cameron Diaz nunca esteve viva e nós somos o Haley Joel Osment, acabadinho de acordar para a realidade. Do mau jornalismo.
Temperamental
O sol de hoje potenciou as sinapses químicas no meu sistema nervoso central. O monopólio da disforia foi momentaneamente dissipado. É necessário descentralizar o poder e dou as boas vindas as esta presidência aberta. Mesmo que dure só o fim-de-semana já valeu a pena. Viva o Outono com os seus entrecortes.
25.10.06
Queixume
Bebé
Toda esta composição (incluindo as oportunas beiçolas lascivas) denota uma marotice premeditada, ou é só impressão minha? O copy está particularmente bem conseguido. Força, Mantorras, não te acanhes e arrasa com o derradeiro tabu. Se a Bibi era considerada um mulherão por que razão não o há-de ser a filha do Nené – mesmo parecendo que chocou de cara com uma prensa metálica?
Selvagem
A propósito do Massacre
Estreou há duas semanas nos EUA a prequela de Massacre no Texas, The Texas Chainsaw Massacre: The Beginning. Se desta versão pouco se espera, em face das críticas e da adesão do público, já a revisitação daquele filme de culto em 2003 (então com 30 anos), atingiu outro patamar de sucesso. O original de Tobe Hooper (autor do infame Poltergeist) provocou uma autêntica revolução no género e abriu um novo capítulo na história do cinema de horror. Seria difícil fazer-lhe justiça, mas o remake realizado pelo alemão Marcus Nispel (oriundo da publicidade e dos videoclips), sob a égide do não menos infame Michael Bay, produtor de serviço, apresenta um bom trabalho de recuperação das raízes tenebrosas dos clássicos de terror dos setenta, graças à violenta intensidade dos cenários, a uma hábil utilização do subjectivo e a uma maior economia do gore, aplicada clinicamente às situações mais brutais, mantendo sem esforço um ambiente sufocante e assustador. Com desempenhos invulgarmente realistas de Jessica Biel, Jonathan Tucker, Eric Balfour e Erica Leerhsen, um brilhante trabalho de fotografia de Daniel Pearl (também vindo do universo musical e habitual colaborador de Nispel) e do director de arte Scott Gallagher, The Texas Chainsaw Massacre é um espectáculo de terror puro, só para estômagos fortes. Uma sugestão para os dias de tráfego intenso no videoclube mais perto.
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