5.8.06

Os nossos valores: Vasco Pulido Valente

O Vasco Pulido Valente escreve bem. Muito bem até. Carrega nos adjectivos pejorativos, mas o traço grosso é, precisamente, a sua habilidade principal. Sucinto e cortante em relação aos assuntos que aborda, sejam a eterna barbárie no Médio Oriente, o estado da nação, a época de saldos ou os transportes públicos, VPV destaca-se pela total ausência de objectividade. A sua prosa, envolta numa névoa de SG Filtro e Jack Daniel's, destila verrina, espelhando uma desagregação pessoal e social que lhe confere um estatuto quase transcendente. É no seu dedicado e aceso pessimismo que encontro resposta para muitas das minhas ânsias – tal como o medo, também a prosa de VPV é irracional. A minha primera leitura no Público, às sextas, é a sua crónica. A irascibilidade é para VPV uma religião, e de tal forma loquaz que nos dá vontade de pontapear a senhora do quiosque e responsabilizá-la pela impossibilidade de conciliação nacional. Vasco faz-nos sentir tão mal que faz bem. Somos todos filhos do Pedro Costa com a Teresa Villaverde. Somos D. Pedro e D. Miguel à porrada, o marechal Junot e a fúria sanguinária dos autóctones, o neo-realismo e as comédias de Arthur Duarte, o Velho do Restelo a navegar no "Barco Negro" com o Diabo vicentino... As crónicas de VPV são, narrativamente falando, uma mise-en-abîme da nossa História. Como tal, de uma coerente incoerência.
Nunca o detestar foi tão perseverante. VPV é o Quixote do negativismo, característica acentuada pela confiança num PSD renovado. O optimismo, em Vasco, é mais mitológico do que a Fénix. E por ser, provavelmente, o português mais azedo de todos os tempos, merece a nossa admiração e o título vitalício de Grande Coalho Nacional.

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